Em “Engano”, o acaso pode trazer boas surpresas

Na Mostra de Curtas “Respira e vai”, uma parceria da Halls com a VICE, apresentamos uma seleção de seis curtas-metragens feitos por diretores brasileiros. Seja uma comédia, um drama ou um romance, todas essas obras têm algo em comum: um personagem que precisa de um fôlego extra para enfrentar uma situação na vida.

Frame do curta ‘Em Engano’. Imagem: reprodução.

Às vezes, as coisas acontecem por engano. Às vezes, os enganos podem nos trazer coisas incríveis. No curta “Engano”, de Cavi Borges, dois gaúchos se falam por telefone sem se conhecerem. A solidão de quem está numa cidade nova – no caso, o Rio – e a familiaridade de quem divide o mesmo sotaque e as mesmas experiências fazem com que os dois criem uma conexão. Num momento “respira e vai”, de ânimo e coragem, eles decidem se encontrar, mesmo que aquilo pareça uma loucura. Porque, às vezes, tudo que a gente precisa é de um fôlego extra para se aventurar.

Mas, se a ligação telefônica entre os personagens foi imprevisível, os empecilhos para que eles se encontrassem também. Uma bateria de celular que acaba, um cruzamento perto do metrô Siqueira Campos e a oportunidade tão próxima que foi perdida. Porém, o diretor deixa o caminho aberto para quem quiser criar uma continuação com um final mais feliz. Difícil talvez seja recriar os dois planos-sequências filmados simultaneamente, que exigiram dois meses de ensaio e seis tentativas.

Carioca, Cavi Borges se inspirou nos gaúchos que conhecia no Rio para criar o filme. Fundador da Cavídeo, locadora de filmes raros, e diretor de “Cidade de Deus: 10 anos depois”, o judoca que virou cineasta teve seu próprio momento de seguir em frente, que envolveu uma Olimpíada e a mudança para uma carreira de sucesso no cinema. Falamos com ele sobre “Engano” e a solidão dos migrantes na entrevista que você confere abaixo.

VICE: Você é carioca ou gaúcho?
Cavi Borges: Carioca, mas fui casado com uma gaúcha, daí veio a ideia do filme.

Como foi a filmagem do curta? Os dois planos-sequências foram feitos simultaneamentes, ou um de cada vez e vocês repetiram a cena que eles se cruzam na rua?

Foram filmados simultaneamente. Ensaiamos dois meses para que tudo desse certo. No dia da filmagem repetimos seis vezes até chegar ao plano que virou o filme.

Teve algum outro motivo para os personagens serem gaúchos?
Conhecia muitos atores gaúchos que tinham vindo pro Rio tentar a sorte na TV, no cinema e no teatro. Sabia das dificuldades que eles passam ao tentar se adaptar ao ritmo do Rio.

Achei interessante que o vídeo mostra referências do Rio de Janeiro, enquanto os diálogos falam de referências de Porto Alegre. Era ideia de vocês fazer esse contraste?
Sim. Como sou carioca, meus filmes sempre utilizam a cidade como um personagem. O lugar influenciando nos personagens. nesse caso o Rio e Porto Alegre.

É possível imaginar uma continuação para o filme? Talvez eles voltem a se ligar, se encontrem no futuro?
Nas exibições do curta nos festivais, todos comentam e pedem um continuação onde eles se encontrariam. Acho engraçado isso e autorizo quem quiser fazer. Ficaria muito feliz.

Você já teve essa experiência de se sentir solitário numa cidade nova? Acha que isso pode levar as pessoas a experimentar coisas diferentes?
Sim! Muitas vezes. O legal desse filme foi que passou em vários países, e sempre as pessoas se identificavam, no caso internacional se referindo ao imigrante. Nunca pensei que o filme atingiria tantas pessoas de tantos lugares diferentes. Uma prova que muita gente se sente solitário em cidades diferentes.

Qual foi o momento “respira e vai” da sua vida?
Quando era judoca, iria lutar as Olimpíadas de Sidney em 2000. Me machuquei nas vésperas da viagem e fui cortado da equipe brasileira. Daí decidi mudar minha vida completamente e resolvi fazer cinema. Foi uma decisão muito importante que mudou minha vida pra sempre. Com certeza foi um grande ” respira e vai”!


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