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Relato

Ser deportado para o Haiti quase me matou

Jean Pierre Marseille, de 44 anos, pai de seis filhos, conta como foi deportado dos EUA e mandado de volta para Porto Príncipe.
Ilustração por Paul Moreno.

Lavil: Life, Love, and Death in Port-au-Prince é um novo livro de histórias orais do Haiti. Compilado durante quatro anos, começando em 2012, o escritor Peter Orner e o médico Evan Lyon partiram de uma abordagem não acadêmica: "sem mensagem, sem lição, sem repostas abrangentes, sem finais fáceis". Em vez disso, o livro deles visa "derrubar as noções simplificadas da vida no Haiti, particularmente em Porto Príncipe, fornecendo aos leitores uma multiplicidade de vozes". O livro, que saiu como parte da série Voice of Witness da Verso, foca em como é viver na capital haitiana — "uma cidade testemunho", escreve Edwidge Danticat no excelente prefácio do livro, "uma cidade com cicatrizes visíveis e invisíveis". Lavil é uma coleção poderosa desses testemunhos, que incluem contos de violência, pobreza e instabilidade, mas também de alegria, luta e um desejo indomável de sobreviver.

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No trecho abaixo, ouvimos a história de Jean Pierre Marseille, um homem de 44 anos, pai de seis filhos e que já fez de tudo na vida: jornalista, fixer, tradutor, vendedor. Nascido nas Bahamas em 1971 (apesar de não ter nenhum registro de nascimento), Jean Pierre cresceu em Cabo Haitiano na costa norte do Haiti. Ele foi trazido para os EUA aos 12 anos por dois estranhos que sua mãe tinha contratado. Como um adolescente na Flórida, ele se envolveu com tráfico de drogas aos 15 para ganhar o status social que desejava. Em 1994, ele foi deportado para o Haiti, onde enfrentou vários perigos e lutas em Porto Príncipe antes de casar e dar um jeito na vida. Com a decisão da administração Trump de renovar status temporariamente protegidos apenas até janeiro, a deportação paira sobre mais de 50 mil haitianos nos EUA . A história de Jean Pierre vem em boa hora para mostrar as armadilhas potencialmente mortais à espera dos deportados mais obstinados.

— James Yeh, editor cultural

Me lembro muito bem. Na época, eu tinha 22 anos. Por volta das 16h um dia, um delegado federal veio até a nossa casa num carro cinza e bateu na porta — boom, boom, boom, boom. Minha mãe foi até a porta. O cara disse que tinha um mandado para mim. Minha mãe disse "Pelo quê?" O cara disse "por dirigir com licença suspensa e posse de maconha". Um saco de US$5 de erva. O delegado disse "Não se preocupe. É só uma acusação de violação". Quando fui ao tribunal na segunda-feira, eu estava com medo, mas deportação nem passava pela minha cabeça. O juiz me disse que, por ele, me daria uma pena para cumprir, mas que eu tinha problemas com a imigração. Eu pensei "Cara, deve ser um engano". Eu tinha meu green card. Liguei para minha mãe. Ela achou meu green card e levou para o tribunal.

