Fundador e dono de um dos mais referenciais templos da música eletrônica, o D.Edge, em São Paulo, Renato Ratier atua em diferentes frentes do filão cultural. Da moda ao turismo, passando logicamente pela música, mas também pela gastronomia e o design de interiores, não há território onde ele não tenha avançado com suas criativas ideias. O D.Edge, casa que ele abriu primeiro em Campo Grande, cidade onde cresceu, e que depois aportou no bairro da Barra Funda, está prestes a ganhar uma filial no Rio de Janeiro, depois de ter se desdobrado em outras frutíferas investidas: um selo, uma agência e uma escola de DJs.
No meio de tudo isso, ele nutre uma consolidada carreira como DJ e produtor, que começou em 1996. Em suas turnês, além de apresentações em todos os cantos do Brasil e América do Sul, já passou por grandes clubs e festivais nos Estados Unidos, Europa e África. Seu estilo, que passeia pelo electro, techno, disco, deep house e o minimal, pode ser conferido em registros como a compilação Brazilian Gigolo (Gigolo Records), os EP’s Soul Machine (D.Edge Records) e True Love (Light My Fire), o single “21” (Warung Records) e o mais recente trabalho, o long-play Black Belt (D.Edge Records), que saiu em outubro do ano passado.
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Sempre com a rotina tomada por compromissos, o magnight, também sócio do club Warung, em Santa Catarina, finalmente arrumou uma janela em sua agenda e colou na redação do THUMP para um (vários) café e um (longo) bate-papo. Olho no olho, sem a impessoalidade de uma entrevista por escrito ou a frieza imposta por uma ligação telefônica. Achei legal da parte dele ter vindo até aqui, e inclusive me surpreendeu sua disposição para tanto. Geralmente é o repórter quem acaba manejando seus afazeres para conseguir realizar de corpo presente uma pauta como a que propomos: pegando o gancho das 14 festas de comemoração aos 14 anos do D.Edge, convidamos o Renato para falar de tudo um pouco.
Exibindo simpatia, o cara mostrou-se totalmente disposto a desenrolar um verbo desarmado. E não só a respeito da trajetória e conceito do club que ajudou a redescobrir o potencial baladeiro daquele até então esquecido bairro da zona oeste paulistana, mas também de lances pessoais e sua íntima relação com a música e todo tipo de manifestação criativa, interesses que o atraem desde a infância. A prosa fluiu naturalmente ao longo de mais de uma hora pelos seus diferentes negócios como artista e empreendedor. Desde que comecei a escrever sobre música, vira e mexe me cai no colo algum tema vinculado a ele para noticiar, mas nunca tinha rolado a oportunidade de uma conversa como a que vocês podem ler abaixo, mais solta. Renato Ratier transmite em sua fala a eloquência de um sujeito obstinado, catalizador de tendências, apaixonado pelo que faz, incansável e completamente louco por música.
THUMP: Bem, este ano o D.Edge comemora 14 anos de vida. Com qual dos projetos atualmente na programação a casa abriu, você se lembra? Eu acho legal o fato de a casa conseguir manter os mesmos projetos desde o início, na contramão de outros clubs que acabaram tendo que reciclar a proposta de suas noites a fim de manter o fluxo de público. A que se deve isso, em sua visão?
Renato: O D.Edge foi inaugurado numa festa que não era nenhuma dessas que estão na programação atualmente, era uma festa com os residentes, e rolou discotecagem de vários DJs, pois era uma forma de trazer uma amostragem de tudo o que acontecia na casa. Foram duas festas de inauguração, só para convidados. Acredito que o sucesso de projetos como o Mothership, Freakchic, On The Rocks, que se mantêm firmes desde o início da casa, tem a ver com o fato de que nenhum deles fica estanque dentro de suas respectivas propostas. O Mothership, por exemplo, é uma noite mais direcionada pro techno, mas desde que começou já sofreu várias mudanças de modo a acompanhar a evolução dentro do estilo. Eu não tenho conhecimento de outro club que tenha projetos tão longevos, porém sem mudar o conceito e deixar de acompanhar a evolução de cada gênero. Então, todo o nosso trabalho é em cima do que nós acreditamos. Não é aquela coisa de apostar agora numa história, e depois aposta em outra, e depois em outra, sem às vezes esperar o resultado de cada noite e já sair mudando. Tem um trabalho de acreditar naquele estilo, naquele segmento musical, e investir nele.
