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Sexo

O que fazem as pessoas enquanto a sua cara-metade está a pinar com outro

Tentar fazer o mesmo como vingança, cozinhar um jantar delicioso para fazer com que o outro se sinta mal quando chegar a casa, ou fumar um cigarro com coca.
CS
ilustração por Carla Sánchez
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez
ilustração coisas que as pessoas fazemenquanto os namorados estão a pinar com outro
Ilustração por Carla Sánchez.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

Fazer um esparguete à carbonara. Ir comprar discos. Observar as formas estranhas que os azulejos do chão do centro comercial fazem. O que fazem exactamente as pessoas no momento em que sabem que alguém está a fazer sexo com o seu namorado/a? Não me refiro a um "que fazem" geral, como considerarem acabar a relação ou calarem-se e sofrerem em silêncio, refiro-me a um "que fazem" literal e prático. Que diabos fazem as pessoas durante as horas em que sabem que um desconhecido (ou não) tem os genitais comprimidos contra os do seu namorado/a?

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Jogar solitário no windows? Limpar a casa? Encher o frasco de gel de duche com shampoo e vice-versa? Como é que se vivem os momentos de puro sofrimento? Claro que também existe a possibilidade de que se trate de uma relação aberta, na qual tenham acordado fazer sexo com outras pessoas e, quando isso está a acontecer, alugam um filme, fazem pipocas e passam uma noite tranquila a ver a merda dos Aristogatos. Bem, foi isto que perguntámos a várias pessoas.


Vê o primeiro episódio de "Slutever"


FUMAR UM CIGARRO "ESPERTO"

"Eu andava com um tipo que me convidou para a festa de anos dele. Mais concretamente, a festa de anos em que estava a ex-namorada dele. Mais concretamente ainda, a festa em que estava a ex-namorada com quem se reconciliou e foram para a cama ali mesmo, enquanto eu estava na sala com os amigos dele e com o presente que lhe tinha feito à mão. Enfiaram-se os dois num quarto e saíram todos despenteados e com a roupa mal posta, muito óbvio e pouco discreto.

Toda a gente sabia que estavam a pinar apesar da música estar muito alta, por isso enquanto eles pinavam eu fumei um 'esperto' [cigarro com coca] e fiquei à conversa com os outros convidados, a tentar divertir-me, falava com toda a gente e tentava mostrar que me estava nas tintas, mas por dentro estava a ser horrível, a sentir-me uma parva e a pensar porque raios é que ele me tinha convidado. O presente que eu lhe tinha feito à mão era uma espécie de um dicionário da relação que não tínhamos. Patético. Um suicídio. Andávamos há oito meses, não contínuos, mas eu tinha 19 anos e deixei-me ir, estava in love". - Carmen, 25 anos

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SER A NAMORADA PERFEITA PARA QUE SE SINTA AINDA PIOR

"Bem, eu uma vez fiz o seguinte: dediquei-me a passar a ferro pela primeira vez na vida. Tudo - até boxers. Arrumar a casa. Preparar uma massa de ricotta e espinafres para poder fazer canelones no dia a seguir. E depois fui a pessoa mais amorosa e simpática do mundo, não lhe ia dizer nada obviamente. E, quanto mais simpática eu era, mais via que o outro se sentia culpado. Desfrutei bastante, sinceramente. Por causa disto, levou-me a jantar a um restaurante de duas estrelas Michelin a que eu sempre tinha querido ir e ofereceu-me um tablet. E fez-me muitos minetes durante esse mês. E eu fui toda amor, do género 'se me olhares bem nos olhos vais perceber que eu sei, por isso faz favor de compensar'.

Sentia raiva no principio, mas a verdade é que sou demasiado narcisista para deixar que isto me afecte. Ponho-me sempre muito na defensiva, tipo 'Pf, se achas que a outra te vai aguentar, força nisso, até te encorajo, a ver como é que isso corre'. Não tinha grande alternativa, não ia acabar com o energúmeno por causa disto. Mas, ele sentiu-se pessimamente, muito pior do que imaginei. A mim dava-me vontade de rir, vê-lo ali destroçado durante semanas, a enviar mensagens aos amigos a dizer "Preciso de falar com alguém". O gajo contou-me a verdade só depois de termos acabado. Antes não, mas ele sabia que eu sabia porque, obviamente, antes disso nunca lhe tinha passado as camisas a ferro". - Sara, 33 anos

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IR AO TEATRO E JANTAR COM AMIGOS

Eu e o meu namorado temos o acordo de poder fazer sexo com outras pessoas que nos atraiam sexualmente. Aliás, ele ontem esteve com outra e, no entretanto, eu fui jantar e depois ao teatro com umas amigas. E esta manhã tinha cabeleireiro. Fui porque eram os anos de uma amiga e a marcação no cabeleireiro já a tinha há um mês, ou seja, não foi por causa de ele estar com outra.

Mas, não me incomoda nem fico a remoer enquanto está a acontecer. A peça de teatro era boa e o tempo passou rápido. Como já o vi a fazer sexo com outras (quando fazemos trios) não me custa. Eu sei que a qualquer momento posso (tal como ele) fechar a relação ou pôr as regras que quiser, o que me dá tranquilidade. Falamos muito sobre isto: o que nos dá medo, o que não, o que eu preferiria que não fizesse… Essas coisas. Sabes esse homem ou mulher (e de certeza que te vem logo à cabeça) com quem, devido às circunstâncias, nunca pudeste fazer sexo, mas sempre o idealizaste? Dou-te já o spoiler que o mais provável é que o sexo com essa pessoa seja decepcionante.