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Na época, você não podia ser deportado sob a administração Reagan se tivesse um green card. Ele era o presidente quando cheguei aos EUA em 1982. Eu tinha 12 anos quando cheguei à Flórida. Eu sempre dizia para os brancos norte-americanos que eu conhecia: "Sabe qual meu presidente favorito? Ronald Reagan". E eles não acreditavam. "Por que você gosta do Ronald Reagan, cara? Ele foi um péssimo presidente." Não para nós! Os haitianos nos EUA amam o Ronald Reagan. Ronald Reagan deixou claro — se você estava nos EUA por mais de cinco anos, você podia ter um green card; eles não te deportariam. Consegui meu green card com ajuda de Ronald Reagan, mas Bill Clinton se tornou presidente em 1994. E a nova lei de deportação de Clinton acabou comigo. Acontece que você podia ser deportado mesmo tendo um green card. Se seu crime fosse ruim o suficiente. E meu crime era ruim o suficiente. Eu deveria dizer crimes. Porque minha deportação não foi baseada num crime só. Foi uma acumulação de crimes. Mas a questão é que você só precisava de um crime menor para ser deportado. Quando compareci no tribunal por posse [de maconha], o juiz e o oficial de imigração me disseram que estavam me procurando desde a minha primeira acusação — por jogar um míssil mortal, um tijolo, num veículo ocupado. Mas fui deportado devido a acusação de conspiração. Eles chamam de "conspiração para entregar ou comprar cocaína a 300 metros de uma zona escolar". Eles me acusaram disso, mas não acharam nenhuma droga. Eu estava vendendo drogas, mas nunca fui preso por vender drogas. Primeiro foi a acusação de posse, aí eles me envolveram nessa coisa de conspiração. Então eles fizeram uma audiência com a imigração e eu perdi. Eles me colocaram na cadeia do condado. Mas disseram que se a Imigração não viesse me buscar em um mês, eles não tinham escolha a não ser me liberar. Eu perguntei aos guardas: "Às vezes a Imigração não vem?" E eles disseram "Às vezes não". Então eu contava os dias. Vinte e nove dias depois, um guarda chamou: "Jean Marseille, [meu nome de batismo]". Eles vieram no último minuto. A Imigração algemou meus pés e enrolou uma corrente na minha cintura. Pela primeira vez, realmente me senti como um prisioneiro. Eles me transferiram para outras três prisões do condado até eu finalmente chegar a Oakdale, Louisiana, um centro de detenção onde eles tinham um departamento de administração federal e um tribunal de imigração onde mantinha as pessoas que estavam prestes a serem deportadas. Vi aquelas cercas enormes com arame farpado. Também foi a primeira vez na vida que vi neve.

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"Os delegados federais voltaram para o avião. Eu estava ficando assustado. E os policiais haitianos começaram a nos pedir dinheiro."

Eu não pensava muito no Haiti depois que minha avó morreu quando eu estava na oitava série. Não fomos aos enterro dela. Eu não podia. Nunca voltei para visitá-la. Nunca. Depois que cheguei aos EUA, eu nunca achei que era norte-americano. Mas fingia. Ainda assim, quando cheguei a Oakdale, me interessei de novo porque sabia que não tinha chance de lutar contra a deportação. Comecei a estudar sobre os eventos no Haiti. Pelo que eu tinha ouvido nas notícias, [o primeiro presidente democraticamente eleito no Haiti, Jean-Bertrand] Aristide tinha sido expulso do país e não tinha permissão para voltar. Seus simpatizantes eram mortos nas ruas. Também ouvi que os makouts estavam de volta, estuprando e atirando nas pessoas. Tentei entender a situação lá, que tipo de ambiente era aquele. Como eu poderia viver num lugar tão violento? Eles tinham eletricidade lá? E estradas? Também ouvi em Oakdale que os deportados mandados para lá estavam sendo executados assim que chegavam no aeroporto.

Enquanto eu estava esperando pela minha audiência de deportação, minha mãe me mandou uma carta com uma notícia incrível. Ela disse que tinha ido ao Haiti com todo esse pèpè [roupas de doação internacional] e feito uma venda. E sabe o que ela fez com o dinheiro? Ela me comprou uma casa em Porto Príncipe. Sério. A casa em que moro hoje. Ela sabia que eu seria deportado e fez o melhor que pode para acertar as coisas para mim. Ela me mandou o endereço do meu primo, e me disse para entrar em contato com ele quando chegasse a Porto Príncipe.

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Depois de alguns meses, tive minha audiência de deportação. Meu defensor público falou bem, mas não sabia muito sobre mim porque só o encontrei no dia da audiência. E eu tinha ficha criminal, então o que ele podia fazer? O juiz me sentenciou à deportação.

