“Big Dreams” © Graham Fink
Recentemente inaugurada, a Shanghai Tower, uma torre de cerca de 630 metros de altura e novíssimas estruturas de metal condizentes com a “cidade vertical”, representa décadas de mudanças radicais em Xangai.
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Em uma área emblemática da cidade, o distrito, com seus imensos arranha-céus como a Oriental Pearl Tower, está localizado onde antes havia campos de arroz.
No asfalto, porém, as coisas são bem diferentes. Pelas ruas, há escombros, restos de demolição, pedaços de concreto — as bases confusas desse futurismo brilhante.
Na exposição Ballads of Shanghai, cuja abertura acontece hoje na galeria Riflemaker, em Londres, o fotógrafo Graham Fink mostra seu trabalho de documentação desses locais nos últimos cinco anos.
O registro do ritmo de mudança da cidade é também uma ode ao pessoal e ao cotidiano, as vidas e histórias das pessoas que derem lugar à explosão de construções novas na China. Confira abaixo a entrevista que o fotógrafo concedeu ao The Creators Project via e-mail.
“You’ve Been Framed” © Graham Fink
The Creators Project: O que despertou seu interesse em fazer registros de Xangai?
Graham Fink: Fiquei muito excitado desde o primeiro dia em que cheguei a Xangai. Ela é como uma daquelas cidades do futuro que desenhávamos quando éramos crianças. Parece que alguém pegou aqueles desenhos e construiu aquilo tudo. Xangai é a nova Nova York.
Por que especificamente você quis fotografar os locais de demolição especificamente?
Sempre fui fascinado por esse tipo de lugar. Prédios abandonados e espaços negligenciados. Há algo de morte nesses ambientes, com histórias suspensas no éter, vagando para sempre. Esses lugares estão por toda parte na China, logo são uma parte importante da minha vida. Senti uma grande necessidade de registrá-los.
“Girl On the Roof” © Graham Fink
O que os “locais de transição” representam para você?
Por toda a China, o passado é constantemente demolido para dar lugar ao futuro. Arranha-céus gigantes, prédios de escritórios e novos tipos de residência. Como resultado, esses lugares estão em fluxo constante. Prédios abandonados são usados como tela para grafiteiros. O governo apaga suas obras, os grafiteiros as pintam novamente, então o governo as apaga mais uma vez.
Existe uma espécie de tristeza Ballardiana nesses lugares? Uma sensação de passado perdido, como na New Wave da ficção científica dos anos 60-70?
Muito pelo contrário. Vejo nesses cenários uma beleza incrível e um espírito de luta, como as plantas que, aparentemente frágeis, são fortes o suficiente para crescer através do concreto. Quando olho através das lentes, não vejo um sentido de passado ou futuro, somente o presente.
Como você representa o aspecto humano em meio ao entulho resultante das novas construções?
Através da visão de um papel de parede que resiste, desesperadamente, preso a uma parede, do desenho de uma criança em seu antigo quarto, da então cadeira preferida de alguém, tudo agora à mercê da natureza. Essas escolhas são mostradas de maneira muito clara nas fotografias e tornam esses lugares muito vivos.
“Mao Was Here” © Graham Fink
Existe algum tipo de apelo estético na demolição urbana, talvez a violência a que o cenário está sujeito, que você gostaria de registrar?
Vejo beleza nesses lugares. Acho que o principal para mim é registrar o que sobrou e dar a ele um novo sentido — as narrativas poéticas, vidas do desconhecido.
O que mais o impressionou em relação às mudanças que aconteceram nos últimos cinco anos fotografando Xangai? Como isso está representado em sua série de fotografias?
A China está mudando rapidamente. Há um desejo de ser a maior e a melhor. Essa atitude se reflete na maneira com que os chineses dirigem, conversam e até andam. Eles estão chegando — e rápido. Talvez isso esteja acontecendo às custas de muitas outras coisas, a poluição é uma consequência óbvia. Nos cinco anos em que estou aqui, a paisagem mudou drasticamente. Em Changsha, onde Mao frequentou a escola, construíram recentemente um edifício de 57 andares em apenas 15 dias. Mas para que uma coisa seja construída, outra deve ser demolida em seu lugar. Meu trabalho examina o espaço entre um e outro, após o fim e antes do próximo começo. Usei a fotografia para mostrar esse lugar e, enquanto você olha para essas fotografias, novos prédios já estão sendo construídos naquele mesmo lugar.
“Peace Amongst the Pieces” © Graham Fink
“Meeting Abandoned” © Graham Fink
“Face Off” © Graham Fink
“Twitter” © Graham Fink
Ballads of Shanghai esteve em cartaz até 14 de fevereiro de 2016 na galeria Riflemaker, em Londres.
Tradução: Flavio Taam