A diferença entre nós e o resto das pessoas é que eu deixo-o descobrir por si próprio, tal como ele me deixa a mim. Assim não ficamos com a vontade 'entalada'. Claro que a possibilidade de que isto corra mal passa-nos pela cabeça. Mas, se o teu namorado/a te deixar, porque se apaixonou por outra com quem pinou, com o teu consentimento, honestamente acho que aconteceria de qualquer forma. Com ou sem o consentimento. Talvez só aos 40 e não aos 30, mas o resultado seria o mesmo". - Mireia, 27 anos

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PASSEAR COM UMA AMIGA MUITO GIRA

"Quando sei que a minha namorada está com outro, o ideal é eu estar a foder também, assim é indiferente, a coisa fica equilibrada e não me sinto mal. Mas, se saio para tentar engatar e fracasso, isso já é terrível. A ideia é que tenho que estar a fazer coisas para mim, se assim é, não me importa que esteja a pinar com outro. Por exemplo, se estou com amigos a tocar música, não há problema. Se vou ao cinema é uma merda, porque não me consigo concentrar - mas, se sou eu a fazer um filme, então é-me indiferente. Ela ali a pinar e eu a fazer um filme, ela está a perder tempo e eu sou o maior.

No entanto, quando faço coisas relaxadas (ler ou ver filmes), isso é o pior, afundo-me na cama e não faço nada. Outro bom truque é ter uma amiga muito gira. Eu tenho uma e quando me acontece alguma coisa do género, que me metam os cornos, vou sair com ela, passeamos e saímos à noite e quem nos vê acha que andamos, ou que fodemos e essa sensação já me anima o suficiente para esquecer o que a minha namorada anda a fazer. 'Foda-se, este gajo anda enrolado com esta boazona', pensam as pessoas. Não ando, mas gosto que pensem isso. Acabo eu próprio por acreditar". - Néstor, 29 anos

PINAR COM OUTRA PESSOA PARA EQUILIBRAR O UNIVERSO

"Um fim-de-semana, a miúda com quem andava foi a Barcelona ver "duas ex-colegas de trabalho", só que eu sabia que não eram "duas ex-colegas de trabalho", mas sim um gajo com pila. Por isso, nessa noite fui sair com amigos, com muita vontade de engatar e acabei a noite a fazer sexo com uma. No dia seguinte, a ratar nas redes, descobri que - obviamente - a minha namorada estava de facto com um gajo de Barcelona, não com "duas ex-colegas de trabalho". Passei o fim-de-semana fodido, magoado e chateado, mas a pinar outra.

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Obviamente que não contei à minha namorada dessa outra miúda, nem ela a mim do tipo de Barcelona, apesar das minhas perguntas incisivas. Ainda assim, quando ela voltou a Madrid acabámos, bem, ela acabou comigo, suponho que por preferir estar com o outro (agora estão juntos). De qualquer forma, gosto de pensar que enquanto ela estava no autocarro Madrid-Barcelona, eu estava com outra, enquanto ela comia uma sanduíche de merda da estação e fantasiava com o outro gajo. Não foi por vingança, porque ela nem nunca soube, fi-lo mais para equilibrar as coisas, uma vingança interna para libertar energia para o cosmos". - Miguel, 27 anos

STAR WARS

"Andava com uma rapariga, mas tive que voltar à minha cidade natal por razões familiares e, pouco a pouco, fui percebendo que ela andava metida com outro. Eu dizia-lhe que estava a sofrer, perguntava-lhe se estava com alguém e ela dizia-me que eu era um "machista controlador". Certa noite, em que eu sabia que ela ia sair e que ia estar com esse outro gajo, fui ao cinema ver Star Wars: Episodio III - A Vingança dos Sith. No fim do filme, tinha chamadas não atendidas das amigas dela. Quando devolvi a chamada, contaram-me que ela estava com outro. Acabei com ela imediatamente a seguir". - Diego, 32 anos

CHORAR E COMPOR MÚSICAS DE NOISE

"Bem, eu o que faço é chorar, embebedar-me e mandar mensagens a pessoas para tentar pinar (por esta ordem), partir coisas, mandar mensagens e ligar à minha namorada para que ela se sinta mal (no caso de não ter sido consentido e eu tenha descoberto), compor canções noise e, às vezes, masturbar-me a pensar em como estarão a pinar a minha namorada". - Jaime, 30 anos

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FAZER UM BROCHE NO BURGER KING

"As vezes que descobri fiz várias coisas: chorar no balcão de um bar quando estava muito bêbada, fazer um broche a um amigo na casa-de-banho do Burguer King (assim, sem jantar), fazer um trio com outro casal por vingança, ouvir músicas deprimentes ou tomar um comprimido e ir dormir. Também já fiz a cena mítica de me meter num taxi e dizer 'siga aquele taxi!', em que ia ele com a amante" - Laura, 32 anos

FICAR A VER

"No meu caso foi sempre consentido e sempre o fizemos com o outro a ver, seja em trios, seja - no meu caso - como espectador, a ver e a masturbar-me. Ali fico, sentado na escuridão, a beber um gin tónico. A cara iluminada apenas pela luz do cigarro, a aproveitar o espetáculo.

A última vez que fizemos isto foi com um grande amigo, de confiança, que a minha namorada acha muito atraente. E, como sei que o acha tão sexy, pela primeira vez deixa-a dormir com ele e eu fui para outro quarto. Sei que o fizeram de manhã, por isso posso dizer que a ultima vez que soube que a minha namorada estava a comer outro, eu estava a dormir tranquilamente no quarto do lado". - Álvaro, 25 anos


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