A ampliação do D.Edge tirou um pouco daquele clima underground que rolava no começo, e o público também se tornou um pouco mais diverso. Nem todo mundo que frequentava o club em sua primeira fase, quando a galera se conhecia e se reconhecia, viu isso com bons olhos…
Quando nós ampliamos o D.Edge e abrimos os novos ambientes surgiu um movimento de pessoas interessadas em conhecer a casa, e isso foi realmente um truque a fim de trazer um público fresco e levar o nosso conceito a um número maior de pessoas. Foi um objetivo programado, mas nós não mudamos a nossa proposta. O que fizemos foi levar o nosso conceito para um número maior de pessoas. Eu acho que esse povo mais das antigas tem que saber receber o público novo também, e acabar, entre aspas, mostrando, informando, acolhendo essa galera na cena… porque ninguém nasce pronto, né. Às vezes as pessoas se intitulam mais entendidas do que outras, só que não existe um teto para o quanto você sabe a respeito de música ou quão moderno você é. Eu acho isso muito chato, de as pessoas se colocarem numa posição tipo “Ah! Eu sou mais descolado, sou mais entendido”. Porque tudo é relativo na vida. A filosofia principal do D.Edge sempre foi a de ser um club democrático, onde a gente pode abrigar, acolher, mostrar e compartilhar nossa cultura com as pessoas. Isso é mais importante do que querer ser o underground do quarteirão, ou o clã de iluminados mais à frente. Eu acho que essa é uma atitude elitista e preconceituosa. O ideal é que todos se respeitem dentro daquele ambiente. O protagonista da história é a música. A principal característica dos novos tempos é esse respeito às diferenças. Pessoas que chegaram com outra bagagem e não tiveram a oportunidade de vivenciar o que já vivemos, têm o direito de conhecer com o tempo. Nós até retratamos um pouco dessa filosofia em cima de umas festas que fizemos com o nome D.Edge Religion: a abrangência de diferentes vertentes e estilos. Esse é o principal norte da casa.
Como é feita a curadoria de programação do D.Edge, de modo geral?
O D.Edge tem uma programação bem equilibrada. A gente não busca só estar o tempo todo à busca de nomes novos, e também não trabalhamos somente em cima de nomes consagrados, os chamados sellers. É uma mistura, como no projeto que temos chamado Legends, dedicado aos artistas que formam a base. E também apostamos em tendências, trazendo um novo DJ que está despontando lá fora, por exemplo, mesmo a um custo alto e sabendo que não teremos um retorno naquele momento, porque é importante trabalhar isso. Um exemplo de aposta que deu certo com o tempo é a noite de segunda-feira dedicada ao rock, a On The Rocks. Em 2003, não tinha festa de rock em São Paulo com esse formato, mas logo depois bombou. Nos dois anos seguintes, pelo sucesso que ela teve, começaram a pipocar várias outras noites.
Uma coisa que diferencia o D.Edge é a sua preocupação com a acústica e a iluminação, combinada a uma ambientação bem arquitetada e hospitaleira. Queria que você comentasse isso. Você tem um interesse especial por design de interiores?
