Do Ipiranga ao pastel de bacalhau do Mercadão: um rolêzinho-corrida pelos pontos turísticos de SP

Fotos: Guilherme Santana/VICE

Todos concordamos que acordar num sábado de manhã com o nascer do sol é bem sofrido, certo? Imagina então o estranhamento de, às sete da manhã, se deparar com um monte de gente radiante no Parque da Independência, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, à espera de uma corridinha de dez quilômetros. Seria uma miragem? Seriam humanos?

Logo deu para sacar que responsável pelo evento era real e humana, sim: a publicitária portuguesa Mariana Passos, de 25 anos, que está na capital paulista há dois e meio. A lusitana reuniu um grupo por meio da plataforma “Vem Junto”, da Nike, e criou a corridona Welcome to Sampa, pelo centro da cidade. A ideia era juntar gringos e brasileiros de várias partes do país para trocar umas ideias e conhecer os principais pontos do fervo paulistano.

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Era, na real, uma mistura de festa e passeio turístico no fast forward.

Em menos de uma hora, a galera de 40 pessoas já tinha corrido quase sete quilômetros e chegou à Praça da Sé. Todo mundo posou para uma foto em frente à catedral e a Mari comentou que as subidas estavam sendo um desafio, mas, beleza, o negócio era ter fé. A seguir eles rumaram para outro cartão postal, o Teatro Municipal. Pelas ruas, as pessoas davam vários gritos de estímulo ao corredores-turistas. A portuguesa, como boa líder, tratava de animar os companheiros com mais berros de incentivo.

Mariana Passos

A Mari começou a correr em 2013 porque queria perder peso. A comida paulistana, diz ela, se revelou tão boa quanto perigosa. A variedade de opções de refeição fez com que ela ganhasse alguns vários quilinhos nos primeiros meses pela capital. Encanada com o problema do peso típico de intercambistas, ela correu atrás do prejuízo e acabou se encontrando na modalidade. “Você vê que consegue ultrapassar obstáculos, consegue fazer melhor. Você passa dos 8km pros 10km e supera barreiras, você pode ser sempre melhor e a corrida te mostra isso, mostra que você é capaz de tudo”, diz.

O melhor lado da corrida foi que Mari não precisou largar sua paixão pelos doces. Cozinheira de mão cheia desde cedo, ela vende bolos decorados e, como parte da profissão, claro, tem que provar suas deliciosas e calóricas receitas. Daí vem a necessidade – e o prazer, diz – de correr longos trajetos.

Kauana Araújo

Quem a introduziu às longas distâncias foi a jornalista Kauana Araujo, de 23 anos, nascida e criada na zona norte de São Paulo. Corredora há cinco anos, ela acompanhou a amiga portuguesa nos 10K do sábado. “Fiquei muito feliz de ter puxado a Mari para as longas distâncias porque a gente é nova correndo maratona e as pessoas não acreditam. Fico muito feliz de ver ela nesse clube e com a corrida dela, uma pessoa que se encontrou com a corrida, fez muitos amigos, que tem isso na veia, sabe, ela corre pra ficar feliz, pela saúde, isso é o principal do esporte”, diz Kauana.

Além da parte da saúde e do cuidado físico, a Mari queria que todo mundo se divertisse, conhecesse a cidade e fizesse amigos, assim como ela fez nos dois últimos anos correndo. Longe de Lisboa e sem muita noção da geografia brasileira, ela começou a correr para expandir seus horizontes. “Foi correndo que conheci a cidade, fiz amigos, então eu quero poder mostrar isso para as pessoas. Tem muita gente que mesmo sendo daqui não conhece alguns lugares, por que não fazer isso correndo?”, sugere.

Diones Calisto

Um dos amigos que a Mari fez em seu percurso foi o designer Diones Calisto, de 32 anos. Eles se conheceram em uma corrida noturna no Minhocão no ano passado. Nascido em São Paulo e criado em Belo Horizonte, ele voltou para sua terra em maio de 2014, época em que começou a praticar corrida também. “Eu já jogava futebol, mas vi que na corrida eu poderia explorar isso de uma maneira diferente, estando na cidade, conhecendo pessoas, centros turísticos”, diz. “Me identifico com a cidade, nasci aqui mas fui criado em Minas, então eu tenho um pouco dessa história daqui. Eu conheci São Paulo pela corrida.”

Juan Llerena

A sensação é compartilhada por outro amigo da Mari, o peruano Juan Llerena, de 24 anos e atleta há dois. Ele veio para o Brasil fazer pós-graduação em desenho digital, mas já fazia maratonas no Peru e agora pretende correr na São Silvestre. Ele nos contou que vê na corrida a oportunidade de conhecer novos pontos turísticos, já que não sabe andar muito bem ainda por aqui sem o GPS do celular,. “Os pontos turísticos são muito fodas, muito loucos, é quase igual ao Peru, a gente tem prédios antigos, coisas assim, mas eu gosto muito da variedade daqui, da diversidade, é muito legal”, ele conta. Mas como ninguém é de ferro, ele confessa que seu lugar favorito não é nenhum pico esportivo ou natureba. “Curto a rua Augusta, porque as pessoas são open mind“, diz, rindo.

A parada final da corrida seguiu a buena onda de Juan: foi no Mercadão, onde todos receberam um prêmio à lá portuguesa: o famoso pastel de bacalhau do local. “A gente curtiu a cidade, o percurso e agora a gente vai comer”, comemorou a Mari, satisfeita com o desempenho e, mais ainda, por curtir seus amigos e seu rango sem qualquer preocupação.