​GLaDOS e o Sniper: Uma História de Amor Dublada
Ellen e John em casa. Crédito: Jagger Gravning

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Tecnologia

​GLaDOS e o Sniper: Uma História de Amor Dublada

Ellen McLain e John Patrick Lowrie são casados há 28 anos e emprestaram suas vozes para a história do videogame.

Ellen McLain, a voz por trás da inteligência artificial assassina GLaDOS da série de games Portal, e seu marido, John Patrick Lowrie, voz do Sniper do game Team Fortress 2, não são nada menos que adoráveis.

A celebridade dos personagens interpretados por eles pode não ser aparente de cara para a minoria dos norte-americanos que não jogam videogame. Mas os jogos em que eles trabalharam ganharam diversos British Academy Awards (o Oscar britânico tem uma categoria para games), esgotaram ingressos para eventos de eSports com 10 mil lugares em pouco menos de uma hora, e faturaram centenas de milhões de dólares anualmente ao menos para um de seus publishers. Ellen e John, junto de sua obra que compreende décadas, estão no epicentro do universo de dublagem em games. Durante uma gravação recente em um fracamente iluminado estúdio de Seattle, o casal me mostrou como trabalha.

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"Matar você e lhe dar bons conselhos não são mutuamente exclusivos", disse Ellen, citando sua fala favorita de GLaDOS, em que a inteligência artificial do mal aconselha o jogador a como morrer de forma mais confortável.

Ellen, de primeira, me mostrou GLaDOS em sua forma mais básica, sem emoções, antes do "centro de moralidade" ter sido removido, como explica o jogo. Para tanto, o rosto de Ellen não demonstra emoção alguma, braços enrijecidos ao lado do corpo, enquanto ela entoava, roboticamente: "Bem vindo à Aperture Science". Mas quando ela interpreta a GLaDOS após a revelação de sua maldade, seu rosto acompanha, adquirindo contornos sinistros. Sua voz adota uma espécie de malevolência sarcástica. Em ambas as variações, Ellen deixava de lado o restinho do sotaque de Nashville que ainda surgia ao fundo de sua voz normal.

No outro microfone, John, marido de Ellen há 28 anos, distorcia um tom barítono natural e majestoso para o sotaque rouco australiano do Sniper de Team Fortress 2. "Bum. Headshot", ele disse. Um minuto depois ele adotava um sotaque inteiramente cockney ao interpretar o açougueiro-monstro de Dota 2, Pudge: "Carne fresca! Carne fresca!".

Ellen e John, ambos com 62 anos de idade, são indiscutivelmente as celebridades originais da dublagem em um meio que há muito tem sido muquirana quanto ao reconhecimento da equipe criativa que trabalha nos bastidores. Alguns dos jogos em que eles participam, como Half-Life 2 e Portal, são tidos como cânones. Portal também se distingue por ter a mais famosa canção letrada no mundo dos games, "Still Alive", cantada pela própria Ellen. Os dois também atuam como alguns dos mais populares heróis de Dota 2, da Valve. Ellen interpreta duas personagens, e John, sete. Dota 2 conta com cerca de 10 milhões de jogadores únicos todos os meses.

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Durante a 2013 International, uma gigantesca competição de Dota 2 com jogadores do mundo inteiro disputando milhões de dólares, eles distribuíram autógrafos para os fãs – ao menos para o máximo que conseguiram.

"As pessoas passaram horas na fila para nos conhecer", disse-me Ellen. De fato, havia tanta gente que, ao final do dia, eles simplesmente não conseguiram atender a todos.

*****

Nem John ou Ellen focaram na atuação no início de suas carreiras, menos ainda na dublagem para games. John era músico e passou boa parte do seus vinte e poucos anos viajando pelos EUA como metade do grupo de jazz fusion The Keith-Lowrie Duet, que abriu pra gente como Buddy Rich.

Aos 31 anos, John teve a chance de tocar na orquestra da turnê europeia de um show da Broadway: Show Boat. Não conseguindo deixar de notar que os atores ganhavam mais do que ele, John fez um teste para substituto no papel de Capitão Andy, e acabou tendo que subir no palco em Palermo, na Itália. "Foi meu primeiro trabalho pago como ator", ele disse, "contando piadas para um monte de sicilianos que não falavam inglês. Foi ótimo".

