FYI.

This story is over 5 years old.

Outros

Conversamos Com Stacy Martin Sobre Suas Cenas de Sexo Com O Shia Labeouf

Eu me encontrei com a Stacy no Soho, onde bebemos café de graça e falamos sobre vício em sexo, dublês pornô e sobre a estranheza de filmar cenas de sexo com o Shia LaBeouf.

Stacy Martin em Ninfomaníaca.

Conseguir um papel no filme mais infame da década não é um jeito ruim de começar sua carreira no cinema. Em sua estreia nas telas, a modelo britânica Stacy Martin, de 22 anos, passou a maior parte do tempo gemendo e fazendo coisas estranhas com um esquadro em seu papel como a personagem-título de Ninfomaníaca, épico de quatro horas de Lars von Trier. Sombrio, deprimente e engraçado ao mesmo tempo, o filme segue as escapadas sexuais, frequentemente brutais, de uma mulher (interpretada por Martin e Charlotte Gainsbourg) do nascimento aos 50 anos de idade.

Publicidade

Eu me encontrei com a Stacy no Soho, onde bebemos café de graça e falamos sobre vício em sexo, dublês pornô e sobre a estranheza em filmar cenas de sexo com o Shia LaBeouf.

O trailer de Ninfomaníaca – Parte 1.

VICE: Oi, Stacy. Qual foi sua primeira reação quando leu o roteiro de Ninfomaníaca?
Stacy Martin: Eu adorei! Li o roteiro antes de ir para Copenhagen para o teste e realmente me apaixonei pela densidade dele e pelos diversos elementos no filme – e o humor negro, que é bem específico do Lars.

O Shia LaBeouf disse que, quando recebeu o roteiro, tinha um bilhete dizendo que ele precisava mandar uma foto do pinto dele para o time de produção.
Ele disse isso?!

É. Acho que não foi a mesma coisa para você, foi?
Não, eu não tenho pênis [risos], então não recebi nada disso.

Nenhum pedido estranho?
Não mesmo. Só recebi o roteiro num envelope marrom – bem padrão.

Como suas cenas de sexo estavam escritas no contrato?
Tínhamos um contrato de nudez; estava tudo bem preto no branco antes de fazermos o filme, então, todo mundo sabia o que estava fazendo. Eles me disseram que eu teria uma dublê pornô – e que eu não faria nada sexual. Nós concordamos – e o Lars concordou – que usaríamos próteses e coisas assim.

A cena do boquete parece particularmente real.
É, parece real. Quer dizer, estou convencida de que parece real – mas não, não é real. Não era um pênis de verdade… eles fizeram vaginas e pênis falsos e usamos eles para isso.

Publicidade

Não teve CG?
Bom, fizemos o CG para os dublês pornôs, então, quando – por exemplo – você tem as tomadas mais amplas da Joe [a personagem de Martin] fazendo sexo, eles pegavam o que a gente tinha feito e o que os dublês pornô tinham feito e colocavam tudo numa mesma imagem, para parecer que estávamos, basicaente, fazendo sexo.

Como você se preparou para o papel de uma ninfomaníaca?
Quer dizer, não me preparei para o papel de uma viciada em sexo, eu me preparei para o papel da Joe, especialmente porque interpreto ela em seus anos de formação, quando ela tem de 15 a 31. [É durante] esse período que você descobre quem você é, e você experimenta muito. Então, interpretar uma viciada em sexo desde o começo seria errado, e o Lars me disse para não fazer isso. Ele disse: “Não quero que você interprete o que você acha que é uma viciada em sexo, porque a Joe não é assim e o filme não é sobre o estereótipo de uma ninfomaníaca; é sobre mostrar a humanidade da pessoa que tem um vício”. Acho isso válido, ele tinha razão.

Como você e o Shia se prepararam para cenas de sexo juntos?
Conversamos muito sobre isso. Nós obviamente… bom, por causa da natureza da cena – porque éramos nós dois usando próteses – era muito importante para o Lars, e para nós como atores, conhecer um ao outro, estar confortável e estar na mesma página, em vez de somente, “Ei! Vamos lá!”. Quer dizer, ele foi incrível, ele é muito dedicado ao que quer fazer. Com ele, você está ali imediatamente e sabe o que está fazendo. Você não está de brincadeira.

Publicidade

Então não foi estranho para vocês filmar aquelas cenas?
Bom, não foi o momento mais natural da minha vida, com certeza. Mas, como atores, se você vai pegar papéis como o da Joe e do Jerôme [o personagem do LaBeouf], é seu dever no trabalho honrar essas circunstâncias. E foi o que fiz, pelo Lars, pelo filme dele – por todas essas coisas. Eu não fiquei pensando, “Ah, vou fazer qualquer papel e ficar pelada” – definitivamente não.

Shia e Stacy em Ninfomaníaca.

