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Música

O que É Música Eletrônica por Paulo Beto do Anvil FX

Trocamos uma ideia com o músico mineiro do projeto Anvil FX que comanda um curso sobre música eletrônica em São Paulo.
Imagens: divulgação.

Paulo Beto tem medo de ETs. Ou pelo menos tinha. Aos 12 anos, ele foi acordado por barulhos estranhos. Tão estranhos que ele teve certeza: tratava-se de uma nave espacial pousando no seu quintal. O menino pulou da cama e, mesmo com medo, foi dar aquela conferida no tamanho do problema. Foi aí que ele deu de cara com o irmão e um amigo lavando o carro enquanto ouviam Kraftwerk.

O episódio foi determinante para Paulo Beto se interessar por música. E daí para fazer música eletrônica foi um pulo. Não é à toa que a trajetória do cara se confunde com o próprio curso da música eletrônica no país. No final dos anos 1980, Paulo Beto foi integrante de projetos viajandões como o duo Silverblood e o Shiva Las Vegas, que manteve com Alex Antunes. Ainda assim, ele diz que os primórdios da eletrônica por aqui são anteriores. A música eletroacústica, conta, surgiu no Brasil ainda nos anos 1960.

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Homem à frente do projeto Anvil Fx, que mantém com o outro produtor mineiro Pedro Zopelar, Paulo Beto é quem comanda o curso "Para Ouvir e Entender a Música Eletrônica", que rola entre os dias 12 e 16 de janeiro no Sesc Consolação, em São Paulo. Se ligaê que ainda dá tempo de fazer sua inscrição. Pra saber mais sobre as aulas, trocamos uma ideia por e-mail com o músico. Vai que vai.

THUMP: Paulo, conta aí por que você começou a fazer música - e escolheu fazer especificamente música eletrônica experimental?
Paulo Beto: Eu acho que a música me escolheu. Meus interesses de infância eram ligados a desenho, terror e ficção científica. Mas num certo momento, com certeza influenciado pelas pessoas que eu convivia, descobri algo de fascinante na música e a minha entrada foi pela música eletrônica. Eu fui criança durante a guerra fria e morria de medo do "telefone vermelho" e de invasão dos extraterrestres. Um dia, aos 12 anos, acordei num sábado com um som que eu tive certeza que uma espaçonave tinha pousado no quintal da minha casa. Na realidade era o meu irmão e um amigo ouvindo "ANTENNA" do KRAFTWERK bem alto, enquanto lavavam o carro.

Foi aí que deu o estalo?
Depois daquele momento, eu só queria saber de música eletrônica. Pedi um Moog de presente de aniversário e ganhei um violão. Logo tive que fazer um longo percurso de aprendizado musical até ter de fato contato com os knobs dos equipamentos eletrônicos. Aprendi violão clássico, Bossa Nova e o rock. Minha entrada na música eletrônica não foi via dance music, embora eu já trabalhasse como DJ na época em que pude ter o meu primeiro sampler e minha primeira bateria eletrônica. Nessa época, meus ídolos eram a Laurie Anderson, o Einstüzende Neubauten e o Cabaret Voltaire. Mas amava ouvir coisas como o Cold Cut e o Bomb The Bass também. Tive uma formação híbrida. Descobri que o algo a mais dos meus artistas favoritos vinham da influência dos compositores eruditos e acabei mergulhando nesse universo, que para mim foi fascinante. De alguma forma isso me conectava de uma maneira legal com o universo do terror e da ficção científica.

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E, vem cá, dá pra apontar um precursor da música eletrônica no Brasil? Quem seria esse nome – e por quê?
Acho muito injusto apontar apenas um precursor. Foram vários e você sabe, essas coisas acontecem com muita sincronicidade (como diria Jung). Há nomes que precisam ser muito respeitados como: Jorge Antunes, Rodolfo Caesar, Jocy de Oliveira, Conrado Silva. Estes são apenas os primeiros nomes que me vem à cabeça.

No curso no SESC, serão cinco encontros ao longo de uma semana. Como você pretende dividir as aulas?
Primeiro dia: uma noção mais geral dos conceitos e levantarei questões sobre equívocos e confusões frequentes [na música eletrônica].

Segundo dia: síntese artificial do som e o nascimento de uma sonoridade que não havia na natureza.

Terceiro dia: a história da gravação e das possibilidades de manipulação musical dos sons gravados.

Quarto dia: sobre as técnicas de sequenciamento entre equipamentos, o que gerou a dance music eletrônica.

Quinto: a revolução do computador e das novas plataformas como telefone celular e tablets.

Você curte muito fazer som com sintetizadores, né? Os synths são um capítulo importante desse curso?
Certamente.

E vai rolar alguma demonstração prática de como fazer música eletrônica, tipo apresentar alguns equipamentos e tal?
Na quarta aula com certeza.

Para você, qual é o maior pecado da nova geração da eletrônica? O que você considera inaceitável?
Apenas acho que deveriam entender melhor o que estão fazendo. Falta compreender melhor a linguagem para que os resultados sejam algo além das limitações dos recursos. Muitas vezes as máquinas controlam mais do que são controladas.

Dá pra responder de maneira ampla o que é afinal música eletrônica?
Digo que é a linguagem musical mais recente da história de nossa civilização. Tem apenas 100, aproximadamente. Possui características próprias que ampliaram a maneira de compor e de se pensar música. Lida com sons musicais e não musicais para a construção de suas obras. Gera possibilidades de execução que seriam impossíveis para os seres humanos através de suas máquinas incríveis. Vai além do pensamento estabelecido como clássico e a estrutura formal.

Siga os passos de Paulo Beto nas redes:
soundcloud.com/pb-anvil-fx
facebook.com/anvilfx
anvilfx.bandcamp.com