Enquanto a pandemia se arrasta, mais pessoas estão fumando mais maconha

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Para Anthony* os negócios nunca estiveram melhores. Nos últimos meses, ele vendeu mais maconha que nunca, e os pedidos continuam chegando. Na verdade, a procura está tão alta que ele está com problemas para fornecer pra todo mundo.

“Estou recebendo uma enxurrada de pedidos de maconha”, ele disse a VICE News. “Tenho entregado tanto que chegou num ponto onde fico sem nada.”

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Desde a introdução da quarto estágio do lockdown no estado australiano de Victoria — que tem um toque de recolher às 20h e proíbe as pessoas de sair de casa por mais de uma hora — Anthony tem apenas uma pequena janela de tempo para fazer as entregas. Para os clientes de Anthony, isso significa que eles não podem comprar com tanta frequência quanto antes. Então as pessoas estão comprando quantidades maiores.

“Para dar um número, eu diria que as pessoas estão comprando de 15 a 20% mais”, ele diz. “Quem comprava cerca de 7 gramas está comprando duas ou três gramas a mais.”

Cannabis é a droga ilícita mais popular da Austrália. Anualmente, uma em oito pessoas usam a substância, e segundo um estudo recente do Centro Nacional de Drogas e Pesquisa da Universidade de Nova Gales do Sul (NDARC), esse número só cresceu nos últimos meses.

“Especificamente, 57% daqueles que consumiram cannabis recentemente aumentaram o uso desde março”, disse a Dra. Amy Peacock, líder das Tendências de Drogas do NDARC, a VICE por e-mail.

O estudo, que visa monitorar o impacto da pandemia de COVID-19 nos hábitos de drogas, descobriu que entre os participantes, 82% usaram cannabis nos últimos meses. Maconha é preferida entre outras drogas como MDMA e álcool, com 41% dos participantes a indicando como seu intoxicante principal.

Sobre por que esses números estão aumentando, a Dra. Peacock e Anthony concordam: tédio.

“A demanda decolou porque as pessoas estão entediadas e procurando um jeito de matar o tempo”, diz Anthony.

Mas a Austrália não é a única. Padrões similares estão sendo vistos internacionalmente, particularmente nos EUA, onde a indústria de cannabis tem relatado uma explosão nas vendas, e na Holanda, onde o lockdown criou filas dando a volta no quarteirão para os cafés de cannabis.

Segundo Dan Lubman, diretor executivo do centro de educação em vício Turning Point, não é apenas o tédio que está alimentando o pico no consumo de maconha. Ele aponta que restrições de viagem e suprimentos limitados deixaram muitos viciados incapazes de conseguir seus narcóticos preferidos. Isso significa que eles estão procurando alternativas.

“Já vimos antes que quando drogas como metanfetaminas e heroína estão com a oferta reduzida, os preços delas sobem consideravelmente. E acaba acontecendo essa transição, porque álcool e cannabis são mais fáceis de conseguir”, ele explica.

Mas essa mudança para a cannabis pode colocar ainda mais pressão num mercado que já está sobrecarregado.

“Com as fronteiras fechadas, nada está entrando ou saindo, o que reduz quanta maconha conseguimos”, diz Sean*, outro traficante. “Está difícil conseguir grandes quantidades, o que mostra que não tem tanta gente cultivando cannabis em Victoria quanto eu pensava.”

As dificuldades de navegar as entregas, interrupções na cadeia de fornecimento e o estoque reduzido de quem cultiva localmente significa que os preços no mercado já começaram a subir.

Enquanto a Austrália entra na temporada de cultivo, não sabemos o que isso vai significar para o mercado de maconha. Mas segundo Sean, o gosto do estado pela cannabis vai acabar afetando os negócios.

“Se o lockdown continuar por mais 12 meses, isso vai foder com o mercado de drogas em Victoria”, ele prevê. “Provavelmente vamos ter que começar a pagar mais por menos.”

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*Os nomes foram mudados por razões óbvias.

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