Skate ao contrário e "Twin Peaks" dão o tom do novo vídeo de Alexandre Cotinz

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Skate ao contrário e "Twin Peaks" dão o tom do novo vídeo de Alexandre Cotinz

Imagens oníricas, repetições, trilha atmosférica e manobras desconhecidas regem "Doppelganger", a nova obra do videomaker paulistano.

David Lynch, pagode romântico em slow, remadas ao contrário, manobras que nem eu nem você sabemos o nome, muitas repetições… Encaixar tudo isso em um vídeo de skate é algo que só podia sair da mente de Alexandre Cotinz, skatista e videomaker paulistano que chega aqui na VICE Sports com sua nova produção, o vídeo Doppelganger. Não é só o nome que você vai achar estranho. Responsável por vídeos fundamentais da filmografia de skate no Brasil como Beats e Antihorário, Cotinz já é conhecido por seu trampo autoral nada convencional e agora encontrou inspiração no clima incômodo e soturno do seriado Twin Peaks. Com participação de skatistas de diversas partes do Brasil, da Venezuela e da Argentina, o vídeo apresenta o esporte de forma bastante plural, com edição torta e trilha sonora quase toda retirada da série. Flagra o papo que tivemos com o Cotinz e assista ao vídeo no fim da página.

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O que é Doppelganger?
A definição mesmo é "um monstro ou ser fantástico que tem o dom de representar uma cópia idêntica de alguém que ele escolhe". É tipo um sósia mágico, uma imagem idêntica de uma pessoa e é um bagulho que tem na série Twin Peaks, do diretor David Lynch. Além do anão que fala essa expressão na série e que usei no trailer, também aparece um doppelganger do Lynch criança. Como eu tava meio que copiando a série no máximo que é possível num vídeo de skate, me veio isso. É como se o bagulho fosse um sósia da série em vídeo de skate.

Como você fez a escolha de quais skatistas participariam do vídeo?
Na real, eu tô meio parado de filmar, não tô muito dedicado a isso atualmente. Aí achei uma VX barata pra comprar e, quando vinha algum amigo pra São Paulo e não tinha videomaker, eu colava nas sessões pra filmar. Começou quando vieram os camaradas do Peru, Argentina e Venezuela que estavam no corre mas não tinham muito quem filmasse. O Luis Moschioni e o Felipe Oliveira também colavam nas sessões e acabava rendendo legal. Depois passei um tempo em Goiânia e aproveitei pra filmar uns amigos por lá. Quando fui filmar a parte do Vitinho (Sussekind) em Floripa, acabei filmando mais gente lá também. Eu não escolhi, foi a vida que escolheu. Foi a galera que eu andei junto e não tinha com quem filmar.

Em seus vídeos você nunca tinha aparecido andando de skate e em Doppelganger tem uma manobra sua no meio da parte do Felipe Oliveira. Por que isso?
Porque o David Lynch aparece na série. Eu nunca coloco manobra minha nos meus vídeos, mas dessa vez achei que valia por causa disso.

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Cotinz em ação. Crédito: Fernando Gomes

Qual é sua onda com repetições? Você não tem pena de pedir aos skatistas pra acertar a mesma manobra diversas vezes, tipo o nollie rocks do Alexandre Calado no corrimão? 

Mano, essa ele mandou muito fácil, foi tranquilo. Mas normalmente eram os caras mesmos que pediam pra filmar de novo pra voltar a manobra mais perfeita ou era fácil pro cara acertar outras vezes. É uma brisa minha mesmo. Nesse vídeo também tem uma ligação com a sensação de agonia e incômodo da Twin Peaks e também da expressão doppelganger fazer referência às manobras duplicadas no vídeo.

Explica aí a parte do Fernando Denti.
Ele anda desse jeito brisado aí, que é o jeito que ele gosta de andar. Ele é artista, não marreta, não manda manobra pesada, tenta mostrar outra ideia e eu concordo muito com a ideia que ele passa andando. A maioria das coisas que ele fez ali qualquer skatista pode fazer. A maior habilidade dele não é exatamente a técnica, é a contravenção do bagulho, é fazer aquilo ali numa época em que 90% dos skatistas querem Street League e dinheiro. Também tem o fato de que normalmente num vídeo de skate a primeira parte é a que tem mais conceito e a última é a mais pesada em termo de manobras e eu quis fazer isso ao contrário nesse vídeo. Tanto que a última manobra do vídeo nem é manobra, o cara só passa com o skate. Eu quis quebrar mesmo esse formato dos vídeos de skate.

Em Twin Peaks existe uma viagem de um mundo ao contrário dentro desse mundo. Você diria que o skate também é isso, um mundo ao contrário?
Em 2017 já não é mais. Acho que já tá bem inserido, bem mainstream mesmo. Mas ao mesmo tempo, os rolês do Felipe e do Denti, por exemplo, eu acho que é um mundo ao contrário dentro do que o skate é hoje. O mundo ao contrário entra nisso aí, do cara fazer o que ele quiser no skate e se importar mais com o que fazer do que com o quão difícil é fazer. Isso é o lado B do skate hoje em dia e na verdade era um dos princípios da parada antes.

Seus outros vídeos possuem partes mais bem definidas e separadas. No Doppelganger a coisa é mais solta, quebrada, com partes menores e conjuntas. Qual o motivo disso?
Foi por essa questão de que eu não fiz muita missão mesmo. Fiz só a viagem pra Floripa com Felipe, Kodai e Arroz (Luis Moschioni) e não foi num esquema de dedicação de estruturar as partes e tal. Pra fazer algo assim, é preciso muito tempo junto e eu não prometi nada a ninguém. Com o Denti mesmo eu saí uma noite pra sessão e rendeu muito, o resto ele filmou com outros caras e me mandou as imagens. Com o Calado foram duas missões só e ele rendeu tudo aquilo. Fiz bem orgânico mesmo, bem vagabundo. Pra você fazer partes tradicionais tem que "sair na mão" com os caras de tanto estar junto, viajar junto, escolher música junto, passar um tempão montando e nesse vídeo o que veio fácil, veio.