Este artigo foi publicado originalmente na VICE ES.A menstruação é cada vez menos tabu. As mulheres tornaram o tema visível de inúmeras maneiras, transformando o seu significado e como ela é representada culturalmente, convertendo-a inclusive num símbolo de poder. Hoje, parece ser uma questão muito mais banalizada do que era há décadas, quando quase não se ouvia uma conversa sobre o período, mas mesmo assim, para a maioria dos homens, parece ser uma realidade absolutamente alheia e desconhecida.Ainda me lembro da apresentação sobre educação sexual que tivemos na primária, rapazes sentados de um lado e raparigas do outro e tínhamos que aguentar o riso quando alguém dizia as palavras "pénis", "vagina" ou "preservativo". Como explicar a tantas crianças algo tão complexo como as relações sexuais ou o ciclo menstrual da mulher sem deixar escapar piadas sobre engravidar ou deitar sangue?
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Lembro-me de, já no liceu, haver raparigas que se aproximavam envergonhadas ao professor para pedirem, em segredo, para irem à casa-de-banho quando não era permitido, intuindo ao resto da turma que, para serem feitas excepções, só podia ser "o período" - algo que os rapazes só mencionavam às raparigas quando era para justificar a sua atitude agressiva ou irritada. “Tive namorados que me disseram para parar de usar o período como desculpa para as minhas mudanças de humor. Também recebi o comentário típico de 'semana da história, semana de sexo oral' ”, conta Alessandra.Já a Claudia, de 25 anos, diz-me que considera importante "estar com alguém que não retire crédito ao meu estado emocional simplesmente por estar nesses 'dias do mês'". Apesar de Alessandra, de 26, salientar que o que a preocupa nesse sentido é "estar mal e cansá-lo com as minhas inseguranças e mudanças de humor. O meu namorado preocupa-se quando estou assim e a verdade é que é bastante compreensivo. Embora eu tenha estado com outros homens que me disseram para parar de usar o período como desculpa para justificar as minhas mudanças de humor ".Várias mulheres com quem falei contaram-me que os seus parceiros são conscientes da TPM e que se envolviam no tema, como no caso de Itziar, de 21 anos, que me disse que o seu namorado não só está ciente das dores e alterações de humor que ela sente durante o ciclo menstrual, como também se responsabiliza pelas tarefas durante essa altura, para tornar a situação mais suportável para ela.Mas, no geral, a educação penosa que recebemos e que temos incutida há muito, faz com que gerações e gerações de homens descartem completamente esse problema - chegamos a sentir até repulsa pela menstruação. Essa rejeição é tanta que é o calendário menstrual que configura a actividade sexual, tal como acontece com Hannah: “Só houve um homem com quem estive que não tinha problemas em fazer sexo oral durante a menstruação, visto que ainda por cima eu uso o copo menstrual e se pode praticar sexo oral sem problemas, porque não mancha nem incomoda. ”A Claudia tem uma história parecida, mas com um final diferente: "Há uns anos tive um encontro com um homem que me sugeriu vir a minha casa e eu aceitei, mas estava com o período e pensei que isso iria ser um problema, que podia interferir com o interesse dele por mim. Por isso decidi não o avisar de antemão e, quando chegámos a casa, fiz-me de surpreendida. Ele não se foi embora, mas até hoje acho que ele não teria vindo a minha casa se tivesse sabido, ainda no bar, que eu estava com o período e que iríamos estar sexualmente condicionados. o que me parece bastante triste. Não voltámos a combinar nada até um mês mais tarde.Talvez um futuro no qual os homens tenham na carteira um tampão de emergência caso uma mulher venha a precisar possa pareça paródia, mas devíamos começar por desaprender o que sabemos sobre a menstruação, trabalhar na nossa empatia (mas façamo-lo com seriedade) e começar a encarar com maturidade a menstruação das mulheres que nos rodeiam.
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Lembro-me de, já no liceu, haver raparigas que se aproximavam envergonhadas ao professor para pedirem, em segredo, para irem à casa-de-banho quando não era permitido, intuindo ao resto da turma que, para serem feitas excepções, só podia ser "o período" - algo que os rapazes só mencionavam às raparigas quando era para justificar a sua atitude agressiva ou irritada. “Tive namorados que me disseram para parar de usar o período como desculpa para as minhas mudanças de humor. Também recebi o comentário típico de 'semana da história, semana de sexo oral' ”, conta Alessandra.Já a Claudia, de 25 anos, diz-me que considera importante "estar com alguém que não retire crédito ao meu estado emocional simplesmente por estar nesses 'dias do mês'". Apesar de Alessandra, de 26, salientar que o que a preocupa nesse sentido é "estar mal e cansá-lo com as minhas inseguranças e mudanças de humor. O meu namorado preocupa-se quando estou assim e a verdade é que é bastante compreensivo. Embora eu tenha estado com outros homens que me disseram para parar de usar o período como desculpa para justificar as minhas mudanças de humor ".
