Praticamente se escondendo da folia pré, durante e pós Carnaval, o músico soteropolitano Giovani Cidreira, 26, deu um tempo na cidade de Cachoeira, perto de Santo Amaro, lá no recôncavo baiano. “Pulei carnaval quase dez anos, quis mudar tudo dessa vez e sair da muvuca”, conta. Mesmo sendo original de Salvador, o artista passou seus dez primeiros anos em uma fazenda em Castro Alves, cerca de três horas da capital.
Apesar de nunca ter estudado música formalmente, Giovani tem banda e agita a cena local desde 2006. Primeiro com a finada banda Velotroz, depois com seu trabalho solo, lançado em 2014, o EP Giovani Cidreira. Agora, ele se prepara para soltar o seu primeiro álbum completo, o Japanese Food, que sai dia 6 de abril, pelo selo indie paulistano Balaclava Records.
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Nesta terça, orgulhosamente apresentamos em primeira mão o single “Crimes da Terra”, última faixa do álbum, que tem uma pegada folk pós apocalíptica com um pé na MPB dos anos 70. “O disco passa por várias nuances e diferentes climas porque demorei um bom tempo para deixá-lo pronto. Acho que essa música é uma das mais clássicas, ela é bem rock”, diz o artista tentando se explicar em entrevista ao Noisey. Cita também nomes como Caetano Veloso, Milton Nascimento, Baby Huey, Marvin Gaye e até Mac Demarco como inspirações.
As doze faixas do trabalho foram gravadas com o apoio da Natura Musical, durante o Carnaval de 2016, e contam com mixagem do produtor e músico carioca Diogo Strausz. “Fui para o Rio bem de doido, com R$ 300 no bolso, bati na porta dele e descobri que estávamos escutando o mesmo som na época”, relembra Giovani. Os caras estavam pirando nos canadenses do Badbadnotgood e a identificação foi imediata.
Já o tempo de maturação das músicas foi um pouco diferente até estarem finalizadas. “Foi um processo contrário. Quando eu tinha banda era normal você ir para o estúdio e todo mundo se ajudava. Nesse disco gravei as demos em casa e pedia para os caras do estúdio me seguirem”, ele conta.
O show de lançamento acontece no dia 21 de abril em Salvador, depois passa por São Paulo e Rio de Janeiro.
Antes do feriado mais amado do Brasil, conversei por telefone com o Giovani, e o artista dividiu algumas histórias de gravação do seu primeiro disco, o acaso e a quantas andam a cena independente de Salvador. Abaixo você lê a íntegra da conversa, e no player ouve “Crimes da Terra”. Segura:
Então, qual é o assunto principal de Crimes da Terra ?
Música é um lance pessoal e cada um tem sua interpretação. Para mim, pensei na nossa falta de cuidado um com o outro. Seja dentro de nossas relações, em que machucamos as pessoas que amamos com frequência, até nossa insensibilidade com coisas que deveriam nos incomodar, como a miséria e a fome por todo o lado.
Como rolou o approach da Natura Musical?
A história é a seguinte: estava na merda em Salvador. Fui então chorar para o meu amigo Tadeu Mascarenhas (que dirigiu o disco comigo) que as coisas estavam ruins e geral estava sem grana. Ele sugeriu inscrever o projeto no edital da Natura, fizemos um release, mandamos o material e rolou. A gente nem acreditou quando aprovaram. Para mim, sempre foi aquela história: acho que quem ganha é amigo do dono até passar numa parada dessas.
E as gravações em Salvador?
Começamos as gravações no carnaval do ano passado, e depois disso ainda demorou uns três meses para ficarem prontas. Tinha escrito as letras das músicas entre 2012 e 2016. Elas eram voz e violão, mas com o passar do tempo, fui escutando outras coisas e inserindo mais elementos. Depois de gravar com o Tadeu, tive a ideia de fazer a mixagem com o Strausz, lá no Rio de Janeiro. Fui pra lá de doido, com 300 reais no bolso.
Você bateu na porta dele sem avisar?
Ah, conheci o cara na hora e começamos a trocar ideia. Estávamos ouvindo o mesmo som na época, então, a interação foi rápida. Dormi na casa do Ronaldo Bastos, do Clube da Esquina, que me deixou ficar com ele por um tempo. E as coisas foram acontecendo… Aconteceu que fui depois para São Paulo, onde conheci o Ale Sater (Terno Rei) e o Rubens Adati (Vladvostock), que me levaram a um show no Breve, onde conheci o Rafael Farah (um dos sócios do selo) e a Balaclava. Então, uma coisa levou a outra.
Então o seu disco “aconteceu”?
As coisas foram acontecendo. Deixei espaço para o inconsciente e para o acaso. Ouvi vários sons da infância, onde reencontrei o Michael Jackson, o Prince e o Renato Russo. Quando paro para fazer uma música é porque já pensei demais naquele negócio. Foi diferente de quando tinha banda (Velotroz), porque você tava com seus amigos e todo mundo se via. Dessa vez, fiz o contrário. Trabalhei com pessoas que tinha acabado de conhecer no estúdio e não tinha muita amizade. Gravava as demos em casa no teclado e levava para o estúdio. Às vezes você quer que o cara coloque um barulho, “quero como se estivesse no filme ‘O Vento Levou’ ou imaginar aquela explosão do Antonioni”. Coisas que são difíceis até pra eu entender. Fazia em casa a linha de baixo, bateria, riffs da guitarra e depois levava para lá para o pessoal ir atrás.
E a galera entendia o que você queria dizer?
Na minha cabeça estava tudo pronto. Minha dificuldade foi explicar isso para as pessoas. Não tenho formação musical, então, trabalho com gestos, cenas de filmes e é um lance mais subjetivo mesmo.
Qual é a história por trás da capa e do título do disco?
Aquele lance bem diariozinho, coisas que escrevemos no caderno como rascunho, bem documental. Câmera analógica é sempre uma surpresa em questão do que vai funcionar ou não. Então, comprei uma câmera e fui dar um rolê com meus amigos. A capa é chapadona, nesse tom pastel meio esquisito com a foto centralizada. Estava no Rio Vermelho com um amigo e passou um daqueles caras que vendem CD na rua. O nome dele era Wesley e a capa do disco dele era todo amarelo com uma foto no meio. Não tinha dúvidas que tinha que ser meio parecido no meu disco. Já o nome veio da primeira coisa que apareceu e mexeu com a minha sensibilidade. A Liz, minha namorada, tinha uma banda com sete anos de idade com o mesmo nome. Quando vi um desenho dela de criança, tive a ideia de colocar esse mesmo.
E Salvador tá com uma cena massa rolando? O que você acha?
Já dizia um amigo: Salvador é uma grande universidade de cultura e de arte mas não tem mercado. No fim, o pessoal sai para trabalhar em outro canto porque o nicho é muito pequeno. Tem uma galera que vem chegando, mas tem um ranço das bandas mais antigas. Nasci lá, mas cresci em uma fazenda em Castro Alves. Voltei onze anos depois e via que a coisa era formada por aquele lance meio xiita de banda de rock. Hoje em dia, existem bandas que estão fazendo outras coisas, nem um pouco interessadas se diabo é rock ou o que for. Salvador se parece bastante com o Rio, tem um glamour no ar que é foda, mas não dá grana não.
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