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Maratonistas estão usando maconha para sofrer menos nas longas distâncias

Correr chapado tem sido a solução para muitos atletas com pés doloridos e mente agitada.
Crédito: Cameron Zegers/Stocksy/Ryan Lees/Getty Images.

Em 2013, Carolyn Ford* começou a usar maconha para complementar seu regime de corridas de longa distância. Ford, uma profissional de relações públicas de 28 anos, moradora da cidade de Nova York, nos EUA, havia começado a treinar para sua ultramaratona de 160 quilômetros e descobriu que o tempo sobre seus pés era menos monótono e desconfortável. Uma sessão de treino típica pode durar até quatro ou cinco horas durante dois dias seguidos. A maconha, acreditou, deixaria as sessões mais suportáveis.

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“Eu vestia minha roupa de corrida”, ela conta “e, na porta de casa eu dava três ou quatro tragadas no meu bong, e então imediatamente iniciava a corrida”. Ela se descreve como uma “competidora ansiosa”, e também afirma que tinha dificuldade para processar alimentos enquanto corria – o que é uma necessidade se quiser queimar milhares de calorias no curso de um único treino. Além de acalmar seus nervos, afirmou, a maconha deu a ela o apetite de que precisava para suprir suas energias adequadamente.

Atletas que admitem sua relação com a maconha não é nada novo, é claro. Todo mundo, desde jogadores profissionais de hockey a corredores de elite estão cada vez mais anunciando os benefícios da ingestão de maconha, mais para aliviar a dor e aumentar o foco do que para obter vantagem sobre a competição. Como Ford comentou, “Ccorrer enquanto estou chapada é terapêutico. Isso me ajuda a me concentrar nos pequenos movimentos do corpo e a me adaptar adequadamente para melhorar minha forma”. Um estudo de 2016 descobriu que a maconha era a segunda droga mais utilizada pelos atletas – não como realçador de desempenho, mas de modo recreacional (o álcool foi a primeira).

Os médicos, é claro, estão relutantes em recomendar que as pessoas suplementem seus exercícios com maconha. Pouquíssimas pesquisas foram realizadas a fim de confirmar os benefícios que muitos atletas de resistência alegam ter. Ano passado, uma revisão de 15 estudos publicados ao longo dos últimos 40 anos concluiu que o THC não esteve associado com nenhuma melhoria no desempenho aeróbico ou na força, embora tenha ajudado a inibir a asma induzida por exercícios físicos em alguns participantes.

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“Temos visto algumas melhorias na capacidade respiratória, contudo, os resultados estão longe de serem conclusivos e tendem a ser muito ínfimos”, afirma Mitch Earleywine, professor de psicologia na Universidade Estadual de Nova York em Albany e autor do livro Understanding Marijuana. O impacto na dor é bem conhecido, mas isso ainda depende muito da dose, afirma. “Parece que uma quantidade pequena ajuda, mas uma dose mais alta parece agravar a dor. Fico apreensivo com a ideia de analgésicos durante o evento esportivo simplesmente porque atletas lesionados poderiam acabar piorando em vez de simplesmente parar.”

Algumas pesquisas ainda concluíram que o THC desestabiliza o exercício e que as pessoas apresentam níveis muito grandes de fadiga quando estão chapadas, possivelmente por causa de um aumento na frequência cardíaca, afirma Brook Henry, cientista pesquisador assistente do departamento de psiquiatria na Universidade da Califórnia, em San Diego. Muitas dessas pesquisas, entretanto, foram feitas décadas atrás e com um escopo bem limitado. “Todos esses achados envolviam a administração de cigarros com THC, mas nenhum artigo, até onde sei, avaliou a eficácia de outros constituintes da maconha – como o canabidiol (CBD). Há uma necessidade urgente de mais pesquisas nessa área.”

Enquanto isso, essas reservas da parte da comunidade médica não impedirão que os atletas de resistência continuem seus experimentos. O atleta de ultracorridas Avery Collins, do Colorado, por exemplo, compete rotineiramente em corridas de 160 quilômetros de distância ou mais. Assim como Ford, ele começou a colocar o THC em seu treino há quatro anos, ingerindo produtos comestíveis ou ocasionalmente tragando de uma caneta inaladora que leva consigo nas corridas.

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“A diferença imediata foi que eu não percebia em que velocidade estava correndo”, ele disse. “Me senti mais pleno e feliz, e também descobri que curtia cada vez mais cada corrida.” Collins afirma que agora suplementa a maioria de suas corridas com maconha, assim como a maioria dos ultracorredores que ele conhece pessoalmente. “Honestamente, não sei dizer quando foi a última vez que conheci um ultracorredor que não fosse usuário de maconha”, afirma.

Ele encoraja todos aqueles inclinados a tentar, contudo, pede para que mantenham uma dosagem pequena no início porque é muito fácil exagerar na dose.

“Uma vez usei muito e fiquei horas sentado no sofá”, ele contou. “Isso é uma tortura para mim.”

*Seu nome foi alterado.

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