Entretenimento

Como o hypebeast de trinta e poucos anos substituiu o hipster

Eles trocaram o Vans puído por tênis atléticos. O apartamento deles tem cheiro de sândalo. Foi assim que eles evoluíram.
Ryan Bassil
London, GB
MS
Traduzido por Marina Schnoor
hypebeast new hipster male fashion trend 2019
Foto via Alamy.

Recentemente você colocou um tênis pesadão com amortecedor na sua cesta de compras? Cuidadosamente colocou máscara hidratante, sérum e um esfoliante suave no rosto durante uma ressaca? Se preocupa com contagem de fios em mantas e almofadas puramente decorativas? Se sim, olá. Tem uma boa chance de você ser parte da última tendência de moda/estilo de vida masculino que evoluiu do hipster.

Sabe, o hipster morreu faz tempo. Hoje em dia, anúncios reais de corretoras de seguro em estações de metrô descrevem pessoas que andam de scooter como hipsters (??). Mas o que a palavra significa hoje? Os antigos leitores da Pitchfork da era pré-Condé Nast foram substituídos por um novo fenômeno: hypebeasts de trinta e poucos anos que compram na Goodhood, curtem acessórios pra casa e velas caras, e têm uma conta bancária suave e/ou uma pilha de dívidas muito bem escondida.

Publicidade

Você provavelmente já viu esse pessoal. Eles estão no seu escritório usando um Adidas Ozweegos nude (tipo o Yeezys, mas não tão caro), uma camiseta básica da Supreme e calça larga de trabalho. Talvez você more, namore ou seja um deles, e nesse caso você manja das três coisas seguintes: o skatista Blondey McCoy, a marca de streetwear japonesa Beams e sabonete pra mão Aesop.

Esses caras não são o mesmo que os hypebeasts adolescentes que fazem fila de madrugada na frente da Palace. Eles não ligam realmente para “lançamentos” de streetwear – a não ser que seja um plano de investimento de longo prazo baseado em revender peças e merchandising da Supreme; os hypebeasts não seriam avistados em público usando os mesmos moletons que os moleques de 12 anos na fila da Supreme usam. Nem gastariam tempo procurando barganhas em sites de revenda como Grailed e Stockx. Eles são os mesmos hipsters que bebiam cerveja barata para “provar” o quanto eram alt-autênticos e “pobres” uma década atrás. Só que agora eles torram alegremente seu salário em moletons Aries.

Hypebeast 30s

Diferente do hipster de classe média baixa que nunca teve muita chance de progredir da carreira de barman, criador de conteúdo ou assistente de loja, o hypebeast trintão parece ter ascendido economicamente. Pelo menos é o que parece quando você vê a timeline dele no Instagram, notando como ele passou de um par de Vans por ano para um Air Max 90 novinho todo mês. Aí você percebe, através das fotos de viagens pro Brooklyn, Berlim e Barcelona, que eles sempre foram bem de vida – só que agora estão mostrando isso no outfit.

Publicidade

Mas não se engane, o hypebeast de trinta e poucos anos é muito classe média. Como eles conseguiram fazer vários estágios não-remunerados em publicidade por quase dois anos? É o posicionamento abençoado deles na hierarquia social que os ajudou a conseguir trampos bem-sucedidos como criadores de marketing, curadores e produtores de vídeo, ou até magnatas de negócios mesmo, e assim conseguir deixar uma grana considerável em qualquer bar da moda (sabe, microcervejarias com balcão feito de dormente de linha de trem e tal).

E isso não é ruim. Ter dinheiro não te torna inerentemente mau. Simplesmente significa que se você é um hypebeast trintão, tem uma boa chance de ter crescido num ambiente financeiramente estável – um que teve papel em te guiar para um futuro financeiro seguro, onde é possível ter um trabalho descolado e bem pago, e gastar dinheiro em skatewear de luxo em vez de canetas Mont Blanc e sapatos de couro Russell & Bromley. E se você não nasceu num ambiente financeiramente seguro? Que bom, mas você é uma espécie rara entre todos as jaquetas Norse Project.

Early 30s 2

Enquanto o hipster era mais irritante – afinal, esse é um termo depreciativo usado como insulto mesmo dentro da própria subcultura (maconheiros enchendo o saco de vegans, e vice-versa, por exemplo) – o hypebeast de trinta e poucos anos é uma inspiração. Pense nisso: nenhuma pessoa bem ajustada na vida realmente quer entrar na terceira década ainda sobrevivendo de cerveja vagabunda, empréstimo de amigos e lasanha congelada de promoção. O sonho é jantar num lugar diferente toda semana e ainda não ficar nem perto de entrar no cheque especial.

Publicidade

Apresentando: o e-boy

Mas tudo isso não é o simples subproduto de crescer. A ascensão do hypebeast de trinta e poucos anos é um fenômeno novo – quase como um novo subconjunto de classe social que, 20 anos atrás, deveria ter se assentado com filhos e uma hipoteca, mas em vez disso estava cheirando cocaína de uma chave num “bar que serve comida mas também vira balada depois das 23h”, com trilha sonora do DJ fornecendo vibes astrais pro pessoal comendo sushi.

Apesar deles provavelmente terem frequentado nu-raves no passado, e ainda saberem a letra de “Homecoming” do The Teenages, esses caras não se importam tanto com música hoje. É que não é mais uma coisa tão no radar como foi um dia. Eles gostam de pensar que estão mergulhando profundamente na playlist do NTS, quando na verdade estão mais pro Kendall de Succession da HBO que pra Gilles Peterson.

Agora, os caras que antes seriam pais nessa idade na real se transformaram em adultos não totalmente maduros chatos, com o costume discreto de usar drogas. E essa última parte é a coisa mais polêmica sobre eles. Diferentemente do hipster, o hypebeast de trinta e poucos anos não tem muita coisa pra dizer: eles não são controversos, estão desafiando limites ou criando arte. Não vai ter uma retrospectiva deles, como aqueles livros, memes e musiquinhas virais sobre os hipsters. Não vai rolar nenhum documentário.

Basicamente, o hypebeast de 30 e poucos anos é a mistura da popularidade do streetwear com o processo literal de envelhecimento daqueles que eram adolescentes quando a tendência estourou através do skate e lançamentos da Def Jam. Eles são o que acontece quando uma geração cresce, mas continua na mesma área para onde mudou com 20 e poucos anos. Eles são gentrificação e capitalismo combinados com uma vela de soja de âmbar e musgo carona, vendida numa área que costumava ser literalmente um lixão. Eles são esses malditos tênis pesadões com amortecedor.

@ryanbassil

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.