Tecnologia

Cientistas detectaram uma anomalia debaixo da maior cratera da Lua

Um objecto cinco vezes maior que a Big Island do Hawaii está embutido debaixo de uma cratera na face oculta da Lua.
The Moon: Heather Smithers
A Lua, por Heather Smithers.

Este artigo foi originalmente publicado na Motherboard - Tech by VICE.

Um pedaço gigante de um material pesado detectado sob a maior cratera da Lua, pode ser o que resta de um antigo asteróide ou de um oceano de magma solidificado, garante um estudo recente da Geophysical Research Letters. A anomalia recém-descoberta é cerca de cinco vezes mais massiva que a Big Island do Hawaii, garante o autor principal do estudo, Peter B. James, professor assistente de geofísica planetária na Baylor University em Waco, Texas, EUA.

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"Tivemos que resguardar esta descoberta durante alguns anos, enquanto fazíamos as devidas diligência para garantir que o resultado fosse robusto, por isso é um alívio poder, finalmente, partilhar o artigo finalizado!", explica James à Motherboard por e-mail.

A massa está a quase 320 quilómetros abaixo da superfície da bacia do Polo Sul-Aitken (SPA na sigla em inglês), que é uma das maiores crateras conhecidas do sistema solar. Estendendo-se por mais de 2.400 quilómetros ao longo da face oculta da Lua - equivalente a pouco menos da distância entre Lisboa e Berlim, por exemplo - estima-se que a bacia do SPA tenha sido formada há cerca de quatro mil milhões de anos por uma rocha espacial de 160 quilómetros de largura, que chocou contra a jovem superfície lunar.

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Anomalia na bacia do Polo Sul-Aitken (SPA) basin anomaly. Imagem: NASA/Goddard Space Flight Center/University of Arizona

James e os seus colegas estudaram a Bacia SPA através do uso de conjuntos de dados recolhidos em duas missões lunares da NASA: a Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO) e a Gravity Recovery and Interior Laboratory (GRAIL). A LRO orbita a Lua há quase uma década e mapeou a topografia da sua superfície com detalhes sem precedentes. As duas sondas espaciais GRAIL tomaram medições extensas do campo gravitacional e da estrutura interior da Lua, antes de colidirem propositadamente contra a superfície lunar em 2012.

Ao sobreporem as observações da topografia da LRO com as da gravidade detectadas pela GRAIL, a equipa de James identificou a enorme massa sob a cratera, que não tinha sido tida em conta em estudos anteriores. A anomalia pode ser o núcleo rico em metal do antigo asteróide que criou a Bacia SPA, segundo os investigadores, ou pode ser o óxido solidificado dos restos de um vasto oceano de magma que existiu na superfície da Lua.

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"Recebemos comentários positivos de pessoas que simulam impactos e convecção do manto lunar, por isso estou optimista de que este resultado venha a motivar novos caminhos de investigação científica sobre a história da Lua", realça James. Agora, para descobrir se a anomalia é um núcleo de asteróide embutido ou um antigo oceano de magma, os cientistas terão de criar simulações mais sofisticadas de formação de crateras lunares e de convecção do manto.

Futuros astronautas que aterrem na Lua equipados com sismómetros também podem ajudar a resolver a questão, captando medidas minuciosas da gravidade na superfície da Lua. A missão Chang'e-4 da China, que está actualmente a operar na Bacia do SPA, limita-se principalmente a observações de superfície, mas até esses dados podem valer algumas informações úteis sobre a anomalia sublunar. "A Chang’e está a estudar rochas que foram formadas pelo mesmo evento massivo, por isso essas investigações fazem todas parte do mesmo esforço para esclarecer os detalhes desse impacto catastrófico", sublinha James.

Apesar de a Lua ser o objecto extraterrestre mais explorado pelos humanos, esta descoberta é um lembrete de que ainda mal arranhámos a superfície dos seus mistérios.


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