FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

A polícia do Rio continua matando na preparação para as Olimpíadas no Brasil, diz relatório

Investigação da Human Rights Watch revela que a força policial do estado matou quase duas pessoas por dia em 2015, muitas vezes extrajudicialmente.

Foto por Antonio Lacerda/EPA.

Matéria originalmente publicada na VICE News.

O fracasso das autoridades do estado do Rio de Janeiro em combater o enorme problema dos assassinatos cometidos pela polícia em operações de combate ao crime, estão sabotando os esforços para melhorar a segurança dos Jogos, diz um relatório divulgado pela Human Rights Watch no começo de julho.

Esse é mais um num extensa série de pontos negativos na imagem do Rio, a menos de um mês do Brasil receber os Jogos Olímpicos de 2016, indo do medo do zika vírus ao caos da política nacional atual.

Publicidade

O relatório de 109 páginas diz que a polícia do estado do Rio de Janeiro matou quase duas pessoas por dia em 2015, e muitas dessas mortes forma extrajudiciais.

O relatório do grupo de Nova York inclui entrevistas com 34 policiais ainda em serviço e aposentados, que detalharam uma "cultura de combate" que, segundo eles, premia mortes em vez de resultar na prisão dos suspeitos.

"Consideramos que uma operação foi um sucesso quando temos criminosos mortos", disse o major Roberto Valente, que comanda uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) numa favela, ao Human Rights Watch em dezembro passado.

O relatório afirma que muitos dos mortos pela polícia estavam sob custódia, desarmados ou tentaram fugir. Mesmo com as autoridades do Rio dizendo que a maioria dos casos acontece quando a polícia é atacada, a Human Rights Watch estudou 64 casos e encontrou inconsistências nos exames forenses na metade dos incidentes. As autópsias mostram que os tiros a 20 suspeitos foram realizados à curta distância, o que não é comum em tiroteios.

Os oficiais entrevistados também revelaram como encobrem assassinatos extrajudiciais de várias maneiras, desde plantando armas nos suspeitos a removendo vítima da cena do crime e destruindo provas.

E as mortes pela polícia estão subindo. Em 2015, a polícia matou 645 pessoas; em 2013 foram 416.

Esse aumento das mortes também afeta desproporcionalmente os negros brasileiros, que formam 52% da população do estado mas 77% das mortes nas mãos da polícia. Enquanto 47% da população é branca, ela representa apenas 15% dos mortos.

Publicidade

Screenshot via relatório da Human Rights Watch.

A taxa de 3,9 mortes pela polícia para cada 100 mil habitantes em 2015 é quase dez vezes a dos EUA, por exemplo.

A segurança tem sido um assunto polêmico com a chegada dos Jogos. Mês passado, policiais, bombeiros e paramédicos protestaram no aeroporto do Rio por causa de salários atrasados e péssimas condições de trabalho.

Eles seguraram uma faixa em inglês dizendo "Bem-vindo ao Inferno… Quem vier ao Rio não estará seguro".

Tradução: Marina Schnoor