“Além do Muro” foi tenso, confuso e emocionante

AVISO: Contém spoilers.

O inverno apertou para os fãs de Game of Thrones, já que o sexto episódio da sétima temporada vazou via HBO Espanha e HBO Nórdica. Assistir “Além do Muro” primeiro deve ter sido uma boa surpresa para os fãs que precisam de mais que um episódio por semana para processar a missão do incrível time do Jon Snow contra o exército zumbi. Esse episódio foi tenso, confuso em algumas partes, mas impossível de não gostar, especialmente no meio de uma semana na qual as notícias do mundo real conspiraram para criar um público desesperado para encontrar escapismo na fantasia. E parte do que ficou claro, por esse penúltimo episódio da temporada, é como um mundo conciso foi criado depois de 65 horas de televisão. Nossa familiaridade com até os menores personagens como Gendry, o ferreiro bastardo, e o sacerdote beberrão Thoros tornou a estrutura misturada de “Além do Muro”, que equilibrou grandes cenas de ação e efeitos especiais com discussões entre várias duplas estranhas, extremamente satisfatória.

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Bros Before Crows

Mas não vamos nos adiantar. Começamos planando sobre o tabuleiro de WAR de Dragonstone, ouvimos os uivos dos ventos do inverno, depois nos juntamos a nossa irmandade de sete — fora alguns camisas-vermelhas na traseira — enquanto eles progridem numa paisagem sensacional. Somos lembrados que esses personagens realmente não se conhecem, levando a quebradas de gelo entre Gendry e Tormund, o viking feliz. “Como vocês fazem para as bolas não congelarem?”, pergunta Gendry. “Se manter em movimento, esse é o segredo”, responde Tormund. “Andar é bom, lutar é melhor, transar melhor ainda.” Taí um belo lema, e com certeza melhor que a frase do Conan, o Bárbaro de mesmo efeito. Infelizmente, Jon Snow aponta que “Não tem uma mulher viva a centenas de quilômetros daqui”. O que faz Tormund sussurrar para Gendry: “Temos que nos contentar com o que aparece”. Gendry pode não ser a vela mais brilhante do candelabro, mas, como Tormund aponta, “pessoas inteligentes não vêm para cá procurando os mortos”.

Tem mais papinhos rápidos rolando na geleira, com Sandor Clegane lembrando Gendry de ser grato pelo que tem. “Esse aqui já foi morto seis vezes”, ele diz, indicando Beric Dondarrion, “e ele não fica reclamando”. Mas o melhor bromance rolando é entre Jon Snow e Jorah Mormont, lembrando o pai de Jorah, Jeor, ex-comandante da Patrulha Norturna, um homem que Jon considera como igual a seu pai em termos de honra pessoal e ignomínia da morte. Ele também oferece a espada ancestral de Jeor a Jorah, como deveria, e Jorah recusa, como deveria. Esses são os códigos de decência dos herdeiros da Patrulha da Noite: Bros before crows.

Também temos um incrível e profano interlúdio entre o Cão de Caça e Tormund, que cobre desde a beleza dos ruivos aos “olhos tristes” do Cão. A cereja do bolo é Tormund proclamando sua apreciação por eufemismos de pênis. Antes de concluir essas conversas fofas, os dois barbudos mais queridos da série comentam sua atração mútua por Brienne de Tarth. “Quero fazer bebês com ela”, diz Tormund, “Pense neles, grandes monstros. Eles conquistariam o mundo”. Mas ele está esquecendo dos traços recessivos. As crianças podem acabar saindo uns hobbits pacifistas. Independentemente disso, espero que a gente veja mesmo os bacuris Giantsbane de Tarth. Seria um baita spin-off, se todo mundo sobreviver pra isso.

Coisas desafortunadas

Mas nem tudo é camaradagem de volta a Winterfell, onde Arya relembra o primeiro episódio da série para Sansa, falando dos dias felizes de prática de arco e flecha quando o pai delas ainda estava vivo. “Agora ele está morto, assassinado pelos Lannisters. Com a sua ajuda.” Não dava pra se conter, né, Arya? Aí ela confronta a irmã com a carta que achou embaixo do colchão do Littlefinger, que a Stark mais velha foi obrigada a escrever, desonrando Ned e exigindo que o irmão Robb se ajoelhasse. Arya tinha todo o direito de ficar meio puta, mas todo mundo está mais velho e sábio desde que Ned Stark perdeu a cabeça. Arya deveria saber melhor e não jogar toda a responsabilidade nas costas da Sansa que, não vamos esquecer, sofreu abuso dos três homens mais escrotos de Westeros e merece mais crédito. Essa rivalidade fabricada entre irmãs tem o efeito de deixar o público para trás.

