Esta matéria foi originalmente publicada na i-D .
Se você assistiu ao incrível documentário de Cheryl Dunn Everybody Street – uma história oral sobre a fotografia de rua de Nova York, contada por 13 de seus praticantes mais queridos – então já conhece Martha Cooper. A fotojornalista de 74 anos fez seu nome documentando a cultura do grafite que emergia no Bronx no final dos anos 70. É um tempo, um lugar e uma comunidade particularmente inspiradores hoje: basta sacar a série da Netflix de Baz Luhrmann The Get Down, por exemplo, ou a coleção mais recente de Marc Jacobs. (A loja BookMarc do estilista recentemente hospedou a noite de autógrafos do astro de Everybody Street Jamel Shabazz). Então, que momento melhor para uma exposição das imagens mais icônicas de Cooper?
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A nova exposição, atualmente na Steven Kasher Gallery de Nova York, reúne 30 das fotografias mais amadas de Cooper. Os retratos de cores vibrantes que Cooper fez dos artistas de rua se misturam a imagens em preto e branco mostrando a vida em Nova York na época, originalmente publicadas eu seu livro Street Play. Esses corpos de trabalho são distintos, mas profundamente interligados.
Cooper, que nasceu em Baltimore, trabalhou como fotógrafa da redação do New York Post de 1977 a 1980. Ela começou a fotografar as crianças que brincavam entre o entulho dos bairros que visitava para o trabalho. Colchões velhos viravam trampolins, hidrantes viravam fontes, cercas de arame viravam trepa-trepas. Enquanto fazia essas fotos, ela conheceu HE3, um jovem grafiteiro que morava no Bronx. Ele apresentou Cooper para a lenda da arte de rua Dondi, que a introduziu em sua pioneira comunidade criativa.
Cooper acompanhou o grupo em suas jornadas noturnas nos pátios ferroviários, documentando como eles criavam obras tão grandes. Muitas vezes eles avisavam a fotógrafa quando novas obras estavam completas, e ela corria para o Bronx para achar a locação ideal para capturá-las. Às vezes Cooper ficava sentada em cima de seu carro num terreno baldio por até cinco horas, examinando cada vagão, esperando que o próximo carregasse aquela explosão de cores.
Muitas das fotografias de Cooper preservam o que se foi. As pinturas nos vagões do metrô que ela fazia tocaia para capturar às vezes sobreviviam por apenas alguns dias, se não poucas horas. E faz décadas desde que o interior de um vagão parecia o banheiro de um bar punk. (Mas mesmo em 2017, os passageiros do metrô de NYC ainda precisam de campanhas publicitárias explicando que não devem cortar as unhas no trem nos horários de pico.) Em uma das imagens em preto e branco, duas meninas brincam numa doca decrépita de Nova Jersey, com as Torres Gêmeas ao fundo.
Outras imagens na exposição mostram momentos de Nova York que transcendem o tempo. Em uma delas, um homem pula sobre um banco de neve na sarjeta em Upper East Side (um movimento que todo nova-iorquino tenta aperfeiçoar no inverno). Em outra, Cooper captura Coney Island, apresentando – o que mais poderia ser? – gente demais. As fotos de Cooper celebram o espírito da cidade. São evidências da criatividade, improviso e resistência que emanam dos nova-iorquinos, mesmo nas circunstâncias mais adversas.
Martha Cooper está em exposição na Steven Kasher Gallery até 3 de junho. Saiba mais aqui .
Tradução: Marina Schnoor