Esta matéria foi originalmente publicada no Broadly .
No último dia 22, milhares de pessoas trans e aliados tomaram as ruas de Brighton – uma cidade costeira do Reino Unido muitas vezes chamada de a capital queer – para a Parada do Orgulho Trans anual, a maior comemoração do país para transgêneros, intersexuais e gender queer.
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Mais de 2500 pessoas marcharam da Princes Street até Brunswick Square; muitas segurando cartazes e gritando palavras de ordem como “O que queremos? Direitos trans! Quando queremos? Agora!” Diferentemente do gigante comercial que é a Parada Gay de Londres, a Parada Trans se destaca por sua ênfase nas vidas trans – ou, como o site do movimento diz, “colocar o T em primeiro lugar”.
“Isso é orgulho de verdade, conectando pessoas e salvando vidas”, diz a cofundadora Fox Fisher. “Todo ano eu quase surto de stress e sempre juro que não vou mais fazer a organização, mas esses dias de Orgulho Trans nunca deixam de curar meu coração.”
A comunidade trans na Inglaterra ainda encara preconceito. A reação negativa dos conservadores contra o impulso para reformar o Ato de Reconhecimento de Gênero, a legislação local datada que dita os aros por onde as pessoas precisam passar para mudar seu gênero legalmente, só mostra quão longe o país ainda precisa ir.
Desde sua concepção em 2012, a Parada Trans vem fornecendo um espaço seguro e acolhedor para pessoas T e que não se conformam com gêneros binários se juntar e celebrar. Para marcar o aniversário de cinco anos da parada, a fotógrafa Sharon Kilgannon falou com pessoas trans e gender queer sobre como a vida delas mudou desde o começo da Parada Trans.
Amber Hope Evans, 29 anos, designer digital
“Cinco anos atrás, eu estava num relacionamento e ainda não era noiva da mulher que se tornaria minha esposa, de quem agora sou divorciada. Percebi que era transgênero no final de 2015, e entrando em 2016, comecei a lidar com tudo que tinha a ver com isso, começando minha transição de homem para mulher, e isso me trouxe para onde estou hoje.
Tem sido uma jornada difícil, mas interessante e excitante também. Estou muito orgulhosa de estar aqui hoje, na minha primeira Parada Trans, e estar cercada de amigos incríveis e pessoas maravilhosas que conheci pelo caminho, gente que me ajudou a me tornar a verdadeira eu, e a pessoa de quem tenho orgulho em ser – porque eu nunca soube quem eu realmente era antes.”
Vlad Remi Ashton, 21 anos, artista
“Cinco anos atrás eu estava sofrendo para continuar na faculdade, tentando fazer todos os meus cursos de arte e mentalmente muito doente. Ainda estou passando pelo processo de terapia e medicamentos. Eu não sabia que ser não-binário existia, mas sabia que estava muito desconfortável no meu corpo e não me sentia confortável como uma garota – eu descreveria minha experiência como “garota fracassada”.
Sempre me interessei em gender bender em termos de moda, maquiagem e cultura drag. Ainda estou doente, mas sofrendo menos porque não estou mais na faculdade; estou fazendo as coisas nos meus próprios termos e encontrei minha comunidade de colegas não-binários. Encontrei maneiras de me sentir mais confortável em termos de gênero e no relacionamento com meu corpo. Ainda é uma luta, é uma jornada, mas, pelo menos, agora estou no caminho certo.”
CJ Kemal Daniel Bruce, 27 anos, operador de trem
“Participei da minha primeira Parada Trans cinco anos atrás. Enquanto eu estava aprendendo a me sentir confortável e entender minha própria identidade de gênero, ainda tinha muitas inseguranças sobre a minha raça! Espaços LGBT às vezes não recebem bem pessoas não-brancas. Na Parada Trans, cruzei com um estande do grupo QTIPOC (Queer, Trans, Intersex People of Color) e juntei coragem para ir até lá e falar com eles. Desde então, estou muito mais confortável comigo mesmo e na minha comunidade!
