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Tudo soa ao mesmo quando estás deprimido

Um estudo demonstra que as pessoas deprimidas têm mais dificuldade em assimilar o discurso dos outros num contexto social.
Christopher Grote (Flickr)

Um grupo amigos convida-te para ir a um bar. Ao pedires uma bebida, um amigo aproxima-se e faz-te uma pergunta. Tu tentas concentrar-te naquilo que ele está a dizer, mas a única coisa que consegues ouvir é a conversa entre o barman e outro cliente, a música de fundo e a mistura de vozes que te rodeiam. Este tipo de experiências são comuns entre pessoas que sofrem de depressão, um novo estudo demonstrou que estas pessoas têm dificuldade de compreender as conversas em ambientes com demasiado ruído de fundo. Esta tendência faz com que estes indivíduos se sintam ainda mais isolados e acabem por piorar a sua condição. Este estudo, que será apresentado durante a 169.° encontro da Acoustical Society of America esta semana, inquiriu estudantes da Universidade de Texas, Austin, com sintomas de depressão leves e graves. Os investigadores davam aos estudantes auriculares onde se podia ouvir uma frase misturada com ruídos de fundo, depois pediam-lhes que escrevessem o que tinham ouvido para determinarem a precisão com que percebiam o discurso. "Descobrimos que quando estamos deprimidos, acabamos por distrair-nos mais facilmente, o que nos impede de concentrar-nos e compreender uma conversa." disse-nos, Bharath Chandrasekaran, professor assistente de ciências da comunicação e desordens da Universidade de Texas, Austin e um dos autores do estudo. Apesar de que o campo da psicoacústica reconheça cinco tipos básicos de discurso emocional (raiva, medo, felicidade, tristeza e neutro), Chandrasekaran disse que os estudos de percepção de fala, até agora, têm-se centrado no discurso neutro. Devido a isso, os investigadores neste estudo usaram amostras com os cinco tipos de discurso para ver se isso afectava a percepção dos participantes. Cada aluno foi submetido a 50 testes individuais, com 10 frases de todos os cinco tipos de discurso emocional. Ao contrário do que os investigadores esperavam, Chandrasekaran disse-nos que os indivíduos deprimidos não tiveram melhor percepção do discurso emocional negativo. "Sabemos que as pessoas deprimidas estão mais focadas na negatividade, mas neste estudo conseguimos ver como a percepção do discurso não está relacionada com a emoção", disse ele. "Descobrimos que não havia diferença entre frases emotivas e discurso neutro, tudo dependia da configuração." O ruído de fundo, que afecta a capacidade de entendimento do ouvinte, é dividido em duas categorias dentro da psicoacústica: o mascaramento energético e o informacional. O mascaramento energético inclui som de fora, de fontes não-linguísticas, como o barulho de uma construção, enquanto o mascaramento informacional vem da conversação humana e de outras fontes cognitivas. Os investigadores descobriram que os estudantes deprimidos tiveram piores desempenhos em ambientes de mascaramento informacional do que ambientes de mascaramento energético, ou seja, uma pessoa deprimida que tem dificuldade para decifrar as palavras de um amigo numa festa não o teria, com a mesma intensidade, numa zona de construção. Chandrasekaran disse ainda que a depressão, que afeta aproximadamente 121 milhões de pessoas a nível mundial, é amplamente reconhecida por provocar défices na comunicação interpessoal, esta particular área de pesquisa está relativamente inexplorada. "Existe muito trabalho a ser feito em relação às pessoas depressivas - vários estudos demonstram que quando temos um transtorno depressivo a nossa cadência e o nosso discurso emocional é reduzido", disse ele. "Mas não sabemos muito sobre a percepção do discurso em indivíduos deprimidos." No futuro, Chandrasekaran diz que os investigadores querem estudar efeitos semelhantes em indivíduos com uma vasta gama de transtornos depressivos diagnosticados. Este artigo foi inicialmente publicado em Motherboard.

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