É hora de aceitar que o Drake é o maior rapper do momento
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É hora de aceitar que o Drake é o maior rapper do momento

O jabá do Spotify pode ter sido um saco, mas o dono dos maiores números da indústria provavelmente não precisava dele pra quebrar recordes com 'Scorpion'.

Nos últimos dias, como não poderia deixar de ser, muito tem se falado do Drake e seu quinto álbum solo de estúdio (lembremos que If You're Reading This It's Too Late e More Life são, tecnicamente, mixtapes). O rapper canadense lançou Scorpion nessa sexta (29) e, mais uma vez, virou todos os olhos de fãs de rap, jornalistas de som e consumidores de música pop no geral às 25 faixas em que trata de, entre outros assuntos, sua briga com Pusha T e Kanye West, seu filho recém-nascido (e mais ainda recém-revelado ao mundo) e, de uma maneira bem Drake, de antigos relacionamentos e atuais decepções amorosas.

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Talvez mais popular que o som do rapper canadense sejam as suposições comumente levantadas sobre Drake. Todo lançamento seu traz de volta à tona os mesmos assuntos do uso de ghostwriters, o bragadoccio pouco efetivo, o sentimentalismo exacerbado já característico do rapper, sua preferência pelos refrões cantados e muitas outras críticas direcionadas ao rapper ao longo de seus quase dez anos de carreira. Com Scorpion, porém, Drake parece ter dado mais uma razão para que boa parte do público pegasse no seu pé.

Junto com o lançamento do disco, Drake e sua equipe armaram uma campanha veiculada no Spotify que colocou o rapper como capa de todas as playlists na página inicial da plataforma, até mesmo aquelas que não continham nenhuma música dele. Na versão em inglês do aplicativo, as frases acima das playlists diziam “Have a happy FriDrake” e “Thank God it’s FriDrake”.

A campanha não foi muito bem entre os usuários do Spotify. Um usuário do Reddit chegou a relatar que conseguiu ter uma mensalidade reembolsada pela companhia porque, em teoria, a conta Premium deveria ser livre de propagandas.

A repercussão do disco, conforme alguns dias passaram, também teve de incluir os diversos recordes de streaming que Scorpion quebrou no curto período. Segundo a Billboard, Drake vai passar com facilidade o recorde anteriormente estabelecido com Post Malone e seu beerbongs & bentleys de 431,1 milhões de streamings em apenas uma semana – Scorpion, por enquanto, teve o total de 435 milhões em três dias e, em uma semana, deve ultrapassar 700 milhões. Na semana que vem, é esperado que o álbum estreie em primeiro lugar na Billboard 200.

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Não demorou, é claro, para que internautas fizessem associações entre o jabá do Drake no Spotify e o sucesso de Scorpion. "Drake está quebrando recordes de streaming como se a Apple e o Spotify não estivessem empurrando a música dele pelas nossas gargantas", escreveu um usuário no Twitter. Outro falou: "Não me impressiona o Drake estar quebrando recordes de streaming. Meu Spotify se transformou num Drakeify."

Esses comentários, o jabá do Spotify e os recordes quebrados, na verdade, só passam uma mensagem aos jornalistas, críticos e fãs de rap num geral: é preciso aceitar, urgentemente, que o Drake representa o maior nome do hip hop hoje em dia. Comercialmente, não há artista hoje no gênero que faça algo mais relevante ou de mais influência que o rapper canadense. E isso é importante até para que as críticas a ele façam mais sentido.

Quando leio as pessoas falando que Scorpion quebrou recordes apenas e somente por conta de sua divulgação, fico pensando que talvez elas não acompanhem a mesma indústria que eu. Os grandes números do álbum, claro, não surgiram apenas organicamente. Já com uma década de experiência, Drake conhece bem todos os truques do mercado em que está inserido e facilita sua própria entrada nas paradas ao, por exemplo, colocar faixas antigas e já tocadas à exaustão no disco, como "Nice for What" e "God's Plan", e encher o lançamento com desnecessárias 25 faixas. Ambas as medidas, segundo as novas regras da Billboard, facilitam que o disco consiga uma boa posição.

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Mas não é a primeira vez que o rapper alcança tais números. Se o novo álbum de fato estrear em primeiro lugar na Billboard 200 na semana que vem, será o oitavo lançamento do Drake a realizar o feito — todos desde seu álbum de estreia, Thank Me Later (2010). Drake também é dono de alguns outros recordes na plataforma, como o maior número de músicas a entrar nas paradas (154 no total), maior número de faixas a estar nas paradas ao mesmo tempo (24), artista a permanecer mais tempo nas paradas (431 semanas — o que dá o total de mais de oito anos), e maior número de faixas a estrear nas paradas (21).

Mais do que isso, as influências estéticas que o rapper teve no hip hop como um todo também são pouco reconhecidas. Drake é com frequência acusado de ter "amaciado" a cultura — ou seja, um dos responsáveis por ter tornado o ethos dos rappers um pouco menos macho e um pouco mais sensível. Afinal, não é todo rapper que, ao invés de um Jay-Z ou um Biggie, admitiria que quer ser o próximo Marvin Gaye. Talvez por conta disso, é possível afirmar que o status mais cantado, menos rimado, mais melódico e menos rítmico do hip hop atual possa ser atribuído ao rapper e alguns de seus contemporâneos.

Na entrevista que o Kanye West deu ao New York Times sobre o lançamento do ye, publicada na semana passada, o rapper fala sobre ter de superar o medo para voltar ao seu ritmo depois do cancelamento da turnê do The Life of Pablo. "Medo do quê?", pegunta o repórter, ao que Kanye responde: "Perder [o posto] de 'governante', 'rei', perder a 'coroa'. E chegou um momento que eu fiquei tipo, OK, você não é o rapper número 1, Drake é o rapper número 1, mas você pode ser o número 1 com sapatos, ou outras coisas."

Eu entendo a resistência que tanto Kanye quanto parte da indústria ainda têm em admitir a importância que um rapper como Drake tem. O canadense é dono de umas discografias mais inconsistentes do hip hop — Scorpion, na minha opinião, continua a provar esse ponto — e, em muitos momentos, falha em apresentar a confiança e agressividade que esperaríamos de um rapper do tamanho dele.

Mas se já houve algum momento de superar essa relutância, este é exatamente agora, enquanto Drake quebra recordes numa velocidade avassaladora e se torna mais influente que qualquer um de seus contemporâneos. Coloquemos o rapper em seu devido lugar de maior da indústria e comecemos, ao invés de duvidar de seus números ou questionar suas posições pessoais, a cobrar a consistência, qualidade e seriedade dos trabalhos que estarão entre alguns do mais consumidos desta década em alguns anos.

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