“Às vezes, a raiva faz as pessoas fazerem coisas desafortunadas”, Sansa diz a Arya, e esse é o problema — Arya é abastecida por indignação cheia de razão na série inteira. E isso já ficou velho. Até alguns episódios atrás, quando a Arya topou com sua loba (que parece ter reconhecido ela), eu estava acreditado na teoria de que a Arya tinha morrido em Braavos e sido substituída pela Waif sem a gente saber. Eu estava errado, mas preferia que não. Mesmo antes dela ter sido mencionada por Anthony Scaramucci no The Late Show como desculpa para o comportamento desarranjado do ex-diretor de comunicações da Casa Branca, o arco dela já tinha perdido bastante da graça. Littlefinger, por sua vez, faz o melhor para se enfiar numa cena inerte onde lembra a Sansa que Brienne jurou protegê-la, mesmo contra a irmã, que vemos depois sugestivamente rodando uma faca atrás de Sansa enquanto ela descobre sua mala de rostos (que sem efeitos especiais parecem mais o tipo que o Juiz Doom usa em Uma Cilada para Roger Rabbit). Mas Sansa enviou Brienne para uma reunião fora de King’s Landing em seu lugar, supostamente a deixando nas garras do Littlefinger e Arya imaginando “Como seria usar todos aqueles vestidos bonitos”. Não tem realmente chance desse esquema em particular dar certo para Peter Baelish, e toda essa história sobre a lealdade da Sansa é um negócio chato pacas. Mas se essa é nossa cruz para carregar em troca da batalha depois, que seja.

Há mais atração entre opostos em Dragonstone, enquanto Daenerys varia loucamente entre suas personas de rainha messiânica e má pra cima do Tyrion, que não consegue deixar de apontar a atração dela por Jon Snow. “Ele é muito baixinho pra mim”, ela diz, mas depois fica constrangida. Além do mais, ninguém tem tempo para amor aqui — logo Daenerys coloca sua roupa de inverno e leva seu dragão para uma expedição de “cavalaria ao resgate” de Jon.

Um pouco de fogo

De volta à trilha ártica ao norte do Muro, Jon Snow e Beric trocam algumas figurinhas new age sobre o Senhor da Luz, determinação e indiferença Divina. Mas não podemos passar o episódio inteiro especulando sobre os planos do céu, como somos lembrado de repente pelo motivo de estarmos aqui. Ou seja, uma horda de zumbis e um urso morto-vivo assassino. O que se segue provavelmente é a sequência mais radical e excruciante da história da série. Resumindo, Thoros perece depois de ser ferido, a espada de Beric pega fogo, nossos heróis dão o primeiro golpe depois de fazer uma emboscada para os White Walkers, Gendry é despachado para buscar reforços, e um extra fica lutando contra o ar por causa de um erro de CG. Aqui descobrimos que os mortos-vivos operam pelas regras de Zelda: Se você mata o líder de um determinado pelotão de esqueletos, o resto de desintegra. Isso não explica muito bem por que um zumbi particularmente conservado fica intacto, mas ele é a prova das mudanças climáticas que o pessoal foi lá buscar, então a turma do Jon o faz de prisioneiro.

A luta seguinte no lago congelado, onde o resto da irmandade protege seu terreno de zumbis de gelo que os cercam, só para serem resgatados no último minuto pelos dragões de Daenerys, é muito além de épica para minha capacidade de me expressar. É basicamente o enfrentamento que estávamos esperando desde a primeira temporada: zumbis do Norte vs. dragões do Sul. Maxilares se desmancham, mais camisas vermelhas são desmembrados estilo George Romero, e Jon quase se afoga antes de ser salvo pelo sumido Tio Benjen (que provavelmente não fui o único que tinha esquecido completamente).

Finalmente, numa sequência sensacional que vai ficar na nossa memória até o ano que vem, o Rei da Noite, cercado por seus cavaleiros do apocalipse zumbi, consegue um tiro impossível e arpoa um dos dragões da Daenerys, depois o tira do gelo e o reanima como um Dragão Zumbi de Gelo da Porra. Mas teremos outras questões para ficar ponderando: Cersei vai honrar sua promessa de receber Daenerys? Por que toda essa conversa sobre sucessão entre o Jon e a Daenerys enquanto ele se recupera na cabana dela? E de onde os zumbis tiraram aquelas correntes? Mas agora, com Daenerys, choramos a perda de Viserion. E vida longa ao novo Viserion. Porque perdemos um dragão no longo inverno, e ganhamos um monstro para todas as temporadas.

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