Na verdade eu tenho uma preocupação pessoal com isso, sim. Fiz curso de Interior Design na Califórnia, e é uma coisa que eu gosto. Acho sempre pertinente, gosto mesmo. Ao mesmo tempo que o D.Edge é um lugar simples, no sentido minimalista, acho que acaba sendo sofisticado e chique pela objetividade do espaço, e isso funciona. Pode ver que são poucas as noites que ficam abaixo da nossa expectativa. Você pega uma noite de segunda-feira, fria, chuvosa, que você fala “Caramba, vai ser um problema”, mas vai ter lá 250 pessoas, e essas pessoas não vão ficar com aquela sensação de que “Ah, acabou a festa, micou, não rolou”. Toda festa rola. Você pega uma sexta-feira, com um monte de coisas acontecendo na cidade, e mesmo sem uma grande atração internacional bombada a casa vai abrir, vai ter horário, vai fechar 7h/8h da manhã, as pessoas vão se divertir. Porque elas sabem o que vão encontrar e não se decepcionam. A gente entrega a festa. A preocupação com a qualidade acústica e o aconchego dos ambientes é tamanha, que já tivemos uma lista muito grande de artistas que tocaram sem cachê. Você pega desde Richie Hawtin, Miss Kittin, Sven Vath, cara, é uma lista que compila aí mais de 100 pessoas que já se apresentaram no club espontaneamente, sem receber, indo só pra tocar mesmo, porque sente prazer em tocar lá.
Como foi o seu primeiro contato com a música eletrônica?
Eu não consigo separar exatamente, fazer uma cronologia, de quando eu comecei a curtir música eletrônica. Eu sempre gostei de todo tipo de música desde a minha infância. Minha mãe tocava órgão, e a música sempre foi presente na minha casa, em Campo Grande. Ia um pessoal tocar lá em casa que não tinha nada a ver com música eletrônica, tocavam tipo uns conjuntos paraguaios de fim de semana, que meu pai gostava. Quando comecei a comprar discos, eram de todos os gêneros. Nos anos 1970, com a disco e tudo, eu já ia em matinê, quando eu era moleque, com 14 anos. Aos 16 já dava aula de break pros meus amigos, brincando em casa. Na verdade, até hoje eu não separo isso. Pra mim música é música, e é isso. Se ela é feita no computador ou se é acústica, não importa. Sem contar que tem uma porrada de coisa de dance music feita com baixo, guitarra, bateria e vocal.
Quando você era mais novo e frequentava as festas, antes de ser DJ e vir a trabalhar com isso, qual era o seu rolê? Digo, você tinha uma galera com quem saía?
Eu sempre fui um cara de transitar entre as turmas. Acho que esses clãs que se formam nos clubs e festas, essas turminhas, tipo a galera da caixa da direita, a galera da caixa da esquerda, isso eu acho legal. Mas não é o meu caso. Quando voltei pro Brasil depois de morar nos Estados Unidos, em 1995, eu tinha amigos que eram desde modelos até a galera do Cabral, que era aquela coisa mais playboy. Então eu ia nesses lugares, e ia no Hell’s também. Conhecia todo mundo, mas não fazia exatamente parte da turma. Conhecia os DJs, a Vivi Flaksbaum, que é minha amiga, hoje é promoter da On The Rocks, ou a Adriana Recchi que era hostess do Hell’s, amiga minha também. Várias vezes eu vinha pra São Paulo, quando trabalhava com moda e saía pra comprar as coisas, e ela até ia comigo. Mas, mesmo em Campo Grande, nunca fiz parte de um rolê só. Lembro que tinha duas turmas nas festas: o povo que curtia som de rádio, que eram os playboys, tudo molecada, aqueles caras que faziam natação (risos), e tinha uma crew que o pessoal chamava de “cocada”. Eram os caras que andavam numas barcas, uns landauzão, e que eram mais underground. As duas turmas brigavam, de porrada até, só que eu não tinha treta com ninguém, transitava entre os dois grupos. Tenho uma puta preguiça de fazer parte de grupos. Eu sempre gostei de moto, por exemplo, aí tinha aquela galera que queria fazer jaqueta de clube de moto, turma de moto, e eu falava “Cara, eu não vou fazer parte dessa parada aí”, porque eu fico andando sozinho na minha onda, sou livre, sou aquariano, e o meu negócio é interagir. Isso eu acho uma puta besteira. Assim, até respeito, mas estou mais pra missionar essa história toda do que ficar ali participando de um negocinho, quero transmitir um outro discurso. Acho que a interatividade, sim, é interessante. Senão as pessoas se fecham em ideias. A partir do momento que você conhece outras pessoas, que você troca informação, aí fica tudo fica mais rico, mais interessante.
