Esta matéria foi originalmente publicada na VICE News .
Pelo menos 10 pessoas morreram na Venezuela no último domingo (30), enquanto o governo avançou com os planos amplamente impopulares de eleger um novo corpo legislativo, numa eleição rotulada como uma “farsa” por Washington.
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A eleição da Assembleia Constituinte Nacional, com um poderoso novo corpo legislativo com 545 membros que vai reescrever a nova constituição do país, só piora a crise política na Venezuela. Foram registradas mais de 120 mortes até agora.
A oposição — que boicotou a eleição e não colocou candidatos na eleição — vê a ação como uma tentativa do governo de se agarrar ao poder e prometeu mais manifestações. Enquanto isso, os EUA estão analisando sanções contra a indústria petroleira da Venezuela, uma opção que, segundo analistas, teria um impacto dramático na economia já esfacelada.
Apesar da oposição generalizada no país e no exterior, o presidente venezuelano Nicolás Maduro saudou a eleição como um “voto pela revolução”, dizendo que a participação representa o maior endosso à “revolução bolivariana” iniciada por seu predecessor e mentor, o socialista falecido Hugo Cháves.
Enquanto as autoridades dizem que 8,1 milhões de pessoas — cerca de 41% dos eleitores registrados — foram às urnas, a oposição estima que apenas 2,5 milhões de pessoas votaram. O líder da Assembleia Nacional, dominada pela oposição e que pode ser dissolvida pela nova assembleia, tuitou que a eleição representou “a maior fraude eleitoral da nossa história”. Nenhuma instituição independente monitorou a votação.
A eleição foi marcada por derramamento de sangue, com manifestantes desafiando a proibição de protestos imposta pelo governo e ameaça de prisão para quem perturbasse a votação. Entre os mortos estão dois manifestantes adolescentes e um líder da oposição, além de um candidato à assembleia e um soldado. O líder da oposição Henrique Capriles descreveu as mortes como um “massacre”, e pediu que os venezuelanos continuem se manifestando, incluindo protestos nesta segunda-feira (31) e um grande comício em Caracas na quarta (2), quando os novos membros da assembleia devem tomar posse.
A comunidade internacional respondeu com condenações, o que pode deixar a nação sul-americana antigamente próspera ainda mais isolada. O Departamento de Estado norte-americano divulgou uma declaração no domingo condenando a votação, e prometendo “ações duras contra os arquitetos do autoritarismo”, enquanto a embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley, tuitou: “A eleição armada de Maduro é outro passo em direção à ditadura”. A votação também foi condenada pela União Europeia, Canadá, Argentina, Brasil, Colômbia e México.
No último 26 de julho, os EUA colocaram sanções em 13 oficiais do governo venezuelano e alertou que mais estava por vir, o que fez México, Colômbia e Panamá impor suas próprias sanções contra as mesmas figuras. Analistas dizem que as sanções norte-americanas estão entre as maneiras mais eficazes de erodir o apoio ao governo entre militares e a elite política do país, que estão do lado de Maduro mesmo com a oposição pública generalizada.
Mais sanções norte-americanas à indústria petroleira da Venezuela — a mais importante do país — podem ser ainda mais decisivas. Oficiais dos EUA disseram à Reuters que estavam analisando sanções ao petróleo que podem entrar em vigor já esta semana, mas relativizaram as respostas para não causar mais sofrimento ao público no país, que já sofre com escassez de produtos essenciais.
Tradução do inglês por Marina Schnoor.