O emo é a última subcultura dos nossos tempos
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Entretenimento

O emo é a última subcultura dos nossos tempos

A geração que cresceu nos anos 2000 foi a que construiu as bases da comunicação "online" e, só por isso, devemos muito a este estilo tão controverso.
Hannah Ewens
London, GB

Se és um milenar (anos 2000) e estás a ler isto, de certeza que alguma vez - tal como milhares de pessoas - conheceste algum Tom. O seu nome completo era Thomas Anderson e foi - automaticamente - o teu primeiro "amigo" no Myspace depois de criares o teu perfil. Falamos do nerd que criou a primeira rede social que atraiu toda uma geração no início dos anos 2000.

Para além da sua paixão pela música garage, os emo são, sem sombra de dúvida, a última subcultura autêntica. As tendências vão e vêm e, mesmo que as modas possam parecer inovadoras, a verdade é que são algo inevitavelmente efémero. Algures entre 2003 e 2008, a cultura emo chegou através da Internet, esse lugar onde os adolescentes mais inseguros manifestavam a angústia e rebeldia que reinavam nas suas vidas.

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Para muitos, ser emo significa basicamente andar com cintos de tachas e picos, usar roupa roxa e preta e cobrir uma parte da cara com uma franja enorme: os que pertenceram a esta subcultura recordam-na como um período revelador da sua juventude.

Tudo começou com a música: o género nasce da cena hardcore punk em meados dos 80 e mais tarde transforma-se durante os anos 90 com bandas como Mineral e American Football. Contudo, isso não aconteceu até princípios dos 2000, quando o pop se fundiu com o hardcore para criar um género comercial - muito explorado pela MTV - com o qual apareceu uma nova geração de grupos como Taking Back Sunday, Brand New, Hawthorne Heights, My Chemical Romance e Fall Out Boy.

Mesmo que tenha sido criada a partir da música, a subcultura emo sobreviveu graças a uma tecnologia que proporcionou as condições perfeitas para que o fenómeno crescesse a grande escala. Pela primeira vez, sem sequer sair do quarto, a malta jovem podia interagir com os grupos de música.

Os artistas tinham a sua própria presença virtual e tornaram-se acessíveis, enquanto que a sua emotiva e melancólica música tinha energia suficiente para que toda uma geração de seguidores devotos se ajoelhassem a seus pés. E assim nasceu uma nova cultura de adolescentes suburbanos capazes de devorar tudo o que a Internet poderia oferecer.

O Myspace permitiu-nos criar uma identidade online: podias personalizar o teu perfil, adicionar uma selfie - foi lá que nasceu este fenómeno - e colocar o nome que sempre quiseste (blackprincess, suicidegirl ou ponyqueen). Entrámos numa época em que lutávamos para nos encontrarmos a nós mesmos e, de repente, descobrimos que havia milhões de amigos virtuais por esse mundo fora que faziam o mesmo que nós.

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Sacrificaste uma parte da tua cara para conseguires uma franja perfeita e descobriste que a maquilhagem já não era apenas uma cena da miúdas, a partir do momento em que Pete Wentz e Gerard Way puseram eyeliner e sombra nos olhos quando actuavam nos seus concertos. O género não importava porque todos vestíamos o mesmo: calças justinhas pretas, cabelo colorido, verniz nas unhas e t-shirts apertadas de bandas de música.

A subcultura emo era muito distinta das anteriores: era introspectiva e cautelosa porque os seus integrantes foram os primeiros adolescentes que conheceram a Internet como hoje a entendemos. Em vez de enfrentarmos o mundo, aborrecíamo-nos sozinhos e, mesmo sendo contra os estereótipos, o objectivo da existência dos emo era fazer parte de um grupo.

O fenómeno cresceu tanto que as empresas não tardaram a aproveitar-se do poder aquisitivo dos adolescentes: a Topman começou a vender pins de bandas, camisolas com carapuço e calças de ganga afuniladas. Pela primeira vez em muito tempo, a rua converteu-se num escape para os jovens provocadores.

E assim, de um momento para o outro, o emo morreu da mesma forma que desaparecem todas as subculturas: foi devorado pelo mainstream, se bem que a sua migração massiva a outras plataformas como o Facebook também contribuiu para a sua extinção. Além do mais, as bandas mais representativas do movimento - como My Chemical Romance e Fall Out Boy - evoluíram para um estilo mais actual. No entanto, esta subcultura chegou a ter tanto poder que podemos dizer, sem medo de nos equivocarmos, que esteve na base da interacção entre os que agora têm vinte e poucos anos. Assim começou a cultura das redes sociais, os emoticons, os memes e também o Tumblr, onde partilhamos publicamente o trabalho dos outros que mais gostamos.

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O emo demonstrou o poder que têm os meios de comunicação na hora de se aproveitarem dos jovens, mas, por outro lado, também demonstrou o quão importante é a interacção entre artista e fã para aumentar a sua presença social.

Em termos de estilo, a estética emo continua a ser popular e inclusive ganhou adeptos: pins, emblemas, casacos de couro, skinny jeans e as vans. Até as tendências nascidas na Internet como o cyberpunk e a moda "dollskill" têm referências da cena emo.

O emo também contribuiu para o início da economia online, o consumo e a venda de roupa: muitos adolescentes montavam os seu próprios negócios no Myspace, vendiam pulseiras, t-shirts e outros acessórios que, de outra forma, não poderiam revender.

A internet ajudou a difundir a cultura emo, mas também garantiu que o conceito de cubcultura a que estamos habituados desaparecesse. Agora, o individualismo reina entre os jovens e por isso acreditamos que os emo encerraram o ciclo, mas analizando a maneira como influenciaram a nossa forma de entender a tecnologia, estamos certos que não os esqueceremos facilmente.

Este artigo foi inicialmente publicado em i-D.