​O que os acadêmicos preveem para a sexta temporada de 'Game of Thrones'?
Crédito: Verena Antunes/ VICE

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​O que os acadêmicos preveem para a sexta temporada de 'Game of Thrones'?

Conversamos com alguns pesquisadores e cientistas que estudam de verdade a série para tentar adivinhar o que pode acontecer na mais nova instância da saga.

Brace yourselves! Chegou aquela época do ano da volta de Game of Thrones. O primeiro episódio da sexta temporada foi ao ar neste domingo, 24 de abril e, a partir desta semana, amizades serão desfeitas por conta de spoiler nos textões com teorias de fãs. O Brasil vai ficar polarizado entre os Tyrell e os Lannister — já que os Stark estão quase todos mortos — e, pelas próximas dez semanas, novos memes e novos gifs surgirão em vossas timelines. Estas são algumas certezas.

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O que ainda não sabemos de fato é: Jon Snow está morto de verdade? Qual será a grande vingança da Cersei? Onde está Bran? O que vai acontecer na Muralha com a chegada dos White Walkers? Como a Daenerys vai controlar os ataques dos filhos da Harpia? Para onde Sansa e Theon vão agora? Arya continuará cega?

Muita água deve rolar nessa nova temporada e as expectativas são grandes, já que agora a série passou os livros. George R. R. Martin procrastinou demais e não conseguiu publicar nada este ano. Mas, ao contrário do autor, existe uma categoria de acadêmicos — que aqui apelidei carinhosamente de Acadêmicos de Game of Thrones — que não dormiu no ponto e nos últimos cinco anos, ao longo das cinco temporadas e livros, publicou artigos em revistas científicas e dissertações de mestrado sobre a série. Lá fora e aqui no Brasil, mestres e doutores de humanas e de exatas dedicaram seu tempo para entender o que de intelectualmente útil para a humanidade podemos aprender com GoT.

Paloma Destro é mestre em comunicação e foi uma das pioneiras na academia brasileira a explorar esse campo. Em sua dissertação de mestrado apresentada na Universidade Federal de Juíz de Fora (UFJF), Jogo de Rainhas: as mulheres de Game of Thrones, ela fez uma análise de identidade das mulheres de destaque da primeira temporada da série: Cersei Lannister, Catelyn Stark e Daenerys Targeryen. "Eu quis unir o útil ao agradável", confessa Destro em entrevista ao Motherboard. Em sua análise, ela utilizou conceito de autores que exploram o que é a identidade feminina e como se dá o processo de formação de identidade. "Fiz uma licença poética de alguns conceitos", explica.

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No meio do caminho, ela também escreveu um artigo sobre o personagem Jon Snow, que tem alguns complexos de identidade por não saber quem é sua mãe — também existem várias teorias dizendo que talvez Ned Stark não seja seu pai, o que deixaria o garoto ainda mais perdido em Westeros. "A identidade de Jon é alterada de acordo com as circunstâncias externas, sendo construída segundo o ambiente em que se encontra, as relações estabelecidas com a alteridade e a luta pela sobrevivência", escreve Destro.

A pesquisadora confessa que parou de ver a série na terceira temporada porque, assim como uma parte do público que leu os livros, cansou de ver a versão televisiva da obra sendo alterada e criando polêmica. "A HBO tem essa pegada muito forte nas séries dela de apelar muito para violência, para o sexo, para nudez. Por isso que Game of Thrones também estourou, por essa narrativa, essa construção da série muito crua, muito forte", diz. Ela afirma em sua dissertação que isso é como um espelho, que a série funciona como o mundo real mascarado na fantasia. Com base nos conceitos de projeção e identificação de Edgar Morin, ela explica que essa é a chave do sucesso da série: "Quando a gente se identifica com a situação que está acontecendo a gente se projeta naquilo. Às vezes as cenas de violência a gente não vive na vida real, mas se tem uma cena de adrenalina muito forte, a gente acaba se projetando nela e vive aquela adrenalina só de assistir o que a gente não tem na vida real e acaba criando um vínculo."

