Teremos mesmo visto o futuro na Web Summit de Lisboa?

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Teremos mesmo visto o futuro na Web Summit de Lisboa?

Estivemos a reflectir, a pensar, a dissecar tudo o que vivemos durante aquele que poderá ter sido o evento mais mediático alguma vez realizado em Portugal. Não é exagero. Estas são as nossas conclusões.

A app preferida da "Hangover Summit". Foto por Sérgio Felizardo

O futuro, essa coisa incerta e misteriosa que tantas divagações inspira. De escritores de livros de ficção que fundaram religiões, a rappers que querem encontrar a nova fórmula musical, todos querem lá estar antes de todos os outros. É o fetiche dos criativos, dos fãs de Regresso ao Futuro e de muitos outros que se esquecem que, no tal futuro, provavelmente vão estar mortos.

Em 2016, todavia, o futuro esteve mais próximo de nós. Mais próximo até que outros eventos que aconteciam, simultaneamente, noutras partes do Globo, como aquelas eleições americanas que elegeram aquele proto-fascista-modernaço-cor-de-laranja.

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"Está aí alguém? Aqui dentro o Mundo é perfeito. Como é que vão as coisas desse lado?". Foto por Sérgio Felizardo

Seria abstracto dizer-se, com toda a certeza, que a tecnologia, neste caso em concreto a Web Summit, nos transporta para esse espaço temporal pós-presente. A tecnologia de realidade virtual já existe há imensos anos, a democracia foi inventada na Grécia e, pelos vistos, nem assim conseguimos acabar com o racismo.

Não, os culpados não são os taxistas e, não, a batalha deles contra a Uber não é inversamente proporcional à nossa contra o racismo. O ódio a Donald Trump pode ter eclipsado o "ódio à Web Summit" mas, sei lá, o vosso feed de Facebook não é bem o reflexo do Mundo. Acho que já deviam ter percebido isso quando se andavam todos a masturbar ao som de "justiça no mundo". Era algo tão fantasioso como os filmes pornográficos, mas acho que, agora que a senhora Clinton se finou, já devem ter percebido. Chorem aí.

Voltando ao que interessa. Sim, a Web Summit de Lisboa, que decorreu entre os dias 7 e 10 de Novembro. Uns dias deslumbrantes para empreendedores, presidentes de Câmara chamados Fernando Medina e pessoas que adoram tirar fotografias com famosos para partilhar no Facebook.

Gente veio muita. Mais de 50 mil. De Ronaldinho, a Joseph-Gordon Levitt, de Ja Rule, até ao previsivelmente apupado Durão Barroso. Se não tens uma startup e estás fora do contexto da tecnologia e do empreendedorismo, âmbito de todas estas startups, pois claro, o mais provável é que não encontrasses nada para ti ali, a não ser um pequeno (ou grande, conforme a perspicácia) conjunto de brindes.

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Para os outros, os que gastaram dinheiro em bilhetes, que, diz-se, chegaram até aos três mil euros, esta foi (e continuará a ser) uma oportunidade única.

E digo-vos, só pela aplicação da Web Summit, tida por alguns como um magnífico competidor do Tinder, já valia a pena participar. É como teres mais de 53 mil amigos e puderes enviar uma mensagem directa a qualquer um deles, só que, em vez de teres na lista ex-colegas da escola que nunca conseguiram cumprir as expectativas da sua popularidade adolescente, o que tens são figuras-chave para o desenvolvimento do teu negócio.

Desde investidores, competidores de mercado, até meros curiosos, todos estavam acessíveis na ponta dos teus dedos. E vê lá tu bem, que a maior parte deles respondia mesmo se os contactasses e, passado uns minutos, se quisesses e as agendas fossem compatíveis, podias estar a beber um capilé (ou um gin) e a fechar um "deal" de um milhão.

O que um gajo "normal" pensaria ao entrar no recinto da FIL - depois do clássico "isto tem aqui muita malta estrangeira, pá" - seria que todos estavam ali com um objectivo comum. É como sair numa noite onde toda a gente quer pinar. Cruzar um dos três pavilhões de stands era seres dissecado tipo scanner Terminator por olhares curiosos que estavam única e exclusivamente focados na acreditação que trazias ao peito.

Afinal, era nela que estava tudo o que estas pessoas queriam saber: o teu estatuto - speaker, investidor, gajo de uma startup, media, ou outra coisa qualquer menos importante -, a empresa que representas ou para a qual trabalhas, ou, a coisa menos importante na maioria dos casos, o teu nome. Os investidores até viravam a credencial ao contrário… Eram claramente as meninas mais bonitas do sítio.

