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Tecnologia

O Andy Bennett é especialista em subculturas

Más notícias: não há cultura DIY que não vire mainstream (aparentemente).

O Andy Bennett, um dos principais especialistas mundiais em culturas juvenis, esteve no outro dia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto para explicar o que é, afinal, isso da cultura para jovens com uma palestra cujo título era

.

Onde ficam as pessoas que, depois de velhas, continuam a tocar guitarra como se não houvesse amanhã? Estarão os punks de 60 anos menos preparados para a revolução? Essas são algumas das questões que tornam tão interessante o trabalho do Andy: a forma como um certo tipo de cultura juvenil envelhece ao longo do tempo. À medida que os anos passam, quais as expressões culturais que ficam associadas à juventude — e porquê?

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Fui assistir à palestra e, no final, apesar de não ter nada marcado, apresentei-me para fazer umas perguntas ao investigador e

professor da australiana Griffith University

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VICE: Achas que a juventude de hoje se consegue rever na juventude de ontem?

Andy Bennett:

Sim. Se olhares para os jovens que gostam dos Doors, por exemplo, dos Beatles ou do Jimmy Hendrix consegues perceber que há pontos comuns entre as juventudes de hoje e as de outras épocas. Há referências culturais que irão perdurar para sempre. O rock continua a ser um género importante, por exemplo. Musical, estilística e ideologicamente há ligações muito fortes entre a juventude de hoje em dia e a juventude de outrora. Isso não vai mudar.

É também curioso ver que a juventude, independentemente da época em que esteja inserida, tem muitas coisas em comum.

Os jovens estão a formar a sua identidade, a descobrirem-se a si próprios, a conhecer o mundo e a tornarem-se adultos. O que fazem, a música que ouvem, a roupa que vestem e as pessoas com quem andam, tudo isso contribui para a formação da sua identidade. Depois há sempre aquela necessidade de se afirmarem perante os pais. São estes os aspectos que estabelecem uma ligação entre os jovens de todas as épocas. Todos nós passamos por esses momentos, por essas experiências. Aquele fase em que pensamos: “Já estou a tornar-me adulto, tenho os meus direitos, as minhas crenças, o meu próprio entendimento do mundo”.

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E o papel do rock?

A música rock desenvolveu-se rapidamente num curto espaço de tempo. Tudo começou nos anos 50, mas acabou por desenvolver o seu lado político. As letras deixaram de retratar histórias de amor adolescente para se centrarem em temas socialmente mais relevantes. Tudo isso aconteceu em 50 anos. O rock mudou a cultura, estabeleceu um diálogo com a pobreza, com a guerra e com a política. O sentimento de revolta impressa neste género musical ajuda a explicar a importância que tem tido para a afirmação dos jovens.

É interessante que tenhas falado sobre a consciência política. Achas que isso ainda é válido com a cultura, nomeadamente com a música, de hoje em dia?

Sim, ainda. O que está a mudar é o papel que a música desempenha nos dias de hoje. Nos anos 60, por exemplo, era predominante para a formação da consciência social dos jovens. Actualmente há mais estilos de música, é verdade, mas não acho que a juventude não seja capaz de transmitir os seus ideais políticos. Não acho que a relação com política tenha mudado, o que é diferente é a representação da música na cultura popular.

Uma subcultura corre ou não o risco de se transformar numa cultura mainstream?

[Risos] Depende do que consideras subcultura. Acho que haverá sempre um lado mainstream nos estilos de vida alternativos. Um exemplo óbvio disso são os skaters. Essas pessoas procuravam algo diferente, distintivo, mas a verdade é que a indústria acabou por ganhar o seu lugar. Repara que, hoje em dia, já não fazes o teu próprio skate, se quiseres um tens de o comprar. Haverá sempre um lado mainstream naquilo que começou por ser uma cultura DIY.

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Na conferência abordaste as especificidades da cultura global e da cultura local. Explica-me o que é a globalidade e a localidade? A comunicação social tem, imagino eu, um papel importante nessa distinção.

Sim, tem. A indústria musical, por exemplo, pegou no hip-hop e tirou-o de uma localidade específica, Nova Iorque, levando-o para os palcos do mundo. Mas esse género de música não existe apenas como uma cultura global, é também uma cultura local: se desses uma volta pela cidade do Porto certamente que encontrarias um espaço específico reservado para o hip-hop — essa localidade, no entanto, não deixa de ser influenciada por uma certa globalidade. É difícil estabelecer a fronteira entre o que é realmente uma cultura local e aquilo que vem de fora e é global. Outra coisa que precisas de ter em consideração é que os jovens estão habituados a abraçar e a conviver com a globalidade.

As tendências da cultura de hoje podem transformar-se nas velhas tendências da cultura de amanhã?

Sim, algumas já se transformaram. A cultura juvenil não é só propriedade dos jovens, mas de múltiplas gerações.

E olha, afinal o punk está morto ou vivo?

O punk está vivo. Tem espaço para ti, que és jovem, e para as pessoas de idade, que investiram nesse tipo de cultura quando eram mais novas.