Parecia que tudo estava sob controle na Coreia do Sul. As infecções e mortes por coronavírus estavam caindo, e a economia do país estava lentamente reabrindo.
Aí, em 1º de maio, um homem de 29 anos visitou cinco bares e clubes em Itaewon, um dos distritos de vida noturna mais populares de Seul.
Quarta-feira passada, o homem deu positivo para coronavírus, e agora as autoridades estão freneticamente tentando rastrear 11 mil pessoas que podem ter sido expostas, numa tentativa desesperada de evitar uma segunda onda de infecções de COVID-19.
Na quinta-feira o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia (CCPDC) confirmou que já tinha identificado 102 infecções ligadas aos bares e clubes onde o homem esteve, mas está pedindo que qualquer pessoa que esteve na área na noite de 1º de maio ou madrugada de 2 de maio faça o teste.
As autoridades disseram que 73 dos casos tinham visitado a área de Itaewon naquela noite, enquanto outras 29 pessoas foram contaminadas através de contato com quem esteve na área. Ainda não há relatos de infecções terciárias.
O CCPDC disse que está investigando uma janela de tempo de 24 de abril, quando os negócios em Itaewon começaram a reabrir, até 2 de maio, quando os sintomas começaram a aparecer.
Oficiais municipais inicialmente tentaram rastrear as pessoas que visitaram os bares e clubes em questão usando os logs de entrada nos locais. Mas o método se tornou ineficaz porque alguns dos nomes dados eram falsos.
Uma razão para a informação falsa nos logs é que pelo menos um dos clubes visitados pelo homem era voltado para pessoas LGBT. Enquanto a atitude com relação a homossexualidade melhorou na Coreia do Sul nos últimos anos, o país ainda é altamente conservador e sentimento homofóbico ainda é comum
Na esteira da cobertura da mídia de que o homem visitou um clube gay, as pessoas lotaram as redes sociais com gírias anti-gay, culpando o homem e as outras pessoas no clube por colocar em perigo a luta do país contra a pandemia.
Na terça-feira, a Anistia Internacional criticou a cobertura de alguns meios de comunicação sobre o incidente, dizendo que “despertar o ódio e marcar um certo grupo é o maior obstáculo para a prevenção eficaz de uma doença”.
Agora o governo coreano está oferecendo testes anônimos numa tentativa de garantir que aqueles que visitaram os clubes se apresentem.
Em fevereiro, a Coreia do Sul se tornou um dos primeiros países fora a China a relatar um pico significativo nas infecções, e através de uma abordagem ampla de rastreamento social e testes, o país conseguiu controlar sua taxa de infecções. Mas esse último pico nos casos mostra como é difícil controlar a propagação do vírus quando medidas de lockdown são removidas.
As autoridades em Seul agora estão usando outros métodos para rastrear possíveis infecções.
Usando dados de localização de operadoras de celular, o prefeito de Seul Park Won Soon disse que a cidade conseguiu uma lista de 10.905 visitantes da área. Os identificados receberam uma mensagem de texto em inglês e coreano pedindo que eles visitem uma instalação de testes.
A cidade também juntou informações de cartão de crédito de quase 500 pessoas que estiveram na área durante o período sob investigação.
As autoridades dizem que até agora, 7 mil pessoas entraram em contato e foram testadas.
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