Dentro de Cojutepeque, uma das piores prisões de El Salvador

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Dentro de Cojutepeque, uma das piores prisões de El Salvador

O estabelecimento prisional destinado aos membros do gang Barrio 18 foi encerrado em Junho. Albergava mil e 300 pessoas, num espaço pensado para 400.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE News Espanha.

El Salvador é o país com a maior taxa de sobrepopulação presidiária do Continente Americano e a prisão de Cojutepeque foi durante anos o estabelecimento prisional com as piores condições humanitárias em todo o território salvadorenho.

Este antigo quartel militar transformado em cadeia exclusivamente para elementos do grupo Barrio 18, era um labirinto obscuro de celas e áreas repletas de lixo. Quase mil e 300 pessoas viviam num ambiente asfixiante, num espaço concebido para apenas 400. Condições que levaram ao seu encerramento a 16 de Junho deste ano. Em 2012, Pau Coll (RUIDO Photo/Elfaro.net) captou estas imagens que ilustram bem os terríveis problemas de Cojutepeque.

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Localizada numa zona central do municipio de Cojutepeque, capital do distrito de Cuscatlán, em El Salvador, esta cadeia foi o feudo da facção dos "revolucionários" do gang Barrio 18. Por motivos de segurança, na América Central as prisões estão dividas entre "membros de gangs" e "civis".

É complicado calcular a capacidade deste antigo quartel militar transformado em prisão, já que qualquer canto era adaptado para colocar presos. A versão da antiga direcção também varia consoante a pessoa a quem se faz a pergunta. A realidade aproximada aponta para que cerca de mil e 300 pessoas conviviam num espaço pensado para 400.

Segundo o último relatório sobre segurança dos cidadãos, elaborado pela OEA (Organização dos Estados Americanos), El Salvador é o país com mais população presidiária do Continente. Com uma capacidade total de 10 mil lugares, nas cadeias locais amontoam-se mais de 34 mil e 700 detidos.

Quando se perguntava aos presos qual era a pior coisa de estar encarcerado, a resposta era sempre a mesma: a saturação de gente num espaço tão pequeno. "Só pedimos condições mais adequadas ao ser humano", pediam os chefes dos três sectores em que se dividia o espaço.

Como resultado da lotação extrema, o chão do estabelecimento penal estava completamente coberto de fluídos e lixo que originavam um cheiro asfixiante. Os presos apenas tinham acesso a água durante uma hora durante o dia e outra hora à noite. A falta de higiene estava directamente relacionada com problemas de saúde, como os surtos de sarna entre os presos.

Cela 1 do sector 2. Segundo os seus habitantes, nesta zona estavam 180 pessoas durante as 12 horas de encerramento total. As celas não tinham luz eléctrica e a maioria também não tinha janelas. Mesmo durante o dia era impossível ver o que quer que fosse. Por causa da falta de espaço, havia pessoas que acabavam por se instalar em cima de plásticos nos pátios.

El Salvador está consistentemente nos primeiros lugares no ranking dos países mais violentos do Mundo. No país há uma guerra entre as organizações juvenis criminosas Barrio 18 e Mara Salvatrucha.

Em 2015, em El Salvador ocorreram 6.640 homicídios violentos. Ou seja, foram mortos um em cada mil habitantes deste pequeno país, de pouco mais de seis milhões de habitantes.

A comida era também um dos habituais motivos de queixa. "Pouca variedade e às vezes nem sequer chegava para todos". Ainda que os familiares possam levar comida aos detidos nas prisões de El Salvador, estes asseguram que é muito difícil que, depois, essa mesma comida passe os controlos de segurança.

Ainda que as condições de vida em Cojutepeque fossem insuportáveis, a principal reclamação dos detidos era a impossibilidade de acederem ao seu direito de integrarem programas de reabilitação e educação. Existia no espaço uma pequena área destinada a uma escola, mas a capacidade era mínima por falta de pessoal educativo.

Com quase 35 mil presos e uma sobrepopulação na ordem dos 241 por cento, El Salvador é há anos o país da América com as prisões mais cheias, seguido pela Bolívia (233 por cento) e o Haiti (218 por cento). Estes números traduzem-se, claro, em condições infra-humanas.

As celas era dominadas por uma escuridão quase total. O espaço transitável era mínimo, já que qualquer canto era ocupado por alguém para poder dormir. Os presos desenvolveram um sistema especial para se conseguirem guiar no escuro e que consistia em avançarem juntos, com os braços entrelaçados, para não esbarrarem em obstáculos.

A prisão de Cojutepeque está encerrada, mas a população prisional no país não para de aumentar. O antigo Director Prisional de El Salvador, Duglas Moreno, disse recentemente: "Ninguém se reabilita em sítios destes".