Cresci e evoluí muito desde a primeira Parada Trans. Fiz a cirurgia, comecei a tomar hormônios, parei de tomar hormônios, e aprendi a ser mais assertivo sobre ter minha identidade respeitada e reconhecida. Agora sou um tio não-binário orgulhoso, e estou trabalhando para me tornar pai. Visitei meu país natal pela primeira vez em muitos anos, e descobri que as pessoas não achavam difícil me aceitar como sou. Tenho um trabalho que permite que eu me apresente, na questão do gênero, como eu quiser.
Considerando os últimos cinco anos, os próximos cinco para mim – e para o Orgulho Trans – serão espetaculares!”
Loretta Imogen Crinall, 19 anos, funcionária de restaurante de hotel
“Nesta época cinco anos atrás, me conscientizei da minha identidade de gênero e escolhi meu nome. Eu estava começando minha transição de maneira lenta e delibera… Eu não queria ser mais ridicularizada pelo que já era, então mudei minhas roupas gradualmente, passando por um estágio intermediário de moda andrógina. Eu não tinha treinado minha voz ainda, então ela ainda era bem grave, e desenvolvi uma disforia. Minha identidade não estava sendo reconhecida por ninguém ao meu redor; estava sendo ignorada.
Nesses últimos cinco anos, tudo mudou. Passei por tantas dificuldades, e me desenvolvi como a mulher que sou hoje. Treinei minha voz, desenvolvi meu estilo, aprendi a fazer maquiagem e o meu cabelo; trabalhei muito para meu exterior combinar com meu interior, e agora isso está quase pronto.
Tomo hormônios há 20 meses, bloqueadores há dois anos e meio, e estou no ciclo de progesterona há quase um. Eu não poderia estar mais orgulhosa de mim mesma, de quão longe cheguei, e de tudo que consegui superar. Mas mesmo agora tenho um longo caminho pela frente.”
Lilly Waite, 22 anos, artista
“Cinco anos atrás, nunca sonharia em estar onde estou hoje. Estava profundamente infeliz, passando por uma terapia desagradável que não estava ajudando, e estava no pior período de um transtorno alimentar – eu estava num lugar muito, muito sombrio. Eu tinha entendido que era trans, mas só alguns anos depois consegui fazer algo sobre isso. Finalmente comecei a transição médica ano passado, depois de fazer lentamente uma transição social nos 18 meses anteriores enquanto fazia universidade em Londres.
Me assumi e tive uma resposta maravilhosa de muitas pessoas, fiz a transição, e finalmente estar vivendo autenticamente é algo que eu queria e precisava nesses cinco anos – mas nunca me permiti acreditar que era possível.
Enquanto algumas coisas estão levando mais tempo para acontecer – e outras levando mais tempo para sumir – hoje sou quem eu queria ser quando era uma adolescente deprimida de 17 nos. Estou onde gostaria de estar e estou fazendo o que queria fazer. Estou indo realmente bem, fiz amigos incríveis e descobri uma comunidade de pessoas com quem consigo me identificar mais do que nunca. Sei que não sou a única para quem esses cinco anos parecem uma outra vida.”
Reuben George, 23 anos, assistente social para a juventude
“Nos últimos cinco anos, muito mais coisa mudou e aconteceu do que eu poderia esperar. Encontrei o amor, tive meu coração partido, mudei de casa algumas vezes – coisas normais – mas outras coisas também aconteceram. Minha madrasta morreu alguns anos atrás depois de muito tempo doente, e minha avó também morreu. Isso me fez querer me conectar com a minha família além da minha irmã e do meu pai. Isso era um desafio no passado, porque todo mundo mora no Canadá. Fui para lá no começo do ano e pareceu literalmente uma peregrinação do eu.
Os últimos cinco anos – o último ano, em particular – foram realmente importantes para mim. Me sinto mais como eu e mais confortável do que jamais achei que poderia. E isso não é só por causa da transição médica, mas porque encontrei meu lugar na comunidade e estou me sentindo conectado com as pessoas ao meu redor. São tempos difíceis, não me entenda mal, mas é libertador aprender sobre mim. Sou um homem, judeu, um assistente de apoio à juventude, um melhor amigo. Minha identidade não começa ou termina com ‘trans’”.