Identidade

Usar uma cintaralha mudou o jeito como vejo o sexo

“A cintaralha é a domadora definitiva dos homens... E como ter uma arma nuclear no seu arsenal.”
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez
Sirin Kale
Como contado a Sirin Kale
pegging
Ilustração por Niallycat.

Minha Primeira Vez é uma coluna e podcast explorando sexualidade, gênero e fetiche com os olhos atentos de uma virgem. Todo mundo sabe que “primeira vez” envolve muito mais que perder a virgindade. De experimentar com o kink a apenas tentar algo novo e emocionante, todo mundo passa por milhares de primeiras vezes na cama – é assim que o sexo continua divertido, certo?

Aqui, falamos com a blogueira de sexo e relacionamento Nichi Hodgson sobre sua primeira vez usando uma cintaralha em alguém. Ouça Minha Primeira Vez no Acast, Google Play, Apple Podcasts, Stitcher ou na sua plataforma favorita de podcasts.

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Eu era estagiária numa revista erótica agora extinta quando conheci a dominatrix residente na festa de fim de ano da firma. Ela me perguntou se eu queria ser a assistente baunilha dela, e como eu não estava recebendo lá mesmo, pensei “Posso muito bem tentar”.

Na época eu não sabia nada sobre cintaralhas e pegging – nunca nem tinha visto isso em pornôs. O pessoal chamava a prática simplesmente de cintaralha na época [o termo pegging foi cunhado pelo colunista de sexo Dan Savage em 2001]. Ela teve que me ensinar tudo. Ela me mostrou seu equipamento: um harness de couro feito sob medida, vários consolos de diferentes cores, grossuras e formatos.

Assisti ela comendo outras pessoas e vi o prazer que os homens tinham com isso – muitos homens no mundo estão desesperados para experimentar pegging. A visão de uma bela mulher vestindo couro e usando uma cintaralha é maravilhosa! É um triunfo. Todo mundo deveria ver pelo menos uma vez na vida.

Uma vez, um cara agendou uma sessão com cintaralha com a dominatrix. O sonho dele era ser penetrado por duas mulheres diferentes. A coisa começava com uma sessão de spanking e humilhação por pinto pequeno, depois a dominatrix fazia o cara adorar o pênis dela. Depois de um tempo, ela disse “Chega disso, é hora de ser enrabado”.

Ele ficou de quatro. Ela colocou uma camisinha no consolo, muito lubrificante, e começou a usar os dedos para abrir o cara. Aí ela meteu nele, primeiro devagar, depois foi aumentando o ritmo e a profundidade, com ele se masturbando ao mesmo tempo.

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Ele gozou, e depois de descansar um pouco, ela disse “Jamie” – meu nome de trabalho na época – “vai perder sua virgindade de cintaralha hoje”.

Ela me levou para comprar minha cinta uma semana antes; o consolo tinha uns 15 centímetros e uma boa grossura. Lembro de gostar muito do efeito geral quando me vi no espelho. A dominatrix colocou uma camisinha em mim, lubrificante e me mostrou o que fazer. O cara já estava bem aberto nesse ponto, então não precisei de muitas preliminares – simplesmente o penetrei. Lembro claramente da cena; foi hipnótico.

Comer esse cara mudou minha perspectiva sobre sexualidade. Fiquei mais empática com os homens. Comer alguém, fisicamente, dá bastante trabalho. Quando era mais nova, eu não fazia muito esforço quando estava transando, em termos da penetração e mudar posições. Além disso, quando alguém abre seu corpo pra você, a pessoa está bastante vulnerável – você tem muito mais poder. Nunca pensei sobre o sexo assim porque nunca me senti fisicamente vulnerável do mesmo jeito.

Eu não estava excitada, mas a experiência foi psicologicamente interessante. Cintaralha é a domadora definitiva dos homens. Eles adoram. É como ter uma arma nuclear no seu arsenal.

Continuei trabalhando como dominatrix, atendendo meus próprios clientes. Muitas vezes, você precisa decepcionar um cliente que assistiu pornô hardcore e quer ser penetrado com toda a força logo de cara. Mas se você não tem muita experiência nisso, não dá pra ser penetrado assim. Quando você começa a sentir a resistência no corpo de alguém, é preciso parar; ou vai machucar a pessoa. Então a fantasia nem sempre combina com a realidade.

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É difícil pra mim penetrar alguém por quem estou apaixonada. Há uma troca de energia – para quase todos os homens, sentimentos perturbadores vão surgir depois. Mesmo sonhando se submeter a uma mulher, eles temem perder alguma coisa no processo de uma mulher te comer. Os homens podem se sentir depreciados, constrangidos ou se arrepender depois – o que é interessante, porque as mulheres são penetradas o tempo todo, mas não se sentem subjugadas.

Quando parei de trabalhar como dominatrix, fiquei bastante cautelosa sobre penetrar homens em relacionamentos românticos. Mesmo caras que diziam que gostavam, eu sentia que eles estavam vendo a dominatrix, não a pessoa. Conheci um parceiro que gostava muito de pegging, e senti orgulho dele por ser honesto sobre seus desejos.

Usei a cintaralha com ele algumas vezes em um ano. Lembro que a primeira vez que fizemos ele estava deitado de costas, olhando pra mim, para podermos nos beijar. Foi algo mais íntimo – menos uma questão de ser comido e mais dele se entregando pra mim. Um homem ceder assim é muito sexy.

Penetrei ele por uns 15 minutos. Foi uma experiência sexual muito saudável; estávamos envolvidos e presentes. Foi uma coisa sensual e carinhosa, não uma questão de humilhação. Essa é uma coisa fantástica da cintaralha. A experiência pode ser como você quiser – o limite é a sua imaginação.

Uma cintaralha tem que parecer uma extensão do seu corpo para você realmente se sentir no controle dela. O melhor é comprar um harness e consolos separados de diferentes tamanhos, já que eles costumam ter uma qualidade melhor e você pode ir trabalhando com seu parceiro por vários tamanhos.

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Muitos homens ficam apreensivos em tentar coisas novas, o que os impede de relaxar e desfrutar a penetração. Se você tem alguém curioso com pegging, leve o cara para um banho e o ensaboe para ajudá-lo a relaxar. Não faça um enema nele – isso só deixa mais água no corpo, criando mais caos. Você vai precisar de muito lubrificante.

Todo mundo pode fazer pegging. É preciso trabalhar isso gradualmente, e o homem precisa estar realmente interessado em experimentar. Acho que tem um número surpreendente de caras interessados na prática por aí. E muitas mulheres ganhariam confiança sexual usando uma cintaralha.

Quando senti que eu podia usar um pênis e dominar alguém desse jeito, a mesa virou. Penetrar homens me ajudou a não ter medo da sexualidade masculina. E mostrou como homens podem ser vulneráveis – se foram abertos o suficiente.

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