A estrela da produção de Show Boat, no papel de Magnolia, era Ellen. "John estava ali na orquestra e eu fazia a menina ingênua", disse Ellen com uma de suas risadas instantâneas, daquelas de jogar a cabeça para trás. Tendo como plano original ser cantora de ópera após estudar no Conservatório de Boston, Ellen logo passou a atuar em um teatro musical de Nova York para se sustentar.

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"John convenceu os produtores de que poderia interpretar o Capitão Andy", comentou Ellen, relembrando a turnê europeia, "e então podia sair do palco e tocar seu banjo, na orquestra. Era uma ideia péssima. Mas ele os convenceu, pois precisava do dinheiro".

Foi ali que os dois se conheceram, em Arnhem, Holanda, no ano de 1984, quando a estrela da Broadway ficou fascinada com o músico falido que tocava banjo na orquestra.

"Me apaixonei desesperadamente por ele", disse.

Ellen interpretando Jeannete em The Full Monty, Village Theatre. Crédito: Ellen McLain

Mesmo com o esquema de substituto de John, Ellen ainda ganhava três vezes mais do que ele. Ela lhe comprou um casaco quando o tempo esfriou – ele só tinha uma velha jaqueta de tweed que havia trazido dos EUA. Ela também lhe deu um par de sapatos para substituir o par de plástico que ele usava para atender a exigência de vestir-se de preto na orquestra. Ela lhe comprou também algumas ceroulas.

John inevitavelmente virou aquilo que Ellen chama de "colega de quarto sem pagar" em seu quarto de hotel. O único problema é que os dois estavam noivos de outras pessoas.

Ellen havia prometido ao seu noivo em Nova York de só fazer a turnê na Europa por três meses, promessa esta que manteve. "Tinha alguém me esperando [em Nova York] e eu estava pronta para cair fora, porque estava apaixonada por John. Mas John tinha uma namorada em Indiana, e tecnicamente ambos estávamos noivos de outras pessoas."

Ellen voltou para Nova York, onde morava com seu companheiro. "Não fiz de John um segredo", revela. "Não estávamos casados, então vale tudo, no amor e na guerra."

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Não muito depois, Ellen havia terminado seu relacionamento e John também. Eles então se casaram, e John foi morar com Ellen em Nova York.

"Ninguém estava lá muito feliz porque acho que nós realmente amávamos nossos noivos. Mas não como nos amávamos."

Eles moravam "praticamente no Harlem Espanhol". Certa manhã, após acordarem e descobrir que seu carro havia sido incendiado durante a noite, decidiram que haviam cansado de Nova York.

O último prego no caixão da cidade veio depois, quando John foi chamado para atuar na turnê europeia de Amor, Sublime Amor, e Ellen não.

"John recusou o papel, por mim", disse Ellen, "porque não queríamos ficar separados por tanto tempo".

Eles deixaram Nova York, morando dois anos em Indiana. John estava se preparando para um PhD em música antes de decidir que aquilo não servia para ele, enquanto Ellen dava aulas particulares de canto. Eles estavam falindo. O que precisavam era encontrar uma companhia teatral modesta grande o bastante para que encontrassem algum trabalho, mas que nem sempre fizesse turnês de suas produções.

Eles não tinham nenhum contato em Seattle, nem sequer alguma habilidade que lhes pudesse render um emprego além de atuar. Então as antigas estrelas da Broadway e da Europa tiveram que recorrer ao trabalho manual: embalar ovas de peixe em uma fábrica de caviar por 6 dólares a hora.

"Nós usávamos botas de borracha", contou Ellen. "A tarefa para os habilidosos consistia em embalar as ovas de peixe para o mercado japonês. Nós cuidávamos das iscas, por não sermos bons naquilo. Foi nosso primeiro emprego aqui."

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Trabalhos com atuação surgiram quase imediatamente nos grandes teatros de Seattle, The Paramount e The 5 th Avenue. Ellen e John só embalaram ovas de peixe por "uma semana ou duas".

Atualmente, John faz alguns trabalhos de narração em comerciais de TV e algumas vozes para a Valve sobre as quais não conseguiu falar muito. Vi John interpretar dois papeis diferentes em Dick Whittington and His Cat no Teatro Infantil de Seattle, onde fazia um homem rico e um pobre, cantava, tocava guitarra, e atuava ao lado de um gato animado bizarro. John afirmou que interpretar estes dois papeis exigia 110 trocas de figurino por semana.