Como você faz para não se perder entre o Renato DJ, produtor musical, festeiro, e o Renato empresário, investidor, administrador de diferentes negócios?
O meu lado profissional é ao mesmo tempo muito emocional, muito de idealizar, de ser um sonhador, de ter um ideal. Claro que existe o cerebral, mas existe muito a emoção, o lado artístico também junto disso, não só aquela coisa do tipo “Vou desligar a casa às 6h da manhã porque vai cair o consumo, não vai vender, e eu vou ter que pagar hora extra pros funcionários”. Pô, se tá todo mundo se divertindo, caiu o consumo, mas as pessoas estão curtindo a experiência, é isso que importa. Quando penso em tocar ou fazer uma festa, só quero que a balada seja tão boa que não tenha como eu não me divertir. Do contrário, estaria sendo falso, estaria fazendo uma coisa que não sou eu. Se estou me divertindo de fato, qual é o termômetro da qualidade da festa? É o meu.
Mas você às vezes não pensa em dar um slow down nos negócios? Isso não te desgasta?
Ah, eu me sinto desgastado, sim… Mas é que às vezes, algumas festas ou coisas que estão acontecendo, acabam também virando o combustível que me reabastece. Por exemplo, na última sexta-feira eu acordei cedo, trabalhei o dia todo, fiz academia, participei de reuniões, uma atrás da outra, daí fui tocar em Cascavel, no Paraná. Toquei num projeto que era só eu, all night long. Comecei à 1h da manhã e acabei às 8h30. Aí eu fui pro hotel, tomei banho, arrumei minhas coisas, vim pra São Paulo. Foi o tempo de eu chegar aqui, fazer uma reunião, e já sair pra tocar numa outra festa. Tentei descansar, o telefone não parava de tocar, pessoas ligando pra lista e tudo mais. Fiquei o tempo inteiro ali colocando os nomes, trabalhando em cima da noite, aí comecei a tocar às 6h da manhã e fui parar 12h30, cara. Então, assim, eu me doei nos meus compromissos pra que a festa acontecesse… A gente se desdobra, mas quando você tem um feedback positivo do público e sente que fez aquilo e conseguiu dar conta, isso te dá uma vitalidade. Você pensa: “Porra, eu consegui! Foda!”. Sobre o cansaço físico, com o tempo você vai ganhando uma resistência diferente. Um cara que não tem o mesmo preparo de noite que eu, de tocar tanto tempo, de ficar a noite sem dormir, ele não consegue. Mas depois que você já ficou várias noites sem dormir, que você já faz isso há anos, vai ter uma resistência pra isso que outras pessoas não têm. Você cria esse condicionamento, é um condicionamento de noite que só a noite que te dá. Existe mesmo, sabe?
Só que como você faz para resguardar aquele momento na sua rotina em que você vai parar e focar no desenvolvimento do seu lado artístico?
Quando chego em casa tenho a meta de escutar mais ou menos 250/300 músicas por semana. Pego a pesquisa de quinta-feira e escuto tudo. Às vezes, chego em casa já cansado, e admito que ter que escutar todo esse repertório acaba sendo, entre aspas, uma obrigação. Não queria que fosse assim, né, queria que fosse sempre prazeroso. Eu costumava dormir todas as noites escutando música. Isso é uma coisa da minha vida, da minha infância. Minha mãe falava “Nossa, como pode?”. Hoje em dia nem sempre a música é tão prazerosa para mim como antes. Mas, quando eu tô tocando, poucas vezes isso acontece, então acaba valendo a pena. Tinha uma época que eu tinha acabado de operar. Operei da coluna numa quinta, quando foi na terça, não tinha dado nem cinco dias de recuperação, já tava tocando. Eu estava com esse problema de hérnia, sentia dor pra caralho, mas não parava de tocar, e o pessoal falava “Cara, você tá mal, você tá louco?”. E eu retrucava: “Essa hérnia cutucou o cara errado” (risos). Ao mesmo tempo que sentia dor, eu tinha uma ira, pensava: “Porra, vou continuar!”. Daí abaixava a calça ali no meio da cabine, passava o gel, massageava e falava “Vambora!”. Era tipo uma superação, uma prova. Que eu ia vencer aquilo e que aquela porra não ia me derrubar. Tem muito disso na minha vida, de desafios. Quando comecei a fazer as festas em Campo Grande, em 1996, todo mundo falava “Cara, você é louco! O que você tá fazendo? Isso não existe aqui, é terra de sertanejo e você vem com esse negócio?”. E eu sempre insisti, acreditei muito nisso, então tem uma coisa de persistência. Tem gente que pensa que eu dei sorte. Mas isso não é sorte. Eu fui lá plantar no deserto. Fui procurar desenvolver aquilo, não foi um acaso. Foi uma busca mesmo, acreditando naquilo.
