Comendo Pênis de Bode com o 1% da América

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Comendo Pênis de Bode com o 1% da América

Todo ano um clube social influente chamado Explorers Club se reúne para um jantar. Dessa vez, o banquete era composto por ratos-almiscarados, sopa de água-viva, espetinho de tarântula, cheesecake de gafanhoto, salada de cérebro de ovelha e pênis de...

Semana passada, participei do 110º Jantar Anual do Explorers Club. Para quem não sabe, o Explorers Club é “uma sociedade internacional multidisciplinar dedicada ao avanço no campo da pesquisa e ao ideal de que é vital preservar o instinto de explorar”. Para os leigos (e o Explorers Club não tem nenhum leigo), isso é um clube social influente formado por pesquisadores, matemáticos, diplomatas, escritores e astronautas.

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Todo ano, o clube realiza um jantar de gala no Waldorf Astoria, Nova York, onde as pessoas mais inteligentes da sala, de todas as salas do mundo, se reúnem para uma noite de tapinhas no ombro e pagação de pau. Tudo começa com um brunch, segue com entrevistas e fotos publicitárias e acaba com um jantar, discursos e uma after-party. Mas a principal razão para ir a essa festa (para quem não é do clube, pelo menos) é pela recepção com coquetéis e aperitivos compostos dos melhores afrodisíacos e iguarias que o dinheiro pode comprar (a recepção e uma cadeira no jantar custam cerca de £725, ou 2.800 reais).

Assim que entrei na recepção VIP, fui recebido por um cu aberto de avestruz assado, cruzei com as pessoas mais inteligentes do mundo – alunos da Ivy League de Harvard, estudiosos da teoria das cordas e magnatas da internet. Entre os presentes: Sua Majestade Real o príncipe Jigyel Ugyen Wangchuck do Butão, Felix Baumgartner, o cara que pulou da estratosfera e Jeff Bezos, da Amazon.

Preparado por Gene Rurka, o presidente do comitê exótico do clube, com base na disponibilidade e preço de mercado, a comida era impressionante e revoltante. Os salões da recepção, mal iluminados por lâmpadas incandescentes vermelhas que só serviam para amplificar o cheiro forte das carcaças assadas, estavam arrumados como um bufê por quilo muito burguês. Mas, em vez de uma fonte de chocolate, a mesa estava arrumada com dois ratos-almiscarados em posição cachorrinho, sopa de água-viva e espetinho de tarântula. Também tinha cheesecake de gafanhoto e salada de cérebro de ovelha. No passado, Gene já serviu macacos de Macau, vespas japonesas e tatu.

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Uma amostra de opulência. Mas o que você esperava? O que servir para um homem que já pisou nos sete continentes? Mais importante, o que servir para um homem que já atravessou a Antártica e esteve na lua? Você serve uma variedade de pênis e escrotos, e martíni com um globo ocular de aperitivo.

E lá estava eu, bebendo uma Budweiser e rindo de um cara que estava comendo pênis. Mas alguma coisa não parecia certa. Quando o coquetel terminou, fomos levados para um salão onde um jantar mais tradicional (preparado pelo hotel, não pelo clube) seria servido durante a cerimônia de premiação e os discursos.

O presidente do clube subiu ao palco, usando um capacete espacial, e disse alguma coisa críptica sobre a Rolex, que tinha doado muita grana para não sei o quê. Ele apontou para algumas pessoas, agradeceu outras, tirou sarro de outras e depois apresentou o príncipe do Butão. Fora a barreira da língua, o príncipe fez um discurso bastante inspirador sobre sua terra natal, o país mais feliz da Ásia e a última Shangri-La.

O próximo foi um professor que realmente colocou as coisas em perspectiva para mim. Depois de uma breve introdução, com a qual ele tentou resumir a teoria das cordas em 20 segundos, ele fez algumas perguntas para o público.

“Se você já escalou qualquer um dos sete cumes, por favor, de pé.”

“Se você viu a Terra do espaço, por favor, de pé.”

“Se você é um especialista na teoria das cordas, por favor, de pé.”

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Ainda sentado, percebi o quão profundamente deslocado eu estava. Não importa o quanto eu quisesse menosprezar o evento e seus patronos, essas são as pessoas responsáveis por mudar o mundo. Esses são os homens que estão, sozinhos, privatizando a ciência dos Estados Unidos e, no final das contas, estimulando o avanço da raça humana.

Depois, um famoso astrofísico terminou seu discurso – feito em tempo real via satélite, de uma cadeira de rodas, usando algorítimos de previsão de palavras e sintetizadores de fala – com uma frase profunda: “Temos que ir audaciosamente onde ninguém foi antes”.

Imediatamente, pedi licença da mesa, passei por três pedaços de um motor Apollo F-1, peguei uma sacolinha de presentes com uma cópia da National Geographic, um boné de golfe da Rolex e um pacotinho de doces de escorpiões e fui para casa.