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Vida

Vê a curta sobre a tua vida, realizada por Adam Curtis para a VICE

"Se tentares afastar-te um pouco e olhares para a vida à tua volta, vais conseguir ver as brechas a aparecerem na superfície aparentemente impoluta da concha em que vivemos". É esta a premissa de "Living In an Unreal World".

Este artigo foi originalmente publicado na VICE UK.

Adam Curtis é um dos melhores realizadores de documentários do Planeta. Os seus projectos são sempre importantes e é por isso que escrevemos regularmente sobre ele, mas, desta vez, Curtis fez mesmo uma curta metragem especial para a VICE, no âmbito da promoção do seu novo trabalho para a BBC.

Ninguém fala de poder hoje em dia. Somos encorajados a vermo-nos como indivíduos livres e independentes, a pensarmos que ninguém nos controla e desprezamos os políticos, tratando-os como gente corrupta e sem ideias.

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Mas o poder está à nossa volta. O que se passa é que se alterou e transformou-se num sistema massivo de gestão e controlo, cujos tentáculos chegam a todas as partes das nossas vidas. Não nos apercebemos, porque ainda pensamos no poder como pensávamos antigamente: políticos a dizerem-nos o que temos de fazer.

O objectivo do meu novo filme - HyperNormalisation - é trazer este novo poder à luz da discussão e mostrar as suas verdadeiras dimensões. Coisas que vão desde um computador gigantesco alojado nas montanhas da América profunda e que controla mais de sete por cento da riqueza global mundial, até aos complexos algoritmos que constantemente monitorizam cada movimento e cada escolha que fazemos online, ou ainda às modernas ideias científicas sobre o que um humano normal deve ser, seja no que respeita ao peso, aos sentimentos, ou à sua disposição.

O que interliga todos estes sistemas é o objectivo primordial de manter a estabilidade no Mundo. De evitar a mudança. O computador gigante está constantemente a comparar eventos que ocorrem à volta do Planeta, a eventos do passado. Se detecta uma alteração no padrão, ajusta imediatamente os seus biliões de dólares para manter as coisas estáveis. Esse é o verdadeiro poder. Os algoritmos das redes sociais olham constantemente para os padrões do que gostamos e depois dão-nos mais do mesmo. É como se entrássemos numa câmara de eco do que gostamos e que nos alimenta constantemente de nós próprios.

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O resultado é um sistema que nos coloca numa concha e nos faz sentir seguros. E isso significa que vivemos aterrorizados de qualquer mudança. Esse medo da mudança é o interesse de um sistema que quer manter tudo estável. E que quer evitar que alguma vez o desafiemos.

No entanto, é impossível manter as coisas congeladas para sempre. O Mundo é dinâmico. Há coisas que podem acontecer e são impossíveis de prever com uma simples análise ao passado. É por isso que, cada vez mais, somos atingidos por acontecimentos de grande impacto. O horror na Síria, o Brexit, Trump, a onda de refugiados. Coisas que, nem os nossos líderes nem nós, estamos mentalmente preparados para entender, quanto mais para lidarmos com elas. Isto porque fomos levados a comprar o sonho que o mundo pode ser mantido a salvo e estável.

A curta-metragem que fiz para a VICE é sobre o facto de que, se tentares afastar-te um pouco e olhares para a vida à tua volta, vais conseguir ver as brechas a aparecerem na superfície aparentemente impoluta da concha em que vivemos. Muito do Mundo moderno começa a parecer estranho, irreal e, por vezes falso. Julgo que isto se deve às forças dinâmicas exteriores, que começam a perfurar à medida que o sistema começa a falhar.

E vai falhar. Vai falhar, porque um sistema de poder que não tenha uma visão de futuro não pode perdurar. Não pode lidar com a mudança. Temos de começar a olhar para fora. Porque há mais mundo lá fora…


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