No meio da noite, delegados federais chegaram a mim e outro cara haitiano, um amigo chamado Geral. Mais uma vez fui algemado. Eu me sentia tão idiota. Eu não era uma pessoa perigosa. Por que eu tinha que ser algemado nas mãos e nos pés? Eles nos colocaram num jatinho particular como um Learjet, um avião deles. Não era um voo comercial. Três jamaicanos — dreads — já estavam no avião. Eles deixaram os jamaicanos primeiro. Mas só dois. E eu disse "Yo, cara, por que você continua aqui? Achei que você era jamaicano?" Aí o cara falou pela primeira vez em crioulo: "Também sou haitiano". E eu disse "Todo esse tempo que estamos aqui no avião, e você escondendo que era haitiano?" Ele disse "Não tenho para onde ir". Ele estava aterrorizado. Eu também. Eu estava pensando "Os haitianos vão nos matar". Eles não deveriam deportar ninguém para o Haiti na época porque o país era considerado instável. A coisa estava tão ruim que eles tinham parado os voos comerciais para o Haiti. Mas nos levaram num avião dos delegados federais. Esses norte-americanos estavam largando a gente lá.

Quando o avião tocou o solo, os delegados nos pegaram e levaram com as algemas para a rampa. Foi tipo como quando o Obama desce do avião com o Serviço Secreto, descendo as escadas, acenando. Só que quando desci do avião no Haiti, vi corpos na pista. Você acha que é brincadeira? Os delegados nos levaram até a delegacia haitiana no aeroporto e disseram "Esses três foram deportados". Os delegados não falavam crioulo, e não havia tradutor. Os policiais haitianos não entendiam inglês. Então eu traduzi. Meu crioulo era compreensível. Não era tão bom quanto agora, mas saí do Haiti falando crioulo, e sempre falei crioulo com a minha mãe. Os delegados tiraram nossas algemas e disseram "Pronto". Eles nos entregaram para os policiais haitianos e levaram as algemas com eles. Eles voltaram para o avião. Eu estava ficando assustado. E os policiais haitianos começaram a nos pedir dinheiro.

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Antes de assinar meu nome no contrato de deportação, os delegados me deram dez dólares. É o dinheiro que eles dão para todo mundo que é deportado. Eu também tinha algum dinheiro que meus pais me mandaram escondido embaixo das minhas bolas. Uns cem dólares no total. Eu disse "Ei, escuta, tenho família no governo. Sou da família da Madame e Senhor Charles Cherenfant". Charles Cherenfant era marido da prima da minha mãe, um cara que costumava trabalhar na Casa Branca com Duvalier, um antigo makout. Ele levou um tiro uma vez e era famoso por só ter uma mão. Como Aristide foi expulso, os makouts estavam no poder de novo. "Ah!" Um policial ouviu o nome. "Deixa eu ver o endereço." Ele olhou o papel que eu tinha e disse "Você. Fique aqui do lado. Conheço a família." Ele me sentou numa cadeira. Apontei para o Geral: "Ele está comigo". Então eu e o Geral esperamos até o policial sair do serviço. Ele foi legal comigo. O outro cara, o de dread — não sei o que diabos aconteceu com ele.

Fora do aeroporto, o dia estava nublado. Havia fumaça e soldados nas ruas. Não pegamos um carro. Fomos andando da delegacia. Andamos por uma hora por pastos e favelas. Vi cadáveres de novo. Anoiteceu. Escuro. Eu estava nervoso. Ofereci dez dólares ao policial, mas ele não aceitou. Achei que o policial ia me matar no meio do mato. E se chegarmos até a casa, pensei – essa mulher, a prima da minha mãe, vai lembrar de mim? Esse policial é mesmo um bom sujeito? Essas pessoas vão me aceitar? Eu tinha ido embora 11 anos antes. Tudo isso estava na minha cabeça.

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Peter Orner e Jean Pierre. Foto cortesia da Verso.

Chegamos até uma casa, o policial chamou "Madame Cherenfant! Madame Cherenfant!" Minha tia — ela não é mesmo minha tia, mas a chamo assim — saiu. Ela olhou para mim. "Você é o filho da Jocelyn?" Senti como alguém que está se afogando e finalmente consegue respirar. Eu disse "Sim". Ahh, foi muito bom. Olhei pra trás. O policial tinha desaparecido. Nunca mais o vi.

