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O próximo UFC tem duas mulheres LGBT+ como protagonistas e isso é importante

O UFC 224 terá como card principal uma disputa entre Raquel Pennington e Amanda Nunes, mulheres queer que estão namorando pública e orgulhosamente outras lutadoras.
Cards do UFC 244, que rola neste sábado (7). Imagem: UFC/Reprodução.

Matéria originalmente publicada no Waypoint US.

Mesmo que você não dê a mínima para artes marciais, o UFC 224 (que rola neste sábado, dia 7) é um puta de um evento importante. Te digo isso porque sua luta principal — o destaque da noite, aquele que está presente em todos os pôsteres e material promocional — se dará entre duas mulheres orgulhosamente queer. Acredito que isto é inédito no UFC, a organização de maior visibilidade dentro do MMA.

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Amanda Nunes detém o cinturão da categoria peso galo desde 2016, uma striker devastadora que também é faixa preta em jiu-jitsu. Ela também está em 12º no ranking por peso entre todos os sexos e classes. Raquel Pennington, por sua vez, está em segundo lugar na divisão, conhecida por ser uma lutadora bastante equilibrada.

Embedded é o nome de uma série documental produzida pelo UFC de forma a gerar hype em cima de suas lutas. Cada episódio mostra lutadores treinando e relaxando no conforto do lar, cercados por amigos e familiares. No primeiro episódio, vemos Nunes com sua namorada (e também lutadora do UFC) Nina Ansaroff, fazendo os preparativos para uma viagem e se divertindo juntas. Muitas vezes Nunes está no corner de Ansaroff, dando-lhe conselhos e a encorajando.

As duas são apresentadas como um casal amoroso que por acaso é composto por atletas de ponta ridiculamente talentosas.

Em outros tempos, não muito distantes, Ansaroff nunca que seria apresentada como a namorada de Nunes. Ela nem ao menos seria mostrada diante das câmeras. Talvez até metessem um barbado ali no meio pra tentar disfarçar alguma coisa.

Isso fica ainda mais aparente no trecho de Raquel Pennington, que começa com a lutadora de mãos dadas com sua noiva, Tecia Torres, também lutadora do UFC (que, veja só, luta na mesma divisão que Ansaroff, a dos peso-palha). Vemos fotos fofas do casal espalhadas pela casa. Elas se preparam para a viagem enquanto conversam sobre a luta.

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Sempre existiram atletas queer, é claro. Mas sair do armário a ponto dos comentaristas falarem sobre o tema (de forma positiva) ao notarem sua namorada ou esposa no público, como rolaria com qualquer atleta heterossexual, isso sim é de extrema relevância e incrível de se ver.

Gente de tudo que é posição política me pergunta o porquê disso o tempo inteiro. “Quem liga?” e eu responderei da forma mais sincera possível: visibilidade é algo que tem uma importância profunda. É, inclusive, um dos princípios fundadores do Waypoint, essa ideia de que representação e visibilidade são essenciais, que para muitas pessoas é sim vital se ver refletida na mídia a qual são expostas, seja ela ficcional, ou no caso dos esportes, uma analogia da vida real.

Além do que, significa muito pra mim a nível pessoal. Sempre fui uma atleta queer, mas só assumi isso há pouco, ainda mais com a constante lembrança de colegas de time, na faculdade, falarem sobre como achavam gays nojentos. Tudo isso bem na minha cara. Essas pessoas simplesmente não faziam ideia. Quando você treina com uma galera, segura seus cabelos enquanto vomitam, há uma intimidade no ar e eu simplesmente morria de medo que descobrissem quem eu realmente era.

Agora frequento minha academia de MMA e treino, onde ninguém dá a mínima pro fato de eu ser gay. Falo sobre minha namorada enquanto aquecemos ou limpamos o piso depois de cada treino. É uma situação confortável, positiva.

Tenho noção do tanto de trabalho que ainda temos pela frente de forma a tornar essa aceitação queer algo integral ao nosso mundo, mas só de ver que já progredimos tanto ao longo do meu tempo de vida me deixa com uma sensação enorme de gratidão. E muito disso ocorre por conta da presença de pessoas excepcionais na cultura como um todo: artistas, atletas, músicos, etc. que se assumem com orgulho e estão ali, visíveis.

Então, sim, isso importa muito pra mim. Pra mim e mais um monte de gente.

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