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Música

Discos: Plastic Flowers

Evergreen, um LP optimista e bem-disposto.

Evergreen
Crash Symbols
7/10 Tive o prazer de conhecer os Plastic Flowers quando, numa noite bastante escura e chuvosa, se uniram aos saudosos alverquenses SAUR para trazer música quente e regozijo a Lisboa. Lembro-me de fazer a associação óbvia com a crise económica de ambos os países, o nosso e o deles, até porque nessa mesma noite havia greve de transportes públicos. Lembro-me também de os achar rapazes afáveis e ansiosos, com grande à-vontade e com aquele brilho nos olhos de quem tem muito a mostrar e não tem medo de o fazer. Estavam em início de tour. Iriam passear pela capital, pelo norte do país, à boleia da Cakes and Tapes, e depois para os Estados Unidos, onde viriam a actuar um pouco por toda a costa este, com especial ênfase para a presença no SXSW. Entusiasmados pela primeira tour internacional, e com o terceiro EP na bagagem, lançado um mês antes, fizeram por espalhar a sua névoa sorridente pela sala composta de gente, e conseguiram esquecer o Inverno que lá fora atacava. Faz todo o sentido relembrar esta passagem pelo nosso país, uma vez que este novo registo foi imaginado nos tempos mortos que uma tour desta dimensao acarreta e gravado nos meses seguintes. E assim, faz todo o sentido associar este lançamento, o primeiro grande projecto de longa duração da banda, às experiências e vivências que coleccionaram durante esse período. Se a tropa pode fazer um homem, uma tour pode fazer uma banda. As diferenças são notórias, e quase palpáveis. Há uma grande evolução na forma como as melodias se desenvolvem ao longo das faixas, muito mais orgânica, sensível e natural. A música ganha um novo corpo, o que também se traduz numa abertura muito maior da própria banda, e que é, possivelmente, a mudança mais perceptível. A introversão das experiências anteriores foi substituída por um disponibilidade muito maior, uma abertura de notas e harmonias e, a espaços, sente-se mesmo a alegria com que cada faixa foi produzida, agarrando a tag de dream-pop com mais força e quase abdicando do shoegaze. Evergreen é, como o nome indica, um LP optimista e bem-disposto. Regista o amadurecimento dos Plastic Flowers e o que de potencialmente melhor o lo-fi tem. Sendo um álbum muito menos lânguido e arrastado que esperariam aqueles que os ouviram há sete ou oito meses, mas sem que se perca a identidade de uma banda que se demarca na construção de uma grande profundidade e sensibilidade musicais, por entre ambientes enevoados.