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ceca

Assardoa-me a passarinha

Mas sem açúcar, por favor.

Todos os anos me preparo com os melhores piropos para o dia 13 de Dezembro. É a romaria de Santa Luzia. Existem centenas de festas religiosas em Guimarães: da Ronda da Lapinha, às Nicolinas, Gualterianas, festas da Senhora da Luz, até ao passeio dos taxistas à Penha, no dia de São Cristovão — esta é uma das várias festas religiosas centenárias, com devoção por uma mártir (a Santa Luzia). Festa santa, é verdade, mas que toda a gente sabe que só se vai lá para o engate. O que interessa, nesta festa em particular, é que isto é uma espécie de dia dos namorados à antiga. Passo a explicar: frases como “dá-me a tua passarinha, que quero uma coisa docinha” ou “ó filha, comia-te esse doce com geleia” fazem todo o sentido neste dia, bem como também faz sentido abocanhar um sardão com gosto. É que, nesta altura, ali ao redor da Capela de Santa Luzia, é tradição oferecer sardões e passarinhas, doces feitos de calda de açúcar, tradicionalmente usados como desbloqueadores de conversa. Os rapazes vinham das aldeias, encontravam-se com as raparigas e a forma simpática de bater o coro era oferecer o sardão. Caso recebessem uma passarinha em troca, era traulitada garantida. Era uma forma arcaica de minar as miúdas, mas, em vez de arranjarem drogas de violação, cocaína e outras, os rapazes atiravam-lhes com um ataque de hiperglicose, que elas até andavam de lado. Tudo muito bonito e poético, mas mudam-se os tempos e mudam-se as vontades. E, assim, com a quantidade de calorias e açúcar que aqueles doces levam, neste momento acredito que a Organização Mundial da Saúde aconselhe a perguntar apenas, sem doces e singelamente: “Pinamos?” Perde-se no romantismo, mas evitam-se as cáries e zela-se pelo bem-estar.