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Fotos que desafiam estereótipos do povo maasai da África Oriental

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Holanda.

O povo maasai é um grupo étnico que vive na África Oriental – principalmente no norte da Tanzânia e no sul do Quénia. Graças às tradicionais roupas coloridas, aos acessórios elaborados e à tendência para carregarem lanças, são muito populares entre os turistas ocidentais que querem captar a sua ideia pré-concebida do que acreditam ser o lado “autêntico” do Continente africano no geral. A forma como os maasais são, geralmente, retratados encaixa-se no estereótipo do Continente como um lugar sem tecnologia, com mulheres e homens que vivem em cabanas e passam os dias a conversar e a caçar animais selvagens.

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Um novo livro chamado My Maasai visa retratar a etnia de uma forma menos estereotipada, resultado de uma colaboração entre os fotógrafos da África Oriental Sarah Waiswa, Mohamed Altoum e Joel Lukhovi, o fotógrafo holandês Jan Hoek e a escritora que vive no Quénia, Karanja Nzisa. “A representação desse grupo tribal diverso manifesta-se quase sempre em guerreiros aos saltos e mulheres de peito nu, que lutam contra enxames de mosquitos e olham para a câmera enquanto carregam bebés ranhosos ao colo”, escreve Karanja Nzisa na introdução da obra. E acrescenta: “[Os maasais] devem ser registados de maneira verdadeira e justa, para o mundo de hoje e para a posteridade”.


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O livro apresenta o trabalho de 20 jovens fotógrafos e artistas sudaneses, quenianos e tanzanianos, que foram desafiados a criar um retrato único do grupo étnico, num estilo visual à sua escolha. Em cada foto, o fotógrafo ou fotógrafa explica porque é que escolheu retratar os maasais da maneira como retratou. O resultado é um livro com uma grande variedade de trabalhos – desde sessões de fotos inspiradas em deusas lendárias, a estudos de como a moda e a arquitectura maasai evoluíram. “Chegou a altura de o povo desta terra reconstruir a narrativa”, escreve Nzisa, “e mostrar através da sua própria imagem como vêem os maasais modernos”.

“My Maasai” é também uma exposição, que está em exibição no Lagos Photo Festival, na Nigéria, de 24 de Novembro a 15 de Dezembro de 2017.

Vê mais fotos abaixo e lê sobre o que inspirou os fotógrafos.

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Fotos (acima e abaixo) por Mohamed Altoum, de Cartum, Sudão

Nascido e criado em Cartum, Sudão, o fotógrafo de 33 anos Mohamed Altoum interessa-se pela forma como migrantes urbanos se identificam com o lar que deixaram para trás e como reconciliam o desejo de regressarem com a vontade de se estabelecerem na grande cidade. Mohamed registou esse conflito através dos olhos de uma mulher maasai que vive em Nairóbi

Fotos por Sarah Waiswa de Nairóbi, Quénia.

Sarah Waiswa, 36 anos, é uma fotógrafa nascida no Uganda, que hoje vive no Quénia. Depois de ouvir a lenda de uma divindade feminina esquecida, de um tempo antes da religião moderna chegar a África, Sarah ficou fascinada com a ideia de como uma sociedade profundamente patriarcal podia ter uma história tão oposta a tudo isso. Descobriu que pouquíssima coisa foi documentada sobre a divindade, que diziam trazer gado do céu para a terra. Sarah regressou à aldeia maasai onde ouviu a história pela primeira vez e criou uma sessão de fotos inspirada na deusa, num sítio onde as oportunidades para mulheres são limitadas

Auto-retrato por Godlisten Meshack, de Arusha, Tanzânia.

Godlisten Meshack, 26 anos, é um maasai de Arusha, norte da Tanzânia. Para ele, não interessa o quanto se identifica com a sua cultura, tenta sempre distanciar-se da imagem tradicional ocidental dos maasais. Com a ajuda de um estudante de moda holandês, juntou elementos da moda ocidental e acessórios tradicionais maasais para simbolizar o conflito que vive dentro dele próprio

Foto por Kelvin Kiarie, de Nairóbi, Quénia.

Com este trabalho, Kelvin Kiarie, 21 anos, retratou pesadelos de um mundo distópico, dominado por vampiros maasais que matam por sangue humano – a ideia é que a sua dieta normal de sangue de vaca e leite deixou de ser suficiente. Combinando imagens compostas de maneira inteligente com uma estética sombria, Kelvin tentou transmitir ao público o seu medo absurdo e irracional

Fotos por Waithereo Wambui, de Nairóbi, Quénia.

Para Waithereo Wambui, 20 anos, os rostos das mulheres maasai fazem lembrar as modelos que via a desfilar nas passarelas e a posar nas revistas de moda – bochechas altas, maxilar angular, olhos intensos e um olhar ousado. Inspirada pela sua ícone de estilo, Victoria Beckham, combinou a estética da moda moderna com as cores vibrantes das roupas tradicionais massais, criando um look híbrido a que chamou de “rock star maasai”

Foto por June Odiembo, de Nairóbi, Quénia.

Quando uma amiga maasai se assumiu como lésbica perante June Odiembo, 22 anos, no liceu, ela percebeu como era difícil ser gay numa sociedade que não aceita a sexualidade de cada um. Agora, June dedica o seu trabalho a promover a visibilidade de grupos marginalizados da comunidade maasai

Fotos por Malcolm Nduati, de Nairóbi, Quénia.

Na escola, o artista de hip hop de 18 anos Malcolm Nduati era um grande bully – e era especialmente cruel com os seus colegas de turma maasais. Os seus amigos tinham mesmo uma alcunha para eles: “Ndaghuo”, que quer dizer tolo ou sem noção. No entanto, quando viu uma actuação de um jovem rapper maasai na sua igreja local, ficou chocado. Enquanto artista de hip hop, descobrir que havia maasais na indústria do entretenimento mainstream fez com que reconsiderasse todo o seu posicionamento. Nos últimos anos, tem trabalhando com outros rappers daquela comunidade – tanto musicalmente como com fotografia

Fotos por Ruth Moige, de Nairóbi, Quénia.

Ao crescer em Ongata Rongai, um enclave maasai nos arredores de Nairóbi, Ruth Moige, 21 anos, apaixonou-se desde cedo pela cultura. Através dO seu trabalho, quer mudar o foco da riqueza cultural da tribo para a beleza das crianças maasais

Joel Lukhovi, de Nairóbi, Quénia.

Este trabalho de Joel Lukhovi, 30 anos, é um grande exemplo do que acontece quando a paixão pela fotografia se combina com o estudo de engenharia. Ele vê beleza onde muitos não veriam – nas texturas de uma parede, nos padrões de telhados e na assimetria de uma vedação de madeira. Joel vive e trabalha entre os maasais e usa o seu trabalho para investigar o que arquitectura e espaço significam para a comunidade

Fotos por John Obiero, de Homa Bay, Quénia.

John Obiero, 24 anos, documenta as mudanças na arquitectura maasai. Acredita que essa evolução foi possível graças a diferentes factores – uma mudança no status económico, ou o desaparecimento de materiais de construção anteriormente disponíveis localmente, por exemplo. Seja qual for a razão, John notou que as casas maasai definitivamente mudaram desde a última vez que visitou uma aldeia numa viagem escolar e viu o interior de uma manyatta tradicional com os seus próprios olhos