Minha tia deixou a gente entrar. Na primeira noite ela preparou peixe para nós. Alguns dias depois, o Geral seguiu seu próprio caminho. Logo as coisas ficaram muito difíceis para mim. Quer dizer, eu não conhecia ninguém. E os haitianos suspeitavam dos deportados norte-americanos. Eles achavam que todos os deportados eram assassinos e ladrões. Eu era careca e tinha vários dentes de ouro. Eu também era muito gordo. Tipo 88 quilos. Uma barriga enorme. Agora peso uns 70. As pessoas tinham muito medo de mim. Fui o primeiro deportado do bairro.

Aí minha tia começou a roubar a comida que minha mãe mandava para mim. Ela escondia no quarto dela. Ela também tentou me dar um toque de recolher. Eu tinha acabado de sair da cadeia, e tinha que voltar para casa às 20h? Lembre-se que eu tinha 22 anos. Eu queria achar uma garota. Eu estava solitário. Eu me vestia e andava pelo bairro, falando com as pessoas com meu crioulo errado, tentando fazer contatos. Mas ninguém me dava uma chance.

Um tempo depois, conheci um cara chamado Fenix. Ele me levou para a casa dele e me apresentou sua esposa e a filha, e serviu um grande jantar. Ele me fez acreditar que éramos amigos. Em gíria haitiana, ele disse "Você deve ter feito muita coisa para ser deportado, você sabe como atirar e tudo mais, não?" E eu disse "Sim, posso fazer isso. Sou durão". Eu não queria que o cara pensasse que eu era mole. Ele explicou o plano. Tinha algo a ver com roubar gasolina. Naquela época, muita gente estava vendendo gasolina porque havia um embargo no Haiti. A gasolina não estava chegando, então era muito cara. A gente ia ficar num campo aberto perto do aeroporto e roubar os vendedores de gasolina. E sabe, eu estava cansado de ficar sentado na casa da minha tia. Então eu disse "OK, eu faço". Achei que eu tinha que fazer alguma coisa. Como eu ia conseguir viver aqui? Posso viver como um bandido? Talvez eu posso comprar roupas novas e me vestir bem. Talvez eu consiga fazer dinheiro para voltar aos EUA de algum jeito.

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No dia seguinte, estacionamos o carro de fuga e andamos até o campo aberto ao lado do aeroporto. Tinha uma trilha que você seguia entre o mato. Fenix parou de andar e sacou um 38. Ele disse "Toma a arma. Você aponta a arma para eles e eu pego o dinheiro". Eu tinha uma sensação ruim. Quer dizer, estávamos falando de gasolina. Se eu atirasse com aquela arma, a coisa toda ia explodir. Eu disse "OK, me dá a arma".

Ele me deu a arma, e eu dei uns cinco ou dez passos e saquei a arma pra ele. Eu disse "Você vai me levar de volta para casa. Por que você me trouxe numa missão suicida?" O Fenix estava com medo. Lembre-se, ele achava que eu era um criminoso de primeira classe nos EUA. Ele disse "Yo, yo, calma! Te levo pra casa. Vem. Abaixa a arma." Eu estava tremendo. Coloquei a arma na minha calça. De volta no carro, eu disse pra ele "Olha, eu não voltei pra cá pra morrer desse jeito". Quando chegamos na casa da minha tia, peguei o 38, tirei as balas e devolvi para o Fenix. Eu disse "Venha buscar as balas amanhã". Eu estava feliz de estar vivo. Percebi que isso não era uma saída.

"Achei que eu tinha que fazer alguma coisa. Como eu ia conseguir viver aqui? Posso viver como um bandido? Talvez eu consiga fazer dinheiro para voltar aos EUA de algum jeito."