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Aya, aya. Crédito: Verena Antunes/ VICE

A pesquisadora inglesa Kavita Finn, do departamento de literatura inglesa da Universidade de Oxford, também escreveu um trabalho na mesma linha de análise das personagens femininas. Com relação ao período histórico retratado na série, ela acredita que se deve tomar cuidado ao usar isso como justificativa para o uso excessivo de violência e nudez. "Sim, a série é baseada na Europa do século XIV e XV, mas também tem dragões, zumbis de gelo e praticantes de magia, é desonesto usar o período histórico como justificativa", diz.

Para ela, isso serve apenas para chocar o público e levantar a audiência. "Infelizmente, os produtores esqueceram ou se recusam a reconhecer que boa parte da audiência é feminina, então eles pensam apenas no que os homens querem ver e propagam essa ideia de violência. Os livros, é claro, usam o estupro como elemento do enredo, mas a série sentiu a necessidade de acrescentar mais cenas de estupro e submeter personagens a agressões que elas não enfrentam nos livros", diz.

O doutorando em comunicação e semiótica da PUC de São Paulo, Francisco Trento, escreveu um artigo em 2012 questionando o que é marketing e o que é narrativa em Game of Thrones. Ele confessou que só assistiu à primeira temporada e se baseou nela para escrever seu artigo, mas acredita que, agora que a série passou dos livros, caberá ao criador da saga decidir qual é a versão oficial dos fatos que guiará a narrativa. "Isso é bem conversável, acredito, porque a função do autor hoje não é a mesma de antes da existência da internet, quando o conteúdo é publicado, ele passa a ser retrabalhado", explica. Para ele, a situação já saiu de controle, então fica difícil prever o que pode acontecer.

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Estudantes da Technical University of Munich (TUM) criaram um algoritmo para prever as próximas mortes da série, e a conclusão é que o novo rei, Tommen Baratheon, tem 97% chance de morrer

Na tentativa, um grupo de estudantes da Technical University of Munich (TUM) criou um algoritmo para prever as próximas mortes da série. Combinando dados dos personagens (idade, em quais livros aparece, quem são seus parentes — vivos ou mortos) e tuítes de fãs, eles chegaram à conclusão de que o novo rei, Tommen Baratheon, tem 97% chance de morrer. Em seguida, o cálculo matemático prediz que Daenerys pode morrer também, com 95% de probablidade.

Mas além da grande chance de morrer, o modo como esses personagens estão conectados também despertou a curiosidade em outros pesquisadores das exatas. O matemático e professor Andrew Beveridge, da Macalester College, nos Estados Unidos, publicou um artigo na revista científica da universidade Math Horizons Magazine com uma incrível rede de como todos os personagens se conectam entre si. Por telefone, ele me contou que ele e seu colaborador Jie Shan usaram como base o terceiro livro da saga. Jogaram num computador o texto e, por meio das fórmulas descritas no artigo, a máquina analisou as interações entre as personagens.

No fim da pesquisa, eles conseguiram definir quais eram as comunidades que se formavam em torno dos personagens mais citados, Tyrion, Jon e Daenerys. Ele confessa que não é preciso usar a matemática para saber que esses são os personagens mais importantes, mas, analisando os dados, ele percebeu que todos os personagens se conectam de alguma forma com o Rei Roberth, da casa Baratheon. "Sua morte foi o que causou toda a tensão, ele era o personagem que mantinha as pontas unidas. Achei isso uma das coisas mais legais que a rede mostrou", conta. Fã da série, Beveridge confessa que a Cersei é a sua favorita, mas dá a dica para ficarmos de olho na Sansa: "Todos os personagens à volta dela foram caindo e agora é a hora dela."

Seja como for, o inverno está por vir e talvez novas ideias a serem desenvolvidas na academia também virão.