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Apesar da crescente pedagogia sobre os órgãos genitais femininos, que até recentemente era outro tabu e mistério para os homens mas que hoje já chegou às escolas, por exemplo em França, onde os alunos têm modelos 3D do clitóris para estudar em profundidade, não é assim com a menstruação, da qual mal conhecemos as fases. "Para o meu ex, as fases menstruais eram: "Bem, nota-se mesmo que te vai vir o período","oh … dói muito? não? Pinamos então!","precisas de mudar os lençóis…", e "está a durar demasiado esse teu período, ou não?" conta-me a Marta. Já a Hannah, enfatiza a falta de motivação dos seus parceiros em aprenderem mais sobre as fases do ciclo menstrual e a sua importância.Cerca de 73 por cento das mulheres sofrem de síndrome pré-menstrual ou TPM. Nós, homens, costumamos agir como se soubéssemos o que é, mas há mesmo muitas mulheres a sofrerem desta síndrome, como Hannah: “Tive dores de TPM muito fortes durante a adolescência, por isso, quando completei 18 anos, o meu ginecologista recomendou-me que começasse a tomar a pílula contraceptiva para aliviar a dor. Funcionou. Passei a sentir apenas o desconforto, sem tanta dor física. Contudo, comecei a ter sintomas psicológicos mais graves: mudanças de humor exageradas ou episódios de ansiedade e depressão "."É importante estar com alguém que não retire crédito ao meu estado emocional simplesmente por estar nesses 'dias do mês'"
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A Marta*, por sua vez, contou-me que "um dia, ia fazer sexo com o meu e ex e, quando estávamos prestes a começar, reparei que me tinha vindo o período. No primeiro dia eu quase não sangro, por isso nem dei importância e continuei. Ele parou-me e disse-me que tinha nojo de fazer sexo enquanto eu estivesse menstruada e comparou o período com um fluxo de fezes e urina. Como alternativa, propôs-me fazermos anal, que assim já não tinha nojo"Ele parou-me e disse-me que tinha nojo de fazer sexo enquanto eu estivesse menstruada e comparou o período com um fluxo de fezes e urina. Como alternativa, propôs-me fazermos anal, que assim já não tinha nojo."
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Uma mulher fértil terá a menstruação cerca de 450 vezes na vida, ao longo de cerca de 40 anos. O custo de produtos de higiene durante esse tempo segundo a Organização de Consumidores e Usuários (supondo que implicará o uso de 15.000 pensos ou tampões, são cerca de 416 caixas de 5 euros cada) é à volta de 2080 euros ao longo de todos esses anos, sem contar com os vários medicamentos para as dores e outros extras, tendo em conta também que os produtos menstruais ainda têm 10% de IVA, apesar das já várias promessas governamentais para que sejam taxados como bens essenciais. “Os homens deviam tentar normalizar a menstruação, isso já seria um grande passo para a tornar mais fácil para nós. Ou podem sempre ajudar a cobrir certos custos, como os de higiene, facilitar algumas das lides da casa ou, simplesmente, compreenderem a situação e a dor pela que estamos a passar. Ser mais compreensivo também é estar mais envolvido”, diz Itziar.
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“Eu acho que é essencial que os homens se envolvam e saibam como a menstruação afecta de forma diferentes as mulheres com que convivem. Acho que muitos homens se sentem sábios e envolvidos no assunto por conhecerem, unicamente, as regras de ouro da menstruação, acabando por pecar ao assumirem que essas regras são iguais com todas as mulheres com quem partilham o seu o dia-a-dia. Cada uma de nós tem uma relação única e pessoal com a menstruação; para cada uma de nós ela implica determinadas coisas e cada uma de nós tem a sua paranóia e medos. Acho que os homens se devem interessar pela maneira específica e subjectiva com que cada mulher vive a sua própria menstruação e não apenas pela maneira como isso os afecta a eles como parceiro”, diz Claudia.É normal que, como homens, pensemos que isto não tem nada a ver connosco, que é questionar um dos nossos privilégios mais primários. Mas devíamos fazer um esforço colectivo por ouvir e aprender.*O nome foi alterado a pedido."Podem sempre ajudar a cobrir certos custos, como os de higiene, facilitar algumas das lides da casa ou, simplesmente, compreenderem a situação e a dor pela que estamos a passar."
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