A noção de que a Geração Z tinha dado às costas para chapar o coco se tornou menos crível, com novos dados mostrando um pico no número de jovens usando cocaína, ketamina e LSD. Semana passada, o governo do Reino Unido publicou estatísticas revelando que a proporção de pessoas entre 16 e 24 anos na região que usaram qualquer droga considerada de “classe A” (como crack, cocaína, heroína, ecstasy e cogumelos) no último ano – 8,4% – é a mais alta em 12 anos.
Nos últimos cinco anos, a proporção de pessoas entre 16 e 24 anos usando cocaína dobrou, de 3% entre 2012-13 para 6% em 2017-18. Depois de uma diminuição no uso desde 2011, ano passado o uso de ketamina entre jovens triplicou comparado com 2015-16. LSD, ainda um barato de nicho comparado com a maioria das drogas, pulou para níveis de uso entre jovens não vistos desde 2000.
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Os novos números refletem descobertas da pesquisa do ano passado do NHS entre estudantes, que mostrou um aumento na proporção de pessoas de 11 a 13 anos que usaram drogas no ano anterior, de 10,3% em 2014 para 14,8% em 2016. Isso incluiu um aumento de 2% para 3,2% de crianças usando drogas de classe A.
As estatísticas foram uma surpresa para muitos observadores, incluindo eu e os autores de um relatório recente, que dizia que a Geração Z – aqueles entre 13 e 23 anos – estavam dispensando drogas, sexo e álcool em favor de comida saudável, redes sociais e os estudos.
Mas é verdade que esse aumento do uso de drogas entre os jovens não é algo saído do nada. Isso vem com uma recuperação constante recente – seguindo uma queda significativa desde o começo dos anos 2000 – do uso de drogas entre jovens e entre o público em geral. Numa estranha coincidência, parece que os britânicos começaram a usar mais drogas logo depois que David Cameron disse em 2012 que não havia necessidade de reavaliar a política de drogas do governo, com base em que usar drogas estava fora de moda.
Que mais jovens estejam usando cocaína não foi tanto um choque. A pureza vem subindo e o preço médio da grama continua relativamente baixo, mesmo com alguns traficantes vendendo o que afirmam ser papelotes de 90% de pureza a £120 [cerca de R$590 na cotação atual]. Clubes noturnos estão fechando por todo o país, mas isso abasteceu a ascensão de um novo tipo de bar de luxo, onde a cocaína parece em casa.
Ketamina já é mais estranha, e como a cocaína, sua popularidade não cresceu só entre os jovens, mas entre adultos também. A droga estava em ascensão até que uma escassez do produto em 2012 cortou o uso. Talvez ketamina de maior pureza vendida por fabricantes na dark web – além de uma ascensão da cultura de festivais e do uso de outros psicodélicos, como o LSD – tenha encorajado mais pessoas a experimentar K.
“Acho que isso mostra que temos que considerar as nuances e não se fixar nas primeiras ideias”, diz Chloe Combi, autora de Generation Z: Their Voices, Their Lives. “Sim, bebida, cigarro e outras drogas estão declinando na cultura da Gen Z, mas claramente nem todas. Em tempos de incerteza, as pessoas gostam de fugir um pouco da realidade. Além disso, a Geração Z é propensa a assumir riscos, o que pode ter ligação com esse aumento do uso de drogas.”
Combi diz que não está surpresa com o pico de uso de cocaína entre os jovens: “Estou observando uma grande aceitação da cocaína entre as classes, e isso é algo óbvio. Em alguns lugares o preço é de apenas £35 a £40 [R$170 a R$190], o que é viável para o pessoal mais velho da Geração Z e millennials mais jovens. A cocaína tem um apelo entre as classes – então jovens adultos ricos e pobres não se importam em ser vistos cheirando. Você vê desde jovens traficantes de rua a garotos bilionários da Gen Z em clubes cheirando cocaína.”
Mesmo que os novos números mostrem um aumento no uso de drogas entre jovens, isso não significa necessariamente que eles estão usando muito disso. O professor Harry Sumnall, especialista em uso de drogas da Universidade Liverpool John Moores, aponta que “enquanto mais jovens estão relatando usar certas drogas no ano anterior, parece que não há muita evidência de que isso se traduz em uso regular ou frequente”.
Sumanll aponta que dados dentro da Pesquisa do Ministério do Interior mostram que a maioria dos jovens que usam drogas de classe A fazem isso esporadicamente. Por exemplo, ano passado apenas 12,8% dos usuários de cocaína entre 16 e 24 anos disseram que usaram a droga mais que uma vez por mês, comparado com 26,8% em 2008-09.
“A queda geral no uso [desde o começo dos anos 2000] ainda se sustenta, apesar de novos dados nos lembrarem que como todos os outros bens de consumo, drogas também estão sujeitas a influências culturais, da moda e forças mais amplas do mercado”, diz Sumanll. “Por exemplo, dados de apreensão da polícia mostram que a cocaína está mais pura em anos, apesar de o preço não ter subido em resposta, e a produção internacional parece ter aumentado devido a mudanças políticas em países de produção e trânsito.”
Tendências de uso de drogas são influenciadas por mudanças, algumas em escala global e outras relativamente momentâneas. O que sabemos é que a lei tem um efeito insignificante – as pessoas vão usar drogas independente disso. É simplista demais dizer que a Geração Z se desiludiu com as drogas. Como esses números nos lembram, elas continuam aqui. Mas assim como o comércio de drogas se transformou na última década, com a explosão de diferentes substâncias e venda online, isso também pode ter acontecido com as circunstâncias em que acontece o uso. Se essas circunstâncias forem dramaticamente alteradas, seja um resultado de novas drogas ou novos modos de vida, então as tendências flutuantes que vemos desde os anos 1960 podem ter entrado num curso inteiramente novo.
Matéria originalmente publicada pela VICE Reino Unido.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.