A fotógrafa Lucia Sekerková sempre preferiu a arte à publicidade, mas só acabou investindo numa vida atrás das lentes depois de cruzar com um vídeo de uma bruxa romena chamada Rodica Gheorghe na internet. Na época, Sekerková estava estudando fotografia publicitária num programa de intercâmbio no ex-país soviético. “Fiquei fascinada com a riqueza que a cercava”, Sekerková disse a Broadly. “Comecei a perguntar a mim mesma se tudo aquilo era o resultado do trabalho dela como bruxa.”
Esse encontro na internet acabou rendendo a série Vrăjitoare de Sekerková, agora em exposição no Museu de Cultura Roma na República Checa. Em 2013, ela começou a fotografar as bruxas romenas e seus rituais (“vrăjitoare” é um termo romeno para bruxas que também pode ser usado para cartomantes e curandeiras). A maioria das bruxas do país é de descendência roma [o povo cigano], e muitos romenos acreditam que mulheres roma podem possuir poderes místicos e até sobrenaturais que são passados de geração para geração. “É meio que um estereótipo”, reconhece Sekerková.
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Ela queria investigar esses estereótipos fotografando bruxas de verdade na Romênia. “Decidi colaborar com a etnóloga eslovaca Ivana Šusterová – ela foca na vida cotidiana e cultura do povo Roma Wallachiano.” Sendo assim, Vrăjitoare é uma fusão de projeto fotográfico e estudo etnográfico.
Crescendo numa família cristã, a origem religiosa de Sekerková teve uma influência importante no projeto. “Eu estava interessada na divisão estranha entre cristianismo e paganismo no mundo das bruxas”, ela explica. “Religião é uma parte da minha identidade e através da fotografia, tento entender isso melhor.”
A modernização teve um impacto enorme na bruxaria da Romênia. Sob o regime comunista, a prática de magia era proibida e os adeptos podiam ser presos. Depois da revolução de 1989 e a queda do ditador Nicolae Ceaușescu, as bruxas começaram a oferecer abertamente seus serviços mágicos e de adivinhação. Segundo uma pesquisa conduzida pela socióloga Vintila Mihailescu, quatro em cada dez pessoas da capital Bucareste consultam bruxas regular ou ocasionalmente.
“Uma das principais razões para o grande número de praticantes [que existe hoje] é a internet”, explica Sekerková. “Em particular, a transmissão ao vivo de rituais é incrivelmente popular, apesar de supostamente ser um segredo. Agora você encontra instruções de rituais e feitiços nos sites das bruxas ou nas páginas delas no Facebook. Todo mundo pode aprender a prática e começar seu próprio negócio.”
Marcar uma consulta com uma bruxa é muito fácil, explica Sekerková. Você só precisa saber um pouco de romeno e ter um celular. (A amiga de Sekerková Diana Dobrescu a ajuda como intérprete.) “Elas colocam o telefone em seus perfis nos sites e Facebook. Você só precisa ligar e marcar uma hora”, diz Sekerková. “Algumas delas estão acostumadas com visitas de fotógrafos e jornalistas do mundo inteiro.”
Na verdade, a Broadly acompanhou um clã de bruxas em dois documentários. Mas Sekerková avisa que é preciso paciência para assegurar um encontro frutífero. “Se você não é um cliente em potencial ou não é interessantes para elas, pode acontecer de, às vezes – como aconteceu conosco – elas se recusem a te receber.” Uma bruxa convidou Sekerková para sua casa, depois exigiu US$ 330 pela entrevista. “Quando nos recusamos a pagar, ela nos expulsou da casa.”
As bruxas que Sekerková conheceu disseram a ela que são motivadas a usar suas habilidades especiais para ajudar as pessoas. Mas, ao mesmo tempo, elas avisaram que há golpistas no ramo. “As mais velhas nos disseram que nem todas as mulheres que se apresentam como vrăjitoare têm um ‘dom’, e nem todas aprenderam a prática das gerações mais velhas de suas respectivas famílias – que as atividades delas são motivadas principalmente por uma mentalidade de lucro.”
Ela não quis tomar uma posição sobre se essas mulheres realmente têm dons mágicos – não é o lugar dela, ela diz. Mas conviver com elas já deu uma ideia de por que seus clientes sempre voltam. “Elas são muito desenvoltas e habilidosas. Elas têm um talento para negócios, para psicologia popular ou leiga.”
Sekerková fotografou as bruxas ajudando mulheres com problemas no casamento, pais com filhos que sofriam com pesadelos, e aconselhando pessoa sobre relacionamentos fracassados. Ela diz que, acreditando em magia ou não, as mulheres fornecem apoio aos clientes: “Em tempos de necessidade, elas podem aliviar o fardo da responsabilidade, ouvir as pessoas e até dar o que elas não conseguem de seus entes queridos”.
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