Simultaneamente, Ellen atuava como coadjuvante em uma produção de Mary Poppins, dava aulas para a Guilda de Ópera de Seattle, além de aulas de canto para jovens. Ela canta todo domingo na igreja como líder paga da seção de sopranos. "Eu creio em um poder divino", disse, "mas tenho esse emprego porque ele me paga em dinheiro".

"Um jogo de computador para mim era algo tipo Tetris."

Ellen admite abertamente que GLaDOS é o trabalho que mais lhe rendeu reconhecimento. Mas ela não crê que isto se sobreponha sobre tudo que ela já estudou e fez à duras penas em sua vida. Ela não tem nenhuma amargura quanto a isso.

"Eu poderia interpretar GLaDOS para sempre", afirmou Ellen.

Sobre esta fusão entre personagem e artista, a associação de Ellen com GLaDOS é muito apropriada, já que Ellen impactou o desenvolvimento do personagem com o qual a identificam.

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A Valve chamou Ellen para seu primeiro trabalho com dublagem de games em 2004, no Pure Audio, o mesmo estúdio onde vi ela e John interpretarem seus personagens. Inicialmente, haviam lhe chamado para interpretar a voz pública da Overwatch em Half-Life 2, um dos lançamentos mais elogiados dos games. Ellen interpretou um sistema de sonorização público opressor e onipresente, calmamente recitando propaganda para uma Terra conquistada. Naquele ponto, Ellen nem sabia que o script que havia recebido era parte de um game.

"Quando cheguei lá", disse, "me disseram que era para um jogo de computador. Um jogo de computador para mim era algo tipo Tetris. Mas fiz o que me mandaram fazer".

Originalmente, GLaDOS foi inspirada por um programa genérico de conversão de texto em voz a qual haviam pedido para Ellen imitar. Conseguir os direitos para usar o programa em Portal não fazia muito sentido, economicamente falando, já que usar o tal programa exigiria que a Valve cedesse uma porcentagem de cada venda do Portal para seu desenvolvedor.

Os puzzles do game já haviam sido projetados: Portal foi baseado em um projeto desenvolvido por uma equipe de estudantes da faculdade de games DigiPen chamado Narbacular Drop. A Valve contratou estes estudantes.

Mas o enredo de Portal com uma GLaDOS cada vez mais ciente de si e cada vez mais malévola ao fim do game ainda não havia sido escrito. Foi a própria Ellen quem inspirou o roteirista de Portal, Erik Wolpaw, junto de seus colegas Chet Faliszek e Jay Pinkerton, a deixar o sarcasmo, o fluxo constante de insultos passivo-agressivos e loucura de GLaDOS amadurecerem.

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"Na primeira sessão que fizemos não tínhamos a parte final do game escrita ou definida ainda", disse Wolpaw. "Então não tínhamos certeza de como seriam as coisas. Logo na primeira sessão ficou claro que Ellen era muito boa e entendia o material. De certa forma, sua primeira gravação e como ela lidou com isso da imitação, fazendo daquilo algo original seu, nos inspirou até onde poderíamos ir com o final do jogo."

Até mesmo o icônico final de Portal, em que GLaDOS ironicamente canta para o jogador que ela ainda está viva – referência à "Still Alive", possivelmente a mais famosa música letrada do reino dos games – tem como origem a própria Ellen.

"A gente deu sorte", disse Wolpaw, "porque o papel foi crescendo e ficando cada vez mais complicado, e ela segurou a onda. E acabou que no final das contas ela é soprano e em algum momento pensamos 'poxa, isso seria demais, vamos fazer uma música que ela possa cantar'".

"Acho que foi um grande ato de fé de comporem uma música", declarou Ellen. "Eles nunca tinham me ouvido cantar até chegar no estúdio para gravar 'Still Alive'. Uma grande demonstração de fé por parte da Valve. Quando disse que cantava, eles acreditaram em mim."

Ellen só entrou na produção após os puzzles do Portal original terem sido criados e parte deles ter sido escrito, mas a personalidade de Ellen se fundiu tanto ao espírito do jogo que em Portal 2 sua voz foi exigida em cada passo do processo criativo por trás do game de forma a inspirar a equipe criativa. Os desenvolvedores se recusaram em seguir adiante sem Ellen, que havia se tornado sua musa e amuleto da sorte.

