Nesta terça-feira, o New York Times publicou uma reportagem bombástica que detalha as formas pelas quais o Facebook cedeu dados privilegiados de seus usuários a gigantes do Vale do Silício sem o consentimento de ninguém.
Isso significa que a Netflix e o Spotify puderam ler e enviar mensagens privadas a partir de perfis de usuários; que o Bing da Microsoft pôde ver os nomes de todos os amigos de alguém no Facebook sem autorização; que a Amazon pôde ver listas de amigos e dados para contato; e que a Apple pegou dados da plataforma a partir de iPhones sem perguntar a ninguém. A reportagem tomou por base entrevistas com mais de 60 pessoas sem conhecimento destes acordos e 270 páginas de documentos internos do Facebook que detalhavam o esquema.
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A plataforma de Mark Zuckerberg deu a essas empresas acesso privilegiado e, em contrapartida, algumas destas retornaram dados que o Facebook poderia utilizar em seus próprios produtos. Amazon e Yahoo, por exemplo, deram ao Facebook dados para a controversa, assustadora e pouco compreendida funcionalidade “Pessoas que talvez você conheça”. O jornalista do Gizmodo, Kashmir Hill, que cobre o tema há anos, especula que, em troca, a Amazon possa ter usado a informação fornecida pelo Facebook para identificar resenhas de livros escritas por amigos do autor (a Amazon se negou a comentar o assunto junto ao Gizmodo).
Os acordos do Facebook com diferentes empresas variavam, mas, no geral, revelam que as gigantes do Vale do Silício usam os dados de seus clientes como moeda de troca para fins de ganho mútuo. Os documentos “ressaltam como dados pessoais se tornaram uma commodity desejada da era digital, trocados em larga escala por algumas das mais poderosas empresas de tecnologia do mundo”, de acordo com a matéria do Times.
Mark Zuckerberg e o Facebook sofreram com a pressão pública o ano inteiro pela forma como a empresa administrava dados e segurança, muitas vezes com o envolvimento de empresas que se beneficiariam do acesso privilegiado a estes dados. Não costumamos pensar na Microsoft, Netflix e Spotify como violadores de privacidade, mas estas ajudaram a criar e se beneficiaram de um modelo de negócios em que dados são commodity a ser usado em trocas e para obtenção de lucro.
Sendo assim, a matéria pesa não só pro Facebook, mas para todo o setor de tecnologia norte-americano, mostrando mais uma vez que o modelo de negócios – compartilhado por quase todos os grandes nomes do setor – não é um que vende produtos a consumidores, mas sim que vende consumidores a empresas. A indústria como um todo se mancomunou de forma a trocar seus dados em benefício próprio.
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