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BD

Que porcalhão, Sam Henderson!

WCs, banda-desenhada e revistas.

O Sam Henderson e mais uns amigos (entre os quais o nosso Johnny Ryan) passaram grande parte do ano de 2002 a desenhar alguns dos cartoons mais ordinários que já vi. Não ficam muito atrás dos do João Marçal. O Sam até já fez alguns trabalhos para os nossos compadres na VICE americana e o melhor de tudo é que grande parte destas obras de arte pode ser vista de graça no seu blogue The Magic Whistle. Se és um grande colado em humor escatológico, podes sempre arrotar 75 dólares na colecção completa através do Naked Rabbit. Mas, para além de cartunista, o Sam também é um coleccionador inveterado de cartoons antigos. No seu blogue, podem encontrar digitalizações de revistas famosas como a MAD, a National Lampoon ou a Esquire, bem como de revistas militares obscuras ou que gostariam de ser a MAD, a National Lampoon ou a Esquire. VICE: Onde é que foste buscar o nome The Magic Whistle?
Sam Henderson: No início dos anos 90, eu e o meu colega de quarto passávamos noites inteiras a ver televisão até tarde. Uma vez, estávamos a ver o All In the Family e ele pergunta-me: “É neste episódio que o Archie encontra um assobio mágico?” Também é uma piada privada sobre um amigo nosso ser líder de uma banda de marcha e de gostarmos de o imaginar a começar um desfile com o sopro de um assobio mágico. Andava a fazer mini bandas desenhadas com vários nomes e The Magic Whistle ficou. Onde é que encontras as revistas que publicas no teu blogue?
Colecciono cenas estranhas há imenso tempo e tive a sorte de o meu pai ter guardado tudo de quando era pequeno, por isso ainda tenho estas revistas todas no sótão. Alguns fãs também me mandam revistas e livros desde que criei o blogue.  Nunca foste processado por publicares tanto material alheio?
Estou protegido pelo Fair Use Act, que me permite publicar as coisas desde que não critique muito o conteúdo. Mas já houve alguns casos em que decidi não publicar certas coisas porque, apesar de achar que tinha esse direito, preferi não ter de pagar a advogados para defender esse direito. Como começaste a fazer estes pequenos cartoons e como é que os publicavas?
Comecei a desenhar para ter público. A maioria das pessoas começa a carreira a fotocopiar as suas próprias bandas desenhadas, por isso decidi fazer o mesmo. Enviei BDs minhas a outros cartunistas que admirava e alguns deles fizeram publicidade nas suas próprias publicações. A coisa foi crescendo aos poucos e comecei a preferir que fossem outras pessoas a publicar as minhas coisas. Mas o meu próximo livro vai ser publicado por mim, porque há poucas editoras no mercado e a maioria delas não quer publicar livros baratos.  E as tuas colaborações com o Johny Ryan e os outros?
Começaram como uma coisa social. Costumava sair com muitos deles quando vivia em LA. Éramos quase todos cartunistas ou trabalhávamos em animação e decidimos fazer jams, em que um de nós desenhava espontaneamente o que lhe vinha à cabeça e os outros continuavam. O Tom King e a Jeanette Moreno vieram de Austin, no Texas, onde também havia uma cena forte de cartoon, e mostraram-nos como faziam as mini-comics numa só folha de papel dobrada em oito partes, algo que acho que foi inventado pelo Chris Ware há uns 20 anos. E onde é que vais buscar inspiração?
Aos sítios do costume. Na biblioteca da minha escola primária tínhamos a colecção toda dos Peanuts. Devo ter requisitado cada volume pelo menos três vezes. Havia uma loja de livros e de discos que deixava os miúdos comprarem underground comix. Costumava ir a lojas que vendiam revistas todas as terças para ver se tinha chegado uma nova MAD, CRACKED ou CRAZY. Antes de dar para gravar qualquer coisa da televisão costumava correr para ver os desenhos animados da Warner Brothers. Eles têm um repertório de 35 anos de desenhos animados, por isso encontras sempre algo fixe, nem que seja só 15 por cento das vezes. Os cartoons que fizeste para a VICE são, surpreendentemente, os menos obscenos do teu portefólio.
Nunca pensei muito nisso. Não desenho para ver quão chocante consigo ser. Desenho o que me vem à cabeça, sem reflectir demasiado nisso. Qual é que era a tua revista preferida?
A MAD, provavelmente. Se perguntares a pessoal americano que trabalha nos média, provavelmente dar-te-ão todos a mesma resposta: a MAD foi a sua maior inspiração. Sempre gostei de coisas humorísticas, mas é raro rir-me daquilo que é suposto ser engraçado. Por que é que achas que esse tipo de revistas desapareceu das bancas?
Acho que é pelo facto de as pessoas já não lerem tanto. Todo o tipo de revistas tem baixado os seus números, é normal que as revistas de humor tenham sido as primeiras a desaparecer.  Ilustração por Sam Henderson e amigos