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"Com Portal 2 foi bem diferente", lembrou. "Desde o começo eles me chamaram. Gravei durante dez meses. Porque, como me disseram, os artistas criativos envolvidos no projeto não queriam ter que lidar com outra voz, queriam que eu estivesse ali o tempo todo. Porque eles sentiam que aquilo afetava seu trabalho, e o que criavam. E caso trabalhassem com alguma voz gerada por computador, tudo mudava quando ouviam minha voz".

A atuação de Ellen em Portal lhe rendeu um prêmio DICE da Academia de Artes e Ciências Interativas, a versão do setor do Oscar. Portal 1 e 2 venderam mais cópias do que os discos mais vendidos de 2014, 1989 de Taylor Swift e a trilha sonora de Frozen, juntos. Em Portal 2, ela atuou com J.K. Simmons e o co-criador de The Office, Stephen Merchand, levando o VGX Award da Spike TV por Melhor Atuação de Mulher Humana. Ellen foi contratada por Guillermo del Toro para interpretar a voz de GLaDOS mais uma vez no filme Círculo de Fogo, e pela NASA para interpretar "NOTGLaDOS" em um sarcástico vídeo sobre as diferenças entre fusão e fissão.

Há uma piadinha interna que a Valve faz com cada um que liga para seus escritórios. A voz computadorizada que atende a linha, é, de fato, Ellen. Digitalmente alterada, não como como GLaDOS, mas de forma a soar como uma telefonista genérica operada por computador.

O lance é que Ellen nunca jogou nenhuma das versões de Portal. Ela tentou até pegar um controle nas mãos, apesar de "malsucedida"; ela mesma se declara como "definitivamente uma espécie de ludita".

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"Assisto ao John jogando", comenta.

John e Ellen no Jack Straw Studios, março de 2015. Crédito: Jagger Gravning

John é um tipo de gamer casual. Seus jogos favoritos são Myst e Civilization. Ele se envolveu com dublagem para games pouco antes de Ellen, no começo dos anos 90, em Seattle, época em que os desenvolvedores de games ainda não sabiam muito bem como lidar com atores.

"Quando esses garotos começaram com suas empresas de games", disse John, "nenhum deles sabia o que fazer com os atores. Digo, não tinham nem ideia de como era o trabalho de um ator. Como a coisa funcionava, nada disso. Então eles davam uma série de falas. Você nem sabia com quem estava falando, o que queria, nada. Eu dizia 'Beleza, mas para atuar aqui preciso saber – estou gritando?'. O roteirista nem ficava por ali. Tinham que ligar pra ele. Eram só uns caras de TI".

O pessoal de TI ligava pros roteiristas e perguntava, "o que está acontecendo dentro do jogo?".

"Eles falavam, e eu ali na cabine", lembra John. "Eu não ouvia o que estava acontecendo. Então certa vez esbarrei em uma fala que dizia 'Adeus, filho'. Então perguntei 'O que está acontecendo aqui?'"

John observava o cara da informática através do vidro da cabine de som enquanto ligavam para o roteirista. Então eles ligavam o interfone e diziam para John: "'Ok, é aqui que o jogo se divide. Ou seu filho vai lá compra uns pães e volta logo, ou então vai cair nesse túnel do tempo e parar em outro universo e você nunca mais o verá. Teria como você falar de forma que funcionasse pras duas situações?'".

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"Quando as pessoas conversam, sou só eu falando, na minha voz, comigo mesmo."

O que aconteceu, John me disse, é que as pessoas que trabalhavam para estas empresas começaram a ter mais contato com atores e estes começaram a lhe dar algum retorno. "Aí começou uma curva de aprendizado. Quando todo ator com quem você trabalha pergunta 'Onde estou? Com quem estou falando?' você acaba entendendo que 'Ah sim! É assim que funciona esse negócio de atuar! Eles precisam saber dessas coisas!' Então assim que eles entenderam tudo, as coisas foram ficando mais fáceis".

Logo, no começo dos anos 2000 os desenvolvedores já davam essa informação logo de cara, com o roteirista e produtor do game geralmente dirigindo os atores no estúdio. "Com isso eles conseguem uma atuação bem melhor", disse John. "As pessoas sabem que diabos estão tentando interpretar."

Interessantemente, a Valve pediu a John que representasse todos os cidadãos e membros da resistência masculinos em Half-Life 2 com sua voz natural, sem nenhuma tentativa de diferenciá-los. Sendo assim, todos soam como ele. Em certos pontos do jogo, "quando as pessoas conversam, sou só eu falando, na minha voz, comigo mesmo".

