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48 Horas em Oslo: O Ataque e o Rescaldo

Na tarde da sexta passada, uma mega explosão destruiu as janelas de alguns edifícios do centro de Oslo e quase fez com que caíssemos das cadeiras. Corremos pras ruas e demos de cara com um labirinto de escombros e fumaça.

Na tarde da sexta passada, uma mega explosão destruiu as janelas de alguns edifícios do centro de Oslo e quase fez com que caíssemos das cadeiras. Corremos pras ruas e demos de cara com um labirinto de escombros e fumaça, com a polícia por todos os lados gritando para as pessoas para continuar correndo.

Por fim, nos abrigamos num ginásio subterrâneo no distrito de Kvadraturen. Alguém parou para nos dizer que os escritórios do governo tinham sido atacados e que muitas pessoas estavam feridas, mortas ou presas nos escombros. Os peritos em terrorismo, os agentes da CIA, os jornalistas e todo mundo abrigado no ginásio começou a dizer que a Jihad estava atacando a nossa cidade. Depois, nosso Twitter começou a bombar com menagens dos jovens que estavam na ilha de Utøya.

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“Fui baleado. Não me telefonem. Estamos escondidos.” Ouvimos dizer que um homem vestido com um uniforme da polícia tinha começado a disparar sobre as pessoas que estavam num acampamento juvenil naquela ilha. Algumas horas mais tarde, um grupo desses jovens em pânico começou a contar à imprensa que o atirador que os tinha atacado era branco e falava com um sotaque de Oslo. Apanhamos um táxi para casa, confundidos pela ideia de que a al-Qaeda tinha contratado um norueguês para fazer o seu trabalho sujo.

Às 21h50, o ministro da justiça norueguês confirmou que o atirador era, realmente, um cidadão da Noruega. Pouco depois, vimos pela primeira vez as fotos do terrorista de gola levantada. Ele não fazia parte da Jihad. Se chama Anders Behring Breivik e é de Skøyen, um bairro de classe média na zona oeste de Oslo. Anders tem 32 anos, frequentou a mesma escola que um de nós, costumava jogar World of Warcraft, ouvia trance (Armin van Buuren) e é um fundamentalista cristão e ativista de extrema direita que, naquela hora, já tinha assassinado 76 pessoas no pior massacre a que a Noruega assistiu desde a Segunda Guerra Mundial.

No dia seguinte, voltamos à rua para ter uma noção do nível de destruição.

Quando chegamos ao centro da cidade, esses dois jovens soldados foram os primeiros de muitos que vimos patrulhando a área.

Alguns trabalhadores limpavam os vidros quebrados da Folkets Hus ("A Casa do Povo"), uma organização do Arbeiderpartiet ("Partido Trabalhista").

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Esse cara estava impedindo as pessoas de utilizar a entrada para o departamento financeiro, onde uma bomba feita com uma mistura de fertilizante e combustível explodiu às 15h36 de sexta-feira. Segundo a polícia norueguesa, foi encontrada uma série de outros explosivos em edifícios nas redondezas, mas esses não chegaram a explodir.

Uma van do exército estacionada junto a uma esplanada no centro da cidade. Geralmente, esta esplanada costuma estar sempre cheia de gente e é um dos nossos lugares preferidos pra comer.

Conhecemos um cara cujo amigo tinha acabado de enviar uma mensagem dizendo que, há cerca de um mês, tinha ouvido um homem aos berros na rua dizendo o seguinte: "'Vai acontecer nesse verão, não sou maluco, se é isso que vocês acham, e nós estamos no Afeganistão com os EUA e tal…' Ele berrou isso tudo… Depois subiu na bicicleta e foi embora, que doido".

A sede do Arbeiderpartiet fica a 500 metros do lugar onde a bomba explodiu mas, ainda assim, a fachada do edifício ficou bem danificada.

Aqui é o departamento financeiro. A bomba explodiu atrás do edifício. A bandeira norueguesa está a meia-altura como sinal de luto nacional.

A explosão foi tão forte que destruiu a porta de uma garagem a mais de meio quilômetro de distância.

Tiramos esta foto do centro de Oslo a partir da varanda de um apartamento no bairro de Grønland.

Esse é o Tore, um jornalista de 28 anos que vive em Grønland. Na sexta-feira, tinha acabado de acordar e estava preparando o café da manhã quando ouviu uma explosão enorme. Primeiro, pensou que fosse uma trovoada, mas depois o prédio dele começou a tremer e o céu ficou coberto de fumaça. Olhou pela janela e viu que a sede do parlamento tinha sido destruída.

Quando soube que o terrorista não era um islâmico fundamentalista, não ficou surpreso. Disse que existem muitas pessoas com tendências de extrema-direita na Noruega, e que aqui as pessoas com esse tipo de crenças não estão tão bem organizadas como no resto da Europa, por isso é fácil se sentirem alienados. Também disse que era fácil as pessoas se sentirem infelizes na Noruega se não se contentarem com as coisas normais, como o emprego e a família.

Além disso, ainda nos disse que o governo devia estar mais alerta e não focar apenas a sua atenção nos grupos terroristas islâmicos. Acho que agora isso vai começar a acontecer, mas também era difícil terem se preparado para um ataque tão inesperado e numa escala tão abrangente quanto este.

POR ALIX & ANDREAS VICE NO
TRADUÇÃO POR EQUIPE VICE BR