FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

Budistas Furiosos Estão Fazendo a Vida dos Muçulmanos do Sri Lanka um Inferno

Mesquitas têm sido atacadas com carne de porco crua, o logotipo do Halal foi proibido e o proeminente crítico muçulmano do governo, Azad Sally, foi preso.

Muçulmanos estão sob ataque no Sri Lanka. Informações recentes indicam que gangues budistas estão tomando as ruas, realizando espancamentos em público e atacando locais de trabalho e de adoração de muçulmanos. Mesquitas têm sido atacadas com carne de porco crua, o logotipo do Halal foi proibido e o proeminente crítico muçulmano do governo, Azad Sally, foi preso. Outro incidente dramático recente acabou com as forças de segurança do governo, acionadas para manter a lei e a ordem depois que uma gangue de budistas feriu quatro pessoas numa mesquita em Colombo, a maior cidade do Sri Lanka, forçando o lugar a fechar as portas e estabelecendo um toque de recolher na região.

Publicidade

Moulavi Fazil Farooq, do grupo político islâmico All Ceylon Jamiyyathul Ulama, me disse que a “liberdade de religião e de expressão” dos muçulmanos está ameaçada no Sri Lanka. Ele também me indicou um dos grupos budistas acusados de realizar os ataques: o Bodu Bala Sena, que pode ser traduzido como “Força do Poder Budista”. Eles afirmam que seu objetivo é “proteger” a cultura budista no Sri Lanka, que eles acreditam estar sendo ameaçada por grupos muçulmanos e cristãos. (Para contextualizar, 70% da população do Sri Lanka é budista – menos de 10% é muçulmana e uma porcentagem ainda menor é cristã.)

Sem surpresa, Dilanthe Withinage, o CEO do Bodu Bala Sena, nega que sua organização tenha qualquer envolvimento com a violência. E ele não acredita que as coisas tenham saído do controle: “Noite passada, eu estava num lugar em Colombo onde quase 80% das pessoas eram muçulmanas”, ele me disse por telefone. “Eles estavam se divertindo e comendo – não acho que isso seja uma grande questão.”

É isso. Enquanto os muçulmanos puderem relaxar e se alimentar sem impunidade no Sri Lanka, eles não deviam criar confusão por causa de um pedaço de carne de porco ocasional em sua porta ou de um punho fechado na cara.

Dilanthe Withinage (esquerda), um dos cachorros grandes do Bodu Bala Sena.

Sobre a proibição do logotipo Halal, um golpe óbvio à liberdade de expressão dos muçulmanos no país, Withinage disse considerar o Halal como algo que “os muçulmanos deveriam poder aproveitar”, mas também apontou educadamente que “o Halal é usado por organizações muçulmanas para promover o Islã; para promover o fundamentalismo islâmico”.

Publicidade

“A mídia pode tentar promover a violência e tivemos mesmo alguns incidentes, mas não acho que exista um grande conflito entre muçulmanos e a comunidade budista no Sri Lanka.”

Dever ser fácil minimizar a perseguição religiosa quando isso não está acontecendo com você. Como parte da pesquisa para este artigo, recebi uma lista de mais de 130 incidentes registrados ligados à islamofobia. Os casos vão desde uma tentativa de sequestro de um empresário muçulmano e cabeças de porco colocadas do lado de fora de casas muçulmanas até pedidos diretos de violência por parte do próprio Bodu Bala Sena.

O homem que me encaminhou essa lista é Jehan Perera, diretor do Conselho Nacional pela Paz no Sri Lanka, uma ONG que busca acabar com as divisões entre as comunidades do país e garantir direitos iguais para todos.

A visão sobre as tensões entre muçulmanos e budistas no Sri Lanka é muito diferente da de Withinage: “Os muçulmanos estão com medo porque acham que podem ser o próximo alvo dos budistas. Todos eles se preocupam. Todos sentem que isso pode sair do controle repentinamente, e pode mesmo.”

É importante notar que essa violência não é uma via de mão única. Perera me contou que quando uma mesquita em particular foi atacada, “os muçulmanos revidaram… eles eram a maioria na área”.

Mas o que está causando a violência? Deixando de lado o óbvio de que esses atos de agressão vão contra os ideais budistas, o que está realmente por trás dessa nova onda de instabilidade no país?

Publicidade

Uns dizem que isso está ligado à frustração econômica, que transforma os muçulmanos ricos em “bodes expiatórios [convenientes] para as aspirações frustradas” daqueles que acham que não são tão prósperos quanto deveriam.

No entanto, Perera cita o nacionalismo potencial instilado na maioria cingalesa desde que os Tigres de Tamil foram massacrados numa sangrenta guerra civil que acabou em 2003 e matou 100 mil pessoas: “O último ataque a uma mesquita em Colombo é outro sinal de que a onda de nacionalismo budista continua a crescer com o passar do tempo”. Perera explicou: “O Sri Lanka, na mente budista, é um país budista e para vencer essa guerra o governo mobilizou esse nacionalismo. O governo tem explorado isso para seus próprios propósitos”.

Talvez por isso a polícia pareça fazer tão pouco para impedir que a violência se espalhe. “De certa maneira, ter tensões religiosas que jogam os budistas contra os muçulmanos é útil ao governo”, disse Perera. “O governo não precisa fazer muito para manter os budistas unidos atrás dele.”

A verdadeira preocupação é que esses eventos no Sri Lanka comecem a espelhar os de Myanmar, com muçulmanos rohingya e budistas sendo mortos, com a violência se intensificado até o ponto de haver uso de explosivos e com comunidades islâmicas inteiras sendo forçadas a se deslocar, por vezes, fugindo em barcos e tentando a sorte no mar. Justin Wintle, escritor e historiador, afirma que “os fundamentalistas islâmicos, amigos da al-Qaeda, estão começando a se interessar” pela área, algo que, provavelmente, nem o governo de Myanmar nem os budistas do país querem.

Publicidade

“Em Myanmar, a própria cidadania dos rohingyas está sendo contestada”, me disse Meenakshi Ganguly, do Human Rights Watch. “Eles são vistos como estrangeiros.”

Pichações anti-islâmicas feitas numa mesquita no começo deste ano.

Como os muçulmanos do Sri Lanka têm uma presença muito mais segura do que os de Myanmar, parece improvável que sua cidadania seja questionada. No entanto, a propaganda anti-islâmica no país tem ganhado cada vez mais apoio. De acordo com documentos que recebi de Jehan Perera, alguns exigem que os muçulmanos deixem certas áreas do país por completo.

“O Sri Lanka”, Ganguly continuou, “tem sofrido com décadas de violência e enormes perdas”.

Seria uma tragédia se os muçulmanos do Sri Lanka, uma das populações que mais sofre abuso atualmente, num país com uma das histórias mais sangrentas do final do século XX, fossem lançado de volta para uma violência da qual acabaram de emergir. Se o governo do Sri Lanka não começar a tomar medidas mais duras contra esses ataques sectários, poderemos ver o país voltando no tempo e perdendo os poucos anos de paz e relativa estabilidade recém-alcançados.

Todas as fotos cortesia do Colombo Telegraph.

Siga o Joseph no Twitter: @josephcox

Mais islamofobia no mundo:

A Liga de Defesa Inglesa Passou o Sábado Sangrando em Birmingham, Inglaterra

Fascistas Ingleses Tomaram Sua Primeira Coça em Brighton no Fim de Semana