Então, na sua vida, o seu lado business acaba sendo indissociável do seu lifestyle mesmo, não é?
Sempre quis desenvolver isso como um movimento de vida. Desde moleque eu pensava assim, não tinha outro caminho. Sou empresário, mas antes de tudo sou um party people, eu adoro essa porra de música… Isso não é uma simples opção de negócio, não. É uma coisa de ser feliz fazendo isso e ver as pessoas felizes. Só que não no sentido de ficar olhando de longe, mas sim e estar participando com elas, compartilhando.
Quais são suas frentes de atuação atualmente com a marca D.Edge?
Dentro do guarda-chuva do D.Edge tem o club, tem a D.Edge Agency, que atualmente conta com mais de 100 artistas, uma parada que é outro negócio, com outra razão social e tudo. Tem o selo, que também toma um tempo, e tem a escola de DJs (D.Edge College). Fora isso, sou sócio do club Warung, lá em Itajaí (SC), que também tem uma gravadora.
O som que rola no Warung segue uma linha diferente do D.Edge?
O perfil de som é o mesmo, tanto que os mesmo artistas que tocam no D.Edge tocam lá também. Eu que sou o administrador do club lá e faço a curadoria artística. É muito parecido. Foi um pouco diferente antes, mas depois desses três anos e meio que eu tô lá o lance é muito alinhado com a programação do D.Edge.
A última entrevista que li sua falava sobre um superlativo empreendimento em Berlim…
Esse é um negócio do qual eu participo chamado Holzmarkt. É uma coisa que já existe, mas segue em desenvolvimento. Isso é uma coisa grande, onde era o Bar 25, são 18 mil metros quadrados, tem club, hotel, bar, prédio para estudantes de arte, com a prefeitura investindo. Trata-se de uma coisa orgânica, então ele vai crescendo e se abrindo. Esse ano vamos abrir o bar, e no ano que vem ou final deste abrimos o club. Por lá já rolam alguns eventos e festas open air, porque ainda está em construção, e a ideia é que ele vá crescendo organicamente.
Você continua ligado a outros negócios fora do âmbito musical?
Acabei de desfazer minha sociedade numa agência de turismo, chamada The Dream Makers, e agora vou voltar pra essa área com a The Travel, estou apenas esperando encerrar esse processo definitivamente. Daí estamos em construção lá no Rio de Janeiro, com um espaço cultural, que não é só um club. São cinco andares, com galeria de arte, estúdio, um restaurante, que é o Bossa, um café… Rola também uma loja, em parceria com a Livraria Travessa, um lounge com uma pistinha, além da parte de cima que é pista, um club, e vão rolar outras atividades culturais, como shows e teatro. O club vai se chamar D.Edge, mas estamos com alguns estudos para o nome que o complexo todo terá. Estarei lá com a loja da minha grife, a Ratier, a qual vou lançar aqui também. Tô voltando a trabalhar com moda, trabalhei já com isso no passado durante mais de dez anos. Essa grife minha será só masculino e home. Vai ter outras peças de multimarcas, umas coisas pra casa, coisas feitas não só por mim, mas em parceria, coisas de fora que vou importar. Já tem umas pessoas fazendo uma curadoria disso. E essa loja é do lado do Bossa, que é um restaurante 24h com estúdio, na Alameda Lorena (em São Paulo). Estou com mais dois imóveis do lado que vou ver o que farei com. Há dois projetos aí de restaurantes, mas são só umas ideias, sem nada certo de fato sobre o que vai ser. Existe um pré-projeto, e aí viraria tipo uma vila gastronômica com essa loja no meio.
