O Curioso Museu da Morte do Dr. Milton

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Viagem

O Curioso Museu da Morte do Dr. Milton

Visitamos o Dr. Milton Bednarski, dono de um dos acervos mais macabros da América Latina.

Em um complexo de conjuntos comerciais e lojas na Rua José Paulino, Dr. Milton Bednarski nos recebeu em uma pequena sala ao som de um bolero que saía debaixo de pilhas e mais pilhas de papéis. À primeira vista, parece ser caso de mais um acumulador, no entanto, cada processo, livro e papel compõem um precioso acervo de crimes bizarros e outras crueldades tupiniquins que estão gravados na história do país. O Milton possui seu próprio Museu da Morte.

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Seu trabalho, fruto de cinco décadas de pesquisa e dedicação, começou quando ainda era investigador da Polícia Civil. Hoje, ocupa duas salas — a outra parte do acervo foi doada há 10 anos e virou o Museu do Crime, situado na Associação de Investigadores da Polícia de São Paulo na Rua Cásper Líbero.

Ao longo de 35 anos de carreira, 25 de investigador e 10 como delegado, Milton foi responsável por mais de 600 prisões e duas delas estão exibidas em uma de suas prateleiras na forma de cabeças de gesso, uma homenagem às duas históricas prisões que realizou: João Acácia Pereira da Costa, mais conhecido como o Bandido da Luz Vermelha, autor de mais de 100 estupros e assassinatos, e Benedito Moreira de Carvalho, o “Monstro de Guaianazes”, responsável pela morte de oito garotas nos anos 1950.

Dono de uma excelente memória, que lhe permite contar histórias com precisão, Milton ainda realiza investigações por conta própria. Inclusive, uma dessas investigações teve seu desfecho graças à sua obsessão. O emblemático Crime da Mala de 1928, em que Giuseppe Pistone matou e ocultou o corpo de Maria Mercedes Fea dentro de uma mala (que está exposta no Museu do Crime). “Era uma investigação da qual nem participei”, revela. Após décadas, Milton descobriu que, ao contrário que seu marido alegou, a vítima — grávida de sete meses — não tinha um amante, tampouco planejava ter um. O crime foi mesmo por causa de dinheiro. “Encontrei o enteado de Giuseppe, que me revelou que no leito de morte do seu padrasto estava a foto de casamento com Maria Fea, mostrando o remorso que perdurou até a sua morte.”

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Atualmente, o delegado aposentado e agora advogado criminalista está revendo os arquivos do caso da Vila Ema, no qual uma jovem de 16 anos foi estuprada até a morte por sete homens. Dois deles, Polenta e Risadinha, foram pegos por Milton nos anos 1950. “Li mais de seis mil páginas para conseguir descobrir o desfecho jurídico dos criminosos.” A obsessão de Milton pelo caso perdurou por 63 anos, fazendo-o até voltar para a cena do crime e conversar com os moradores sobre o caso. “Não sei se é loucura, mas gosto de fazer essas investigações.”

Loucura ou não, o acervo de Milton é considerado um dos maiores da América Latina sobre o assunto, recebendo diversas visitas de investigadores, jornalistas e estudiosos do crime. E tudo isso foi realizado sem nenhum subsídio particular, muito menos público.

Em meio a romances policiais, há processos cuidadosamente encadernados de capa vermelha, onde se lê “Incêndio no Edifício Andrauss”, “O Caso da Mala”, “O Caso do Poço” e mais diversos acontecimentos macabros que são conhecidos por quem tem uma curiosidade mórbida pela crueldade humana. O Dr. Milton bate cartão todos os dias nas duas pequenas salas no Bom Retiro com o objetivo de destrinchar memórias que ninguém mais tem coragem de lembrar. O seu Museu da Morte não é aberto à visitação, mas o Museu é Crime na Rua Cásper Líbero está liberado. Você pode conferir as fotos do acervo do Milton acima.

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Museu do Crime
Avenida Cásper Líbero, 535 – Luz
Telefone: (11) 3228-7489
Horário de Funcionamento: Segunda à Sexta das 08h às 17h
Entrada Gratuita

Siga a Marie Declercq no Twitter: @marieisbored