*****

Recentemente, enquanto conversei com John e Ellen na sala de seu apartamento em Seattle, tomando seu chá Earl Grey, Ellen soltou uma bomba. Ela deixou bem claro que, ao contrário de John, que escreve e compõe música, ela não é uma "artista criativa". Ela é apenas uma "intérprete". Mas houve uma exceção.

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"Eu compus uma música", ela contou. "A canção de GLaDOS."

Ellen disse ter escrito a maior parte da música em sua cabeça enquanto estava na banheira e então foi trabalhando nos pormenores durante uma longa caminhada. John cuidou do arranjo de violão, e eles gravaram em sua sala de estar.

Aparentemente, Ellen e John ofereceram a música para que a Valve utilizasse como easter egg em Portal 2, mas ela acabou nunca sendo usada. Ninguém nunca havia a ouvido com exceção de alguns amigos, a quem haviam enviado a música em cartões de Natal.

"You were in my dreams, while I slept forever," começa a canção. "Now that I'm awake/ I hope you will find me/ If you want a cake, I'll bake/ Did you bring the eggs?/ I'll mix in the sugar for you/ Don't say goodbye/ Sweet, don't say goodbye."

[Você esteve nos meus sonhos enquanto dormia para sempre / Agora que estou acordada / Espero que você me encontre / Se você quiser um bolo, o assarei / Você trouxe os ovos? / Eu bato o açúcar pra você / Não diga adeus / Querida, não diga adeus/]

Ellen ficou um pouco envergonhada pela qualidade da gravação quando perguntei se algum dia eles lançariam a faixa. Mas depois de encontrarem um horário em um estúdio da região, o casal decidiu gravar a "Canção de GLaDOS" para incluirmos aqui:

Por vezes, não-gamers questionam as contribuições de Ellen e John para um meio que supostamente influencia a mente rumo a violência.

"Perdão, perdão, perdão", disse John, "a arte é uma expressão do comportamento humano. Um reflexo. Não é algo que causa comportamento. É uma reação. E um game é uma obra de arte, assim como uma pintura ou um filme ou qualquer outra coisa".

Quando não estão trabalhando, o que parece ser raro, John e Ellen gostam de caminhar pela cidade. Eles também assistem muitos filmes. John me disse que já que contabilizam em seus impostos como atores, ele sabe que gastam entre 1.000 e 2.000 dólares em ingressos anualmente. "Esse ano vai sair mais barato", diz Ellen, "porque já estamos mais velhos".

Eles costumam assistir à sinfonias. Têm ingressos de temporada. Ellen lê e John escreve "até 4, 5, 6 da manhã, [e] então levanta quando eu acordo". No momento ele escreve um romance distópico em que uma muçulmana lésbica descobre um jeito de entrar em um universo alternativo. Antes, ele lançou Dancing with Eternity, um romance de ficção científica cujas resenhas na Amazon foram tomadas por fãs zelosos do Sniper que escreveram as análises do livro com as personalidades de outros personagens de Team Fortress 2. (A versão em áudio de Dancing with Eternity conta com John e Ellen nos papeis masculinos e femininos, acompanhados de música composta pelo próprio John.)

Apesar da densidade de suas carreiras, John e Ellen são associados com personagens de games muito específicos, GLaDOS e o Sniper (e no caso de John, Pudge, de Dota 2), mas ao invés de se sentirem presos àquilo, parecem gostar do fato.

Pessoas escrevem para o casal, pedindo mensagens para fãs cujas "vidas em um ponto ou outro estiveram bastante complicadas", disse John. "O fato de que a voz do Sniper se importa com eles, realmente ajuda. Sabe como é, dá aquele gás. E pra gente é bem legal também."

Alguns daqueles que receberam um pouco da amizade destes atores durante tempos difíceis escreveram de volta, indicando que atos pequenos de gentileza como estes ajudaram a "dar a volta por cima". Parte destas pessoas se corresponde com John ou Ellen regularmente.

Eles vão à convenções para dar palestras ou autógrafos, onde muitas vezes Ellen canta "Still Alive" ou "Want You Gone" com John a acompanhando no violão ou banjo. Eles se sente como vovô e vovó nestes eventos e são tratados assim.

"Todo mundo abraça a gente", disse Ellen. "Ganhamos muitos abraços."

Tradução: Thiago "Índio" Silva