Sexo

É normal que ainda penses em pinar o teu ex

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Este artigo foi publicado originalmente na VICE ES.

Começas uma nova relação e descobres um novo McMenu sexual.

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Lembro-me dos meus parceiros sexuais pela sua cadência. Por exemplo o Jaime, autor reconhecido e votante de direita, esse que pinava devagar, tão devagar como falava e se explicava. Demorava a chegar ao orgasmo e a ir embora de minha casa de taxi. Encontrei-o na semana passada numa apresentação, ouvi-o a gaguejar e, talvez pelo ar de político, ou pelos cabelos brancos, ou a pinta de intelectual que vai a um casting de professor de literatura comparada que me fez decidir que não, este não é a sobremesa que quero que volte este Natal!

Quanto ao corpo também fica uma memória. Não é o mesmo aquele que pinava sentado porque já era mais velho ou o campeão de jiu-jitsu, que te possuía contra a parede do quarto e te levava ao orgasmo enquanto te penetrava, quase sem te deixar respirar, durante mais de 120 minutos. Que será feito dele, já agora?



As quecas passadas ficam-nos instaladas no corpo. Há ex-amantes de que te lembras porque te pinavam com mais desejo do que Zeus em quarentena e desses não te livras tão facilmente. Camila, uma amiga e editora, conta-me que prefere manter as melhores quecas que já teve na caixa da fantasia e, se possível, bem longe do “clique aqui”. “Não é preciso realizá-las! Quando volto a pinar esse ex-amante, faço merda. E, como truque, se pinar o meu parceiro habitual posso imaginar-me com esse outro que não está e que desejo”.

Talvez essa decisão de não voltar a ir para a cama com um ex-amante seja a mais sensata, assim podes continuar a tua vida de mãe de dois filhos, casada, com um copo de vinho à noite enquanto o marido lhe mima os pés sem saber que ela está a pensar noutro. Pessoalmente, parece-me horrível pinar o António a pensar no Rafa, ou vires-te com a Marta enquanto agarras os lençóis a pensar nos orgasmos da Patrícia. É como viver o síndrome do impostor mas no sexo e rezar para que não se apercebam. Nem a brincar!

Quanto dura a memória de uma queca? Ricardo, o meu amigo músico, diz-me que ainda se lembra “dos seus olhos revirados, o sabor do seu sexo e a forma como nos esvaziávamos ao mesmo tempo que nos reabastecíamos de vitalidade. Quatro anos depois, não consigo evitar a acabar por desapertar o cinto e masturbar-me como um adolescente.” Quatro anos dessa obstinação deve levar uma pessoa à loucura. Mas a verdade é que até eu fiquei excitada enquanto ele me contava.

Mas o Ricardo tem namorada, continua a tocar guitarra e certamente toca outras coisas quando o dia está nublado ou quando sai de um concerto com desejo de mais. Maldita seja. Pobre Ricardo, que não a voltou a ver mas ainda fala com ela por chat entre bloqueio e bloqueio. Foi complicado, mas consegui contactá-la. Mandou-me duas mensagens de voz nas que dizia uma coisa e o seu contrário em 11 segundos. “Acho que não o vou voltar a ver, já não me interessa encontrar-me com o Ricardo. Mas… às vezes, quando estou sozinha em casa, lembro-me dele e, ainda que pense que ele foi um estupor, porque foi, entra-me a vontade de o desbloquear e de lhe mandar uma queca até ficar desmaiada. Uma ruína!”. Acho que vão voltar a encontrar-se e a fazer sexo quando lerem isto.

Então quem é que decide voltar a estar com o ex? Um estudo da Universidade do Arizona feito a adultos recentemente separados estabeleceu que um quarto dos inquiridos admitiram ter feito sexo com o/a ex. Se bem que os estudos publicados falam de ex-marido e ex-mulher, tendo descartado a popular figura do ex-amante. Outro estudo preliminar concluiu que 137 das pessoas que voltaram a dormir com o ex não catalogaram a experiência como angustiante. Fico feliz por essas 137 almas que conseguem dormir tranquilas depois de terem dormido com o ex, já que eu quando acabo uma relação aquilo que mais tento é evitar contacto com ele. Para sempre.