E especialmente sobre a D.Edge Agency, como andam as coisas? Você criou esta agência com que finalidade? Teria sido uma tentativa de quebrar um pouco com a hegemonia que existe há algum tempo no Brasil, já que as agências fortes de DJs por aqui são poucas e as mesmas de sempre?
A agência existe há três anos. Não foi pensando nisso, não. Acho que todos os negócios que existem lá fora também criam uma hegemonia, não é um caso brasileiro. Em tudo existe um interesse de criar uma hegemonia, em qualquer área. Da indústria do cinema, automobilística, do alimento, do fast food, da mídia… E ao mesmo tempo existem as opções que vão surgindo com o tempo, daquelas pessoas que não se enquadram e tentam cavar seu espaço. Na minha história, quando comecei como DJ, havia uma pessoa que me agenciava, a Patrícia Correia, que hoje é minha promoter de sexta-feira. Ela que me vendia pras festas. Isso em 2002, antes de abrir o D.Edge aqui. Aí eu entrei na Smartbiz. Depois de um tempo, falei pro Fernando [Moreno], que é o dono, meu amigo, e tudo: “Fernando, agora os interesses são outros. E pulei fora”. Nessas, vendo uma quantidade grande de artistas talentosos sem agenciamento, resolvi abrir a agência do D.Edge. Inclusive agora ela vai mudar, não vai mais ser D.Edge Agency, vai ser D.Agency. Tô mudando agora, semana que vem já entra com a logomarca nova, nome novo, tudo isso. Porque fica mais abrangente, “A Agência”. Até a sonoridade remete ao nome do D.Edge sem precisar falar o nome do club. Acho que fica até mais confortável pros outros clubs citarem, sem receio de promover o D.Edge de tabela.
Bem, pra encerrar: você é um cara que aparentemente encontrou um modo de se envolver até o pescoço com todas as suas paixões. Há alguma coisa que você ainda gostaria de aprender, praticar, conhecer melhor, ou mesmo uma habilidade que tem vontade de desenvolver?
Tem uma coisa à qual eu gostaria de poder me dedicar e desenvolver, que é a habilidade da culinária. Até combinei com o nosso chef do Bossa que vou sempre almoçar lá e a gente vai sempre fazer um prato. Vou acompanhá-lo, que é uma coisa que quero fazer. Minhas grandes paixões são turismo, moda, arquitetura, design e natureza… Ao mesmo tempo em que tenho esse interesse por tecnologia, coisas urbanas, cultura, eu adoro o campo, adoro a simplicidade também. E gosto de viver essas diferentes experiências e momentos. Os contrastes, quanto mais bruscos, mais gratificantes pra mim, isso me proporciona diferentes visões e valores. Por exemplo, se eu estiver aqui hoje numa exposição, participar de algum evento cultural numa Galeria Vermelho, uma Fashion Week, e sair dessa densidade para, no outro dia, o mais rápido possível, conseguir estar em outro ambiente totalmente diferente… Eu gosto desse choque, porque consigo me ver de outro ângulo. Já fiz isso algumas vezes, de sair daqui, rumar pra Campo Grande, pegar um avião e ir direto pro Pantanal. Chego lá, estou lidando com outras pessoas, outros valores, outro ambiente. Dessa forma acabo fugindo do personagem caricato de ser o Renato DJ, da noite, do D.Edge. Sou uma pessoa em busca de uma visão abrangente do mundo. Porque às vezes tudo é meio enlouquecedor, e a partir do momento em que você vai, vê e convive com outras pessoas, é outra coisa, outros valores. Tem o prazer de comer uma carne assada, rir com o povo simples… Aquilo é muito legal. Adoro pegar o cavalo e sair andando no campo. Fico viajando, falo “caramba, estou aqui no pôr do sol do Pantanal, com essas araras cruzando”. Isso eu acho demais, consigo me enxergar e não fico preso num universo.