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Tentando Deixar o Vício Para Trás: Frontman do Saint Vitus Pego Com 11 Gramas de Metanfetamina Na Noruega É Deportado

A vida na estrada nunca é fácil. Até mesmo as maiores estrelas pop e com as carteiras mais recheadas e melhores jatinhos ficam entediados em turnês. Independentemente de lotar arenas ou juntar trocados no chão do boteco da esquina, você ainda está pagando pelo preço da fama (ou ao menos das aventuras e umas geladas). A não ser que você esteja no seu melhor, você fica cansado, com dor, e possivelmente sujo. Você sentirá saudades do seu ou sua namorada, seus filhos, seu cachorro, seu banheiro – todas as suas coisas favoritas que agora estão longe, sentindo a sua falta e torcendo em segredo para que você volte antes. Você se sente só, e a solidão pode ser perigosa quando você está lá fora cercado por tentações. A solidão enfraquece sua determinação. Drogas, bebida, e pessoas bonitas que querem foder com você, mas que com certeza não são as que você tem um relacionamento são os abismos mais comuns que afligem a alma em turnê. É inspirador pra cacete ver aqueles que conseguem manter a cabeça no lugar e ficar acima dessa loucura de chegar, tocar, receber, pegar tudo e ir pra casa… Mas a alternativa a isso é familiar até demais. O vocalista do Saint Vitus e lenda do doom, Scott “Wino” Weinrich parou nas manchetes na quarta passada (12) quando a incrível notícia de sua deportação da Noruega chegou ao conhecimento público. De acordo com um post no Facebook de seus colegas de banda, ele foi detido por posse de substâncias ilegais, e apesar dos esforços do advogado de defesa norueguês, teve sua permanência banida da Escandinávia ou da União Europeia. Um jornal norueguês afirmou que a substância em questão era metanfetamina, e que 11g da substância foram encontradas na mala de Wino durante uma inspeção de rotina na fronteira. É coisa pra caralho.

Enquanto o resto do Saint Vitus (junto com britânicos do Orange Goblin) se preparam para terminar o punhado de shows restantes na Europa com uma formação improvisada, Wino já está em casa em Los Angeles. O que acontecerá a ele agora que voltou aos EUA ninguém sabe, mas o resultado possivelmente não será dos melhores levando em conta suas prisões anteriores.

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Sendo bem honesta: conheço o Wino pessoalmente, e já viajei com ele e a banda em turnês. Wino é um indivíduo incrivelmente talentoso e artístico, creditado como uma das figuras mais influentes do heavy metal. É um homem gentil e peculiar, com uma pança redondinha e um sorriso travesso, além de um interesse sadio em teorias da conspiração. O tanto de amor e respeito que ele recebe de seus fãs e colegas é formidável. É uma reviravolta cruel do destino que a banda pela qual ele é mais conhecido tenha quase o matado. O nativo de Maryland fez seu nome nos primórdios da cena hardcore de DC, enfurecendo aqueles que idolatravam a velocidade com seu jeito lento e grave de tocar, primeiro no Warhorse e então na pioneira do stoner doom, The Obsessed. Nos anos 80, ele foi até LA para cantar no Saint Vitus, contratado da SST, e gravou alguns dos mais adorados discos da banda. Wino deixou o Saint Vitus quando o The Obsessed voltou por um curto período. Poucos anos depois, a banda se separou novamente, e as coisas ficaram feias para Wino. Ele acabou passando boa parte dos anos 90 sem teto em Los Angeles, viciado em metanfetamina e álcool. De acordo com uma entrevista antiga, ele quase teve que amputar seu pé após um antigo ferimento ter necrosado por conta de negligência. Contra todas as probabilidades, ele acabou voltando para casa, na Costa Leste, retornando à casa dos pais e, de acordo com o próprio, “tido uma puta viagem de cogumelos e decidido ficar completamente sóbrio”. Wino havia decidido se dedicar à sua família e sumiu do olhar público para virar pai em tempo integral (e ocasionalmente compositor) por um bom tempo. A sobriedade durou um tempo, mas seus demônios continuavam próximos.

A história se repete de forma ainda mais malévola quando há vício no meio. A relação contínua de Wino com o abuso de substâncias foi documentada pela mídia, pelos fãs que postam extravagantes histórias sobre ter fumado um com o cara, e pelo próprio Wino. Como mencionado em entrevista recente, “acabei de sair (há oito meses) de um surto de metanfetamina de sete anos, que foi demais, e divertidaço, mas eu queria viver e ficar fora da cadeia por mim, pelas pessoas que amo, meus fãs e meu espírito. Todos sabemos que aquela droga é foda, mas eu a amava. Não uso nada agora além de coisas naturais como maconha, peiote ou cogumelos. Não cheiro cocaína (é horrível agora, e é diferente), meta ou heroína. Vez ou outra rola uma hidrocodona ou codeína, mas tenho um respeito salutar por todas as drogas”.

Ele passou muitos anos sóbrio, e em muitos outros foi ao fundo do poço. Quando Wino mete um adesivo de “troco merchandising por drogas” numa caixa de discos do Saint Vitus, ele não está brincando. Quando canta sobre as delícias do ácido na clássica “Clear Windowpane” do Saint Vitus, você sabe que não é blefe. Drogas e devassidão são tão integrantes da mitologia de Wino quanto de Lemmy ou Keith Richards. Os fãs quase esperam esse tipo de coisa dele, e o tom geral das matérias a respeito do ocorrido na Noruega é mais alegre do que melancólico. Claro que aquele mano que só canta sobre drogas o tempo todo foi pego com drogas! Esse mano do stoner chapa legal! Isso é demais, bicho. Pura ousadia. Né? Bem, não quando temos que levar em conta que estamos falando de um homem de 54 anos de idade que tenta ficar sóbrio desde a adolescência, mas cede à canção da sereia sem pensar duas vezes. Pelo menos ele parece curtir.

Avance para 2009, quando o Saint Vitus voltou. Wino estava na banda, e todo mundo pirava só de pensar em ver o grupo e os clássicos do seu baú de tesouros do doom ao vivo. Participações bem-sucedidas em festivais e um novo disco muito bem recebido vieram em seguida. A banda ia melhor que nunca, mas Wino não. Ele farreava muito e dormia pouco. Sua sobriedade ia e vinha. Em sua aventura mais recente, uma turnê com o Spirit Caravan no ano passado, vimos Wino feliz da vida em festas do SXSW e cantando de galo sobre como estava limpo. A turnê de 35 anos do Saint Vitus deveria ser uma celebração, interrompida abruptamente por um agente de imigração norueguês e um demônio que se recusa a ir embora. Após ler sobre todo o desastre, é difícil não ouvir a voz de Wino uivando a letra de “Clear Windowpane” e refletir um pouco sobre a triste realidade de tudo. “Não consigo encarar a realidade / Então voo aonde sou livre…” [I can’t face reality / So I fly back to where I am free…]

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Tradução: Thiago “Índio” Silva