Oito mil quilómetros de carro por África em imagens
Foto por Luiza Lacava

FYI.

This story is over 5 years old.

Fotografia

Oito mil quilómetros de carro por África em imagens

“Entender a realidade de África obrigou-me a continuar a reflectir sobre o modelo de desenvolvimento que construímos e a procurar soluções para melhorar a situação".

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

A criatividade não tem que ter fronteiras, literalmente. Também não pode deixar de ter como foco central as pessoas. Juntando estas duas ideias, o Instituto Europeu de Design organizou uma viagem para reflectir sobre a sociedade africana, através de diversas expressões artísticas: vídeo, fotografia, ilustração… Alunos e ex-alunos do IED Roma, IED Milão e IED Barcelona percorreram 8.400 quilómetros de carro para conhecerem, conviverem e darem voz a diferentes realidades da Namíbia, Angola e África do Sul.

Publicidade

Neste artigo apresentamos as fotografias de uma das designers que esteve presente nessa viagem, Luiza Lacava, ex-aluna da Licenciatura em Design Gráfico, do IED Barcelona, e falamos com ela sobre a viagem e sobre o que encontrou pelo caminho.

VICE: Qual era o objectivo desta viagem por África?

Luiza Lacava: Oficialmente, durante a viagem, a minha função era documentar escolas, hospitais e diversas instituições não governamentais que visitámos e que se dedicam a ajudar pessoas marginalizadas pela sociedade. Fazia parte de uma expedição educativa que surgiu no Instituto Europeu do Design e que tinha como objectivo reflectir sobre a sociedade, africana através de variadas expressões artísticas.

Éramos uma equipa internacional composta por fotógrafos, videomakers, ilustradores e artistas de diferentes nacionalidades. Percorremos mais de 8.400 quilómetros para conhecer, conviver e dar voz às diferentes realidades da Namíbia, Angola e África do Sul.

Se tivesses que definir o tema destas fotografias, qual seria? O que é que querias contar com elas?

Estas fotografias são o resultado de uma manhã livre num bairro bastante peculiar em que estava hospedada, em Walwis Bay, uma cidade costeira na Namíbia. É um registo pessoal de um sítio que me chamou a atenção pela sua originalidade e que fotografei porque quis registar a vida que lá se vive, para não me esquecer dos detalhes com o passar do tempo. Pode ver-se o quotidiano do bairro e as suas pessoas.

Publicidade

As imagens retratam uma realidade simples, de um bairro pequeno e pacífico, onde as pessoas se conhecem, ouvem musica e dançam na rua, pintam as suas casas de várias cores e dão aos filhos nomes de jogadores de futebol famosos.

Foi a tua primeira vez por essas terras?

Não era a minha primeira vez em África, mas na Namíbia sim e, tendo em conta os motivos da viagem, estivemos em sítios isolados que não estão nas rotas turísticas. Acho que, para mim, isto foi um grande presente. Tive a oportunidade de experienciar muitas realidades diferentes. Estivemos em cidades urbanizadas como a capital, Winhoek, muito diferentes de como se vive nas zonas mais rurais no Norte, como Opuwo e Nyangana, por exemplo.

O que é que te chamou mais a atenção nesses países?

Acho que o que mais me marcou, tanto durante como depois da viagem, foi sentir na pele a experiência de que nós, os ocidentais, nos sentimos no direito de chegar aos sítios e impor hábitos de consumo e uma forma de viver que nem sequer connosco funciona.

Depois de tantos quilómetros percorridos, a tua percepção prévia do Continente mudou? De que forma?

Viajávamos de carro e isso a mim fez-me reflectir muito. Não era só viajar do ponto a A ao B, todo o percurso continha muita informação. Para além disso, quando tiras fotografias e estás sempre dependente do ambiente, não paras de observar e prestar atenção àquilo que te rodeia. Fascinava-me ver como, pouco a pouco, a vegetação mudava: apareciam árvores novas, animais diferentes e a palete de cores ia variando segundo as horas do dia.

Publicidade

Acho que antes de ir fiz o exercício de desmontar qualquer noção prévia que pudesse ter sobre o Continente. Não acho que seja possível preparares-te totalmente para este tipo de experiência, porque haverá sempre algo a surpreender-te, mas acho que ter estado presente e mostrar-me com uma página em branco ajudou-me muito a vivê-la.

Achas que para um criativo é positivo conhecer África? Porquê?

Acho que é positivo para qualquer pessoa que queira conhecer a vida para além do que a rodeia, vás onde vás, faças o que fizeres. Igualmente, como designer, acredito que não só devemos ser conscientes da situação actual do Planeta, como envolvermo-nos urgentemente no uso de materiais sustentáveis, no crescimento da população local, nos fluxos migratórios… Ao terminar o curso saímos com uma visão muito inocente e, ainda que tenhamos claro que queremos contribuir para que o Mundo seja um lugar mais justo, faltam-nos exemplos práticos. Entender a realidade de África obrigou-me a continuar a reflectir no modelo de desenvolvimento que construímos e em procurar soluções para melhorar a situação.

Esta expedição foi promovida pela Creativi Senza Frontiere, grupo sem fins lucrativos do Instituto Europeu de Design, com a colaboração da organização MotoForPeace e apoiada pela fundação Humacoo (Human Cooperation ONG). Nos próximos meses será impresso um livro que permitirá angariar fundos para os centros visitados durante a expedição.

Publicidade

Segue a VICE Portugal no Facebook, no Twitter e no Instagram.

Vê mais vídeos, documentários e reportagens em VICE VÍDEO.