Fundado em 1978 em Londres, na Inglaterra, o salão de cabeleireiro CUTS logo ficou conhecido por seus cortes experimentais e pela clientela famosa que os procurava – David Bowie e Jean-Paul Gaultier eram clientes assíduos.
Um novo livro de fotos de 500 páginas celebra o legado do salão cult de James Lebon e Steve Brook. Com o mesmo nome do estabelecimento, o projeto é copublicado pela DoBeDo, a galeria de fotos do fotógrafo e cineasta Tyrone Lebon, sobrinho de James, e a Gimme 5, a lendária loja de streetwear fundada por Michael Kopelman em 1989 com apoio de James.
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CUTS, o livro, apresenta retratos casuais tirados por Brooks nos anos 90 e 2000. As fotos foram redescobertas recentemente pela diretora Sarah Lewis, cujo documentário que ela fez em 20 anos sobre o salão, No Ifs or Buts, estreia mês que vem no London Film Festival. A i-D conversou sobre o legado do CUTS com Tyrone, Michael e o aclamado fotógrafo Mark Lebon – pai de Tyrone, irmão de James e editor do livro.

Falem sobre o salão CUTS. Como ele começou e por que era importante naquela era?
Michael Kopelman: James Lebon fundou o salão em 1978 no Kensington Market, que na época era uma meca alternativa. Subculturas existiam lado a lado no KM, como punks, Teds, rockabillies e Novos Românticos. Era tudo muito jovem e de vanguarda. James fornecia os cortes de cabelo a preços que as pessoas podiam pagar. De certa maneira, o CUTS substituiu a praça do bairro como ponto de encontro. Se você queria saber o que estava rolando naquela noite, você descobria lá.
Mark Lebon: O salão ficava no porão e era do tamanho de uma caixa de sapato, só tinha espaço para uma cadeira de corte e uma pia.

Quem eram James e Steve? Como era a personalidade deles e como eles eram conhecidos em Londres na época?
Michael Kopelman: James era o recepcionista do Gaz’s Rockin’ Blues e do Language Lab, dois dos clubes underground mais hype de Londres na época. Ele era uma celebridade na cultura jovem, exalando confiança e descontração; ele foi da i-D para a Harpers & Queen e Vogue. Steve trouxe uma estrutura de negócio para a celebridade de James e introduziu produtos para cabelo inovadores e uma galeria da arte na imagem.
Mark Lebon: James tinha conexões e queria fama e fortuna, enquanto Steve queria amor e segurança. James era inacreditavelmente bonito, enquanto Steve não conseguia arrumar um namorado. Mas eles faziam um ao outro rir… Muito. E eles gostavam de aprontar e sonhar juntos.

Michael e Mark, o que vocês faziam na época? Você participavam do mundo do CUTS?
Michael Kopelman: Eu trabalhava vendendo commodities. Lembro que o James me levou para o apartamento dele em New Cavendish Street, onde conheci o Steve. O Mark estava fazendo uma sessão de fotos de moda na sala da frente com Judy Blame e modelos; era incrível. Em 1978, depois que me tornei redundante, James e Mark me deram a confiança para abrir a Gimme 5. A equipe e os clientes da CUTS usavam as marcas que eu vendia.
Mark Lebon: Eu estava saindo do meu estágio como fotógrafo de moda, vivendo em ocupações com vários artistas como Boy George – quando ele era meu stylist, antes de começar sua carreira musical. Aos sábados, eu organizava eventos de música ao vivo, dance, DJs, moda e exibições de filmes num salão de sinuca no segundo andar do KM. Isso me fez perceber que só a fotografia não era suficiente para mim e destacou o que senti que era central para minha prática: apresentar pessoas criativas. Tirei fotos do e para James, e dei a ele ideias de corte de cabelo pra mim. Ele era melhor de networking com os jovens do que eu. Ele era muito focado, eu era mais distraído.

Tyrone, quais são suas memórias mais antigas do CUTS e do seu tio lá?
Tyrone: Minha primeira memória é ver minha mãe cortando o cabelo no salão no Soho. Acho que eu tinha uns 7 anos? Quando tinha idade para lembrar de tudo melhor, o James tinha saído e o Steve assumiu. Meu tio passou para sua produtora e era diretor. Eu adorava meu tio James. Ele sempre foi muito divertido e generoso. Ainda fico meio emocionado quando penso nele.

Quem são as pessoas que foram fotografadas e incluídas no livro?
Michael Kopelman: As pessoas que Steve fotografava eram os fregueses que passavam diariamente pelo CUTS. Algumas pessoas nem usavam os funcionários, só pegavam uma máquina de cortar cabelo e fazia o próprio corte. O CUTS sempre teve uma clientela diversa, de astros pop a cineastas, artistas e pessoas da indústria da música. Em certo ponto, quase todos os editores de moda frequentavam a CUTS no Soho. Também tinha sempre alguns vigários, bombeiros e funcionários do McDonalds.
Mark Lebon: O que mais me fascina nos meus processos criativos atuais é o que se perde. Isso se reflete no livro. O Mike não está nas fotos e ele era um dos clientes mais consistentes. O James também não aparece.

Qual é o legado que vocês esperam que esse livro projete?
Tyrone Lebon: Com o filme, espero que o livro CUTS seja um registro de muito mais que alguns cortes de cabelo; esse era um grupo de pessoas e uma era em Londres. A fotografia do Steve, o amor dele por sua arte e a comunidade de esquisitões que ele construiu: a família CUTS, os funcionários e os clientes envolvidos naquela cena. E, finalmente, espero que o livro seja parte do legado de manter viva a memória do meu tio James.
CUTS está disponível na Gimme 5 e DoBeDo no Reino Unido, na Dashwood Books em Nova York e na Bueno Books no Japão.






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