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Estruturalmente, a área de "exposição" da Web Summit em pouco se diferencia daqueles de outras feiras como a Exponoivas, ou a Natalis, com empresas a mostrarem o seu poder e o seu portfólio, espalhadas em stands pelos diversos pavilhões. Um clássico, portanto. Nada de apps voadoras, nova geração de andróides a circular livremente, ou impressoras 3D gigantes a construírem a nova ponte sobre o Tejo ao vivo.

Mas, claro, como em qualquer outra feira, havia um ou outro stand mais curioso, como o do Facebook, onde a maioria das pessoas iam buscar café na esperança de sacarem um copo que tivesse o logo da marca.

Para além disso havia um grande número de postos mais pequenos e temporários, onde as empresas se dividiam por três escalões, com base no dinheiro que já tinham recebido de investimento. Alpha, se tivessem recebido menos de um milhão de dólares, Beta, menos de três milhões e Startup, os que já angariaram uma batelada de guita.

Pitch me all you've got! Foto por Sérgio Felizardo

Também todos tinham uma coisa em comum: a vontade imensa de fazer o seu pitch - inglês para "vou dar-te uma seca a explicar-te o meu negócio". E, nestas andanças do mundo dos negócios startup, costuma sempre haver um concurso de Pitch. É como se fosse uma competição de "stand up", mas a routine tem de ser sobre o negócio. Alguns até aproveitam e mandam umas larachas engraçadas.

A ideia, no entanto, é que a graça não seja o teu negócio, mas que sejas capaz de, com graça, fazer com que a malta do júri fique super convencida. O concurso começou nos pavilhões da FIL, com cinco ou seis pessoas a ver e acabou numa MEO Arena à pinha. Tanto era um concurso de mostrar ideias, como de tentar não ficar todo nervoso e vomitar. Se estiverem curiosos, ganhou a… Não estão? Agora vão saber na mesma, ganhou a Kubo Robot.

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As conferências, por sua vez, deixavam-nos entrar num outro universo. Um em que podíamos olhar de frente para questões essenciais. Espectacular no papel, mas muitas das "talks" sofriam com a curta duração que lhes era atribuída. Por vezes 15 minutos não chegam para transmitir, discutir e reflectir sobre uma ideia, ainda para mais quando as ideias em cima das várias mesas eram, bastas vezes, tremendamente interessantes. A vida não é a porra de um tweet.

O que aconteceu foi que, muitas das vezes, acabávamos por não encontrar grandes novidades nas conversas. Se és uma pessoa informada e, se estás na Web Summit, parte-se do princípio que és, já estarias a par de muito do que por lá se diz. De qualquer maneira, ainda podes ir à página do evento, ou de cada um dos palcos da conferência, e consegues ver todas as conferências. não ligues ao "Watch Live", entra e procura. Ou seja, no fundo, até parece que não perdeste nada, a menos que queiras gabar-te para os teus amigos que foste um dos 50 mil que lá estiveram em carne e osso.

Bem, resumindo e concluindo - e olhem que precisámos de uns dias para absorver tudo, resumir e concluir - se não tens ideia do que poderias lá ter ido fazer, ou o que poderás fazer quando o evento regressar em 2017, porque não tens nada a ver com tecnologia, marketing ou outra coisa parecida, fixa-te nisto: podes sempre tentar dormir com um empreendedor, ou com uma empreendedora, o que preferires.

Porquê? Sei lá, só para experimentar. Sê arrojado(a), inovador(a), arrisca. no fundo, é disso que se trata. ir mais além. Nunca desistir. Acreditares em ti. E como também se realizaram imensas festas dedicadas à facilitação de contactos profissionais e, tu sabes, não só, a coisa não é assim tão estranha. Alguns destes seres do presente que vivem e constroem o futuro também, uh, pinam. Até havia uma senhora a entregar preservativos. Confesso que não fui a festa nenhuma porque não tive convites, mas bem tentei.

Não me censurem por tentar, o gajo escreveu a "Umbrella". Screenshot pelo autor

Resumindo, agora sim: vale muito a pena estar na Web Summit. Mesmo lá dentro. Sobretudo, se quiseres trabalhar em tecnologia, marketing ou conteúdo. Ou dormir com alguém. Tudo o resto podes fazer em casa, se é que me entendes.

Se vimos o futuro? Vimos. É igual ao presente, chega em 2017 e, segundo a organização do evento, com 80 mil pessoas e ainda mais e melhores avanços tecnológicos, mais apps, mais pitchs, mais talks, mais startups, mais dinheiro, mais falhanços, mais conquistas, mais bares na Night Summit, mais ressacas… Ou não. Ninguém sabe o que vai acontecer depois de 20 de Janeiro…