Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Creators.
A dança – daquela não coreografada, do género só-aqui-a-sacar-uns-moves-aleatórios-na-disco – é a essência de “Love Love Love”, novo vídeo do produtor, DJ e músico português Moullinex (Luís Clara Gomes).
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O objectivo era captar as pessoas sem inibições, não só enquanto dançavam, mas também enquanto respondiam a questões sobre dança e o que significa para elas dançar. em cima da mesa estavam perguntas sobre se gostavam de dançar sozinhas ou em grupo, se é uma experiência espiritual, ou algo puramente escapista.
Para criar o vídeo, Moullinex e a sua equipa lançaram uma open call no Craigslist para um casting destinado a dançarinos que quisessem participar num teledisco. A chamada estava aberta a profissionais e amadores, a todos e qualquer um. Teriam apenas de assinar um acordo e estarem abertos a que as suas imagens gravadas pudessem ser usadas.
Filmar o próprio casting forneceu as condições lo-fi ideais e, ao mesmo tempo, possibilitou a Moullinex e aos seus colaboradores explorarem a natureza imersiva da dança fora de um ambiente de clube. “Cria o cenário perfeito para uma ligação imediata aos participantes do casting, já que as suas actuações dão-nos uma sensação mais realista, sem filtros. A estranheza de estarem a ser filmados, é contrabalançada pela vontade de conseguirem o papel”, sublinha o músico.
Também permitiu à realização encontrar respostas genuínas à forma como as pessoas pensavam a dança e a cultura EDM. O que significa para elas – individualmente, socialmente -, revelado de uma forma natural.
“Apesar da nossa existência cada vez mais digital e fisicamente desligada de outras pessoas, há algo muito poderoso que ainda leva multidões a convergirem numa pista de dança densamente ocupada, criando um espaço onde as pessoas se libertam de várias normativas sociais e se permitem até tocar em completos estranhos, algo que nunca fariam noutro contexto. Com os participantes, o nosso objectivo era explorar va sua relação com a música e a dança”, explica Moullinex.
O músico diz que tanto ele como s responsáveis pela realização do vídeo são fãs da série dos anos 90 The Buzz Club, criada por Rineke Dijkstra, em que a fotógrafa holandesa captou retratos de ravers e clubbers no Reino Unido e na Holanda. Ela retirou-os do contexto dos clubes, pedindo-lhes para agirem enquanto figuras solitárias e isoladas em frente à câmera, da forma que bem entendessem – tendo ela filmado e fotografado. Alguns fecham os olhos e deixam-se levar pela música, outros bebem cerveja pela garrafa e outros dançam como se ainda estivessem na discoteca.
“Em vez de isolamento, tentámos ‘forçar’ o contexto, numa tentativa de o fazer parecer natural”, salienta Moullinex. E acrescenta: “O resultado final poderia ter sido apenas constrangimento entre estranhos e daí tiraríamos uma conclusão relevante – apesar de triste. [No entanto] tornou-se um filme sobre a dança unir as pessoas, apesar de não termos necessariamente estabelecido isso como intenção. Colocámos aos participantes, isso sim, questões sobre comunidade, inclusão e partilha e isso pode ter feito com que se sentissem mais confortáveis com a dança. Se calhar é essa a conclusão: as pessoas vão unir-se se lhes dermos um pequeno toque”.
O vídeo também trata de unificar conceitos e ideias que enformam o novo disco de Moullinex, que celebra a inclusão e diversidade da música de dança. O álbum inclui colaborações com ilustradores, cantores convidados e realizadores, para explorar o conceito nas sua smais variadas manifestações. Uma delas é, precisamente, este vídeo que comparam a um experimento social.
Parte dessa cultura ainda existe se se souber onde procurar e as pessoas ainda adoram dançar e sentirem-se eufóricas num clube. O álbum de Moullinex, tal como este vídeo, são uma ode a isso.
“Este disco é a minha carta de amor às pessoas que criaram a club culture“, diz o músico. E conclui: “Isto engloba músicos e DJs, mas também club kids e promotores. Pessoas que, em determinado momento das suas vidas, tiveram o impulso de escapar às frustrações da vida quotidiana e contribuir para a criação de uma realidade alternativa que, apesar de efémera, pode ser verdadeiramente poderosa”.
Sabe mais sobre Moullinex no seu site e Facebook. Podes conhecer melhor o trabalho do realizador Bruno Ferreira aqui.