E o Lars chutou todo mundo do set para filmar você e o Shia?
É, foi um set fechado, então, estávamos somente o Lars, eu e o Shia – ou quem quer que fosse que estivesse fazendo a cena comigo – e o operador de câmera. Foi tudo muito íntimo, muito calmo. O Lars trabalha com quem ele conhece há anos, então, há uma sensação meio familiar. Então, imediatamente, você sente como se tivesse entrado – parece estranho – nesse lugar seguro. Você pode falar o que quiser e eu pude ser muito honesta com o Lars.

OK. Deixa eu ver se entendi direito – você e o Shia tinham dublês pornô; como as coisas funcionavam para vocês quatro no set?
Por causa dos efeitos especiais, eles precisavam que os dublês fizessem a cena primeiro. Então eles faziam sexo – eles faziam o trabalho deles, basicamente, porque acho que eles são atores pornôs alemães – e, então, a gente entrava e fazia exatamente o mesmo, mas usando calça. E depois tudo era editado junto.

Publicidade

Você chegou a sair com sua dublê pornô?
Não, quer dizer, eu a conheci, mas a gente não saiu para tomar chá nem nada assim. É estranho ver como um set pode mudar rápido. Tipo, a atmosfera realmente mudava quando eles faziam essas cenas, e eu acabei ficando por lá tempo demais uma vez. Quando eles começaram a filmar, pensei: “Na verdade, isso é um pouco estranho demais – melhor eu ir embora”. Era como se eles estivessem fazendo um pornô e tudo o que eles faziam, eles faziam de verdade.

Quando você viu o pessoal transando, você pensou: “Vai ser eu na tela. Essa é minha cena de sexo”?
Você precisa pensar. Você lê o roteiro e sabe o que isso vai exigir de você. É estranho, mas é incrível. Quer dizer, eu posso realmente fazer esse filme sem comprometer minha integridade, e é tipo: “É, ótimo, obrigada – vai lá e faça o sexo por mim! Obrigada. Eu vou ali tomar uma xícara de chá e não fazer sexo”.

Stacy e o esquadro.

A matemática tem um papel estranho nas cenas de sexo e você até fez uma cena memorável com um esquadro. O que você acha dessa relação?
É engraçado, porque acho que o Lars não tomou a decisão de juntar matemática e sexo de forma consciente, mas há algo muito técnico no sexo e tinha algo muito técnico na maneira como tivemos que filmar essas cenas. É muito matemático, porque é como sobrevivemos como raça; nós nos reproduzimos constantemente – isso é técnico, isso é matemática de uma forma estranha e abstrata. Mas também foi a maneira como ele tirou todo o romance disso, do que você espera que seja uma cena de sexo na tela do cinema, com música e belos lençóis, e, de repente, eles já estão na cama. Ele tirou tudo isso e mostrou o que é de verdade, e a matemática faz exatamente isso.

Publicidade

Não é muito natural o jeito como o personagem do Shia mete a mesma quantidade de vezes – três pela frente e cinco por trás – nas cenas em que ele faz sexo com sua personagem.
Hum, é, é muito formal. Acho que o Shia deve saber melhor o porquê disso – é o personagem dele.

Como você se dava com o Shia nos bastidores?
Ele tem essa energia que eu diria que é – provavelmente estou errada – muito americana. Assim que ele chegou, ele foi muito dedicado – ele estava lá. Ele chegou, e nós, tipo, os europeus, estávamos relaxados e quietos. E ele meio que reviveu as coisas, porque ele estava muito empolgado por estar ali. Você faz a cena e não fica esperando, porque você ama esse papel e quer estar ali, em vez de “Ah, eu gosto desse filme, mas estou achando uma merda ficar aqui”.

Shia, antes da história do plágio e do saco de papel na cabeça.

Você acha que o Shia absorveu um pouco da natureza provocativa do Lars, dado o que aconteceu com ele desde então?
Com tudo que tem acontecido, acho que só ele tem as respostas, de verdade. E ele não vai dá-las facilmente. Quer dizer, nós filmamos quase um ano e meio atrás, então ele pode ter mudado completamente.

O que você acha do caso do saco de papel na cabeça?
Se ele teve essa ideia e estava 100% certo disso… faça. Quer dizer, não pensei muito nisso!

O Lars é conhecido por fazer personagens mulheres que passam por todo tipo de merda – você ficou nervosa com esse aspecto do papel?
Sabe, as personagens principais de Dogville [Nicole Kidman] e Ondas do Destino [Emily Watson] – sim, elas passam por várias merdas, mas também são mulheres muito fortes. Não é muita gente que passa por coisas assim e são corajosas e bondosas o suficiente para continuarem verdadeiras consigo mesmas. E acho que isso dá poder a elas, porque você as vê em situações escrotas – que, na maioria das vezes, são influenciadas ou acontecem por causa dos homens ou da cultura – e elas ainda conseguem superar isso e acreditar no que acreditam. O que é incrível, então, interpretar alguém assim é um presente. Porque, de outra maneira, eu poderia muito bem não atuar. Sabe, por que um pintor pinta? Você precisa comunicar, você precisa desafiar ideias preconcebidas.

Obrigado, Stacy.

@OliverLunn