Mas atenção, isto quer dizer que 25 por cento da população quer fazer sexo com o ex! Isso é 1 em cada 4 pessoas. Ou seja, se achamos que o nosso amor jamais voltaria a ir para a cama com a ex, se calhar estamos enganados, porque é muito mais comum do que se pensa. Segundo este estudo, os que decidem enrolar-se com o ex consideram a experiência mais benéfica do que danosa. E o mais curioso é o seguinte: em 10 ocasiões em que tentaram pinar o/a ex, em 9 conseguiram.

Ainda assim, a ciência não aprofundou os motivos do sex-ex e foi Justin Lehmiller, do Instituto Kinsey, quem complementou estas motivações com gratificação sexual, segurança, conforto, motivos emocionais ou porque, de forma secreta (ou não tão secreta), querem voltar a estar com essa parceira.

Resumindo, as pessoas procuram sexo com o ex porque gostam e se sentem melhor, fim do mistério. Provavelmente porque é mais fácil fazer sexo com alguém conhecido do que com um estranho, afinal de contas sabe como és na cama e, se decides repetir é porque gostas do que faz, como faz e do que sentes quando o faz. Agora, se gostas mais de fazer sexo com o teu ex do que com o teu actual, então aí a coisa pode complicar-se.

Para a Sónia, que é jornalista freelancer, a vida sexual muda como o tempo e, em altura de tempestade, pode ir para a cama com três ex num mês, porque entra mais vezes por dia no Tinder do que na casa-de-banho.

“Cada um é diferente, embora eu me lembre especialmente de um que fazia amor como se estivesse a dançar lá dentro. Nunca mais senti isso. O problema é que quando voltei a entrar em contacto com ele, ele disse-me que era gay.”

Parece-me curioso que a Sónia, que nos seus estados nas redes sociais é cínica, que vive uma vida etérea de autónoma e parece nunca se ter apaixonado desde que a conheço, me fale de fazer amor em vez de sexo. “Há uma diferença”, diz-me convencida. “Porque podes fazer sexo com qualquer um, mas podes passar uma vida inteira sem fazer amor”. Alguém fala sobre fazer amor no Tinder? Imagino que seja tipo: “Olá sua bomba, espero por ti no Hotel Santa Pila, quero fazer amor contigo hoje à noite.”


O tempo passa factura das badaladas aos amantes. Alguns perderão o encanto e outros ganharão habilidades. Como diz um amigo meu: “Nunca serás mais jovem do que és hoje”. E no sexo também podes envelhecer. Embora quem seja um bom amante não deixe de o ser do nada, e isso não tenha a ver nem com peso, nem com físico nem com idade, mas sim com a capacidade de entrega e de empatia de dar e receber uma boa queca.

Com cada parceiro sexual aprende-se algo e adquires conhecimento. Por exemplo, Teresa, que nunca praticou sexo oral em doze anos de casamento, diz-me que agora é a primeira coisa que faz quando chega a casa do novo namorado. “Adoro fazer sexo oral e descobri e só descobri em adulta, porque com o meu ex-marido era sempre tudo igual. Missionário enquanto víamos as notícias. Ejaculação e cama. A primeira vez que meu namorado me quis fazer um minete, eu nem conseguia parar de suspirar, nunca estive tão excitada, sentia a minha vagina a contrair-se para me pedir mais e mais. Foi com o meu namorado que tive os melhores orgasmos e, se a nossa relação terminasse, eu voltaria a procurá-lo.”

Dos meus parceiros sexuais, eu não voltaria a repetir uma queca. por alguma razão já não estão comigo e já não me dão tesão. Também não lhes faço stalking nas redes porque perdi toda a química com eles. Ninguém que faça parte do meu amplo repertório sexual me faz sacar do vibrador, excepto um, por isso não me salvo das estatísticas dos estudos. Este homem em questão não é de longe o mais bonito, nem o mais acrobático e muito menos o mais jovem. Mas talvez seja porque o cabrão sabia fazer amor comigo.

Eu queimo neurónios a imaginar o que diabos aconteceria se tratássemos desta necessidade sexual depois de meia garrafa de vinho. Acho que daria uma boa queca – ou várias – consecutivas e empilhadas no mesmo dia. Não voltaria a falar com ele para evitar repetições, para não me ir deitar com a dúvida de que, talvez, não nos tenhamos ultrapassado. Admito que talvez fosse mais benéfico do que danoso voltar a tê-lo dentro de mim. Uma vez, só uma. Se as estatísticas forem um indicador seguro, ao que parece eu sobreviveria sem traumas à cena animal que estou a imaginar. Mandei-lhe um WhatsApp com a mensagem “pinamos?” e ele respondeu com a localização.


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