Três meses depois, eu estava tão envergonhado com a minha deportação que tirei todo o ouro dos meus dentes. Eu ainda não tinha nenhum amigo. Eu precisava de algum apoio da família, então voltei para Cabo Haitiano. Minha esposa — ela não era minha esposa ainda — concordou em vir morar comigo em Porto Príncipe. Mas eu tinha que começar a ganhar a vida. Me inscrevi num programa que ajudava deportados a se reintegrar à sociedade. Aprendi história haitiana e um pouco de francês. Eu sabia que precisava descobrir onde diabos eu estava, como sair de certas situações, conseguir informação, ter uma conversa. Descobri depois que o programa era só um golpe, mas tudo bem. O pouco de francês que aprendi me ajudou a conseguir trabalho. Eu conseguia entender as comunidades que falavam francês.

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Aí veio a invasão norte-americana que trouxe Aristide de volta. Isso salvou minha vida. Todos aqueles norte-americanos falando inglês, eu conseguia me identificar. Os soldados sabiam que eu era deportado. E eu nem precisei contar a eles. O jeito como eu falava, como parecia, meu cavanhaque, tudo. Eles sabiam que eu não era daqui. E eles não sabiam o que estavam fazendo aqui. As pessoas estavam enlouquecendo nas ruas, e as pessoas estavam matando os makouts — mas esses soldados estavam perdidos. Consegui trabalho, vendendo botas e outras coisas. Eu ajudava os soldados a conseguir suas drogas, maconha, cigarros. Eles me davam 20 dólares por um pacote de cigarros. "Fique com o troco, cara."

Por volta dessa época peguei meu primeiro trabalho como tradutor. Eu estava no aeroporto e vi um cara branco, de cabelo escuro e usando short saindo do avião, e eu disse "Ei, você fala inglês?"

Ele falava, e trabalhava para a NPR News.

Eu disse "Você precisa de alguém que traduza pra você?"

E foi assim que comecei a me virar.

"Se tivesse ficado na Flórida, eu teria morrido na Flórida."

Se eu tivesse a chance de fazer tudo de novo, eu preferia mil vezes vir para cá que ir para a prisão nos EUA. Hoje eu acho que foi o plano de Deus me fazer ser preso e deportado. Eu ia acabar atirando em alguém, ou ser pego no fogo cruzado. Não tenho dúvidas, se tivesse ficado na Flórida, eu teria morrido na Flórida. Eu não teria minha mulher e meus filhos, as pessoas que me inspiram, que me mantêm vivo.

Olha, eu era um merda nos EUA. Eu era só um traficante, um detento. Então ser deportado para o Haiti foi a melhor coisa que aconteceu comigo. Nunca me meti em encrenca no Haiti. Não tenho ficha criminal, tenho carteira de motorista. Não roubo ninguém. Não tenho uma má reputação. Sou um jornalista respeitado que já trabalhou com o LA Times e o Miami Herald. Trabalho muito para que meus filhos tenham chances. Trabalho como tradutor, mas também preciso fazer outras coisas. Vendo Coca-Cola. Tenho um negócio de carvão — vendo carvão vegetal para ferver água e cozinhar. Vendo sacolas de água, essas sacolas plásticas transparentes, essas que você vê pelo bairro. Sim, vendo água também. Porque tudo custa alguma coisa em Porto Príncipe. Você tem que comprar água. Pra minha sorte, tenho um refrigerador e um freezer em casa, então compro galões por US$3 ou US$4 e congelo. Vende mais rápido.

Nossa casa está aberta para negócios. Minha esposa vende carvão. Ela também vende pèpè, arroz e feijão na nossa casa. As pessoas procuram por ela. Sou um cara positivo. Sempre achei que conseguiria abrir um negócio. Não importa que negócio, vou tentar fazer dar certo. Todo trabalho é se virar. Eles têm uma palavra para isso em crioulo. Brase. É uma palavra que uso o tempo todo.

Esta é uma versão resumida da história de Jean Pierre do livro Lavil: Life, Love, and Death in Port-Au-Prince , editado por Peter Orner e Evan Lyon , que saiu pela Verso Books. Agradecimento especial aos editores Laura Scott e Jean Pierre Marseille.

Tradução: Marina Schnoor

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