Atenção, gamers: pesquisadores acreditam que jogos de ação como Call of Duty são tão benéficos para o cérebro quanto os joguinhos de lógica — mas só se jogados com parcimônia, tá? Calminha aí.
Em um estudo publicado na revista acadêmica Policy Insights from the Behavioral and Brain Sciences, estudiosos defendem que, em alguns casos, os jogos de ação — assim como games de outros gêneros — podem ter maior impacto positivo sobre a capacidade cognitiva do que os “exercícios cerebrais” criados para esse propósito. No texto do estudo, os autores afirmam que cabe às autoridades fazer decisões mais sensatas em relação às recomendações de consumo de certos tipos de jogos.
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“A mensagem principal é que existem várias pesquisas que comprovam que tanto jogos de ação quanto de lógica afetam nossos processos cognitivos de forma benéfica”, me disse Aaron Seitz, co-autor do artigo e professor de psicologia na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.
“Em vez de falar que os videogames fazem mal e limitar o tempo que passamos na frente deles, é preciso analisar seus benefícios e suas desvantagens, de forma que possamos criar políticas mais completas”, acrescentou.
No artigo, os pesquisadores citam um caso julgado na Suprema Corte Americana em 2011, no qual os juízes discutiram se os jogos mais “explicitamente violentos” ameaçavam o desenvolvimento psicológico-social de uma criança a ponto de “justificar restrições legais para sua venda”.
Seitz, no entanto, cita pesquisas que afirmam que alguns desses jogos, como Grand Theft Auto V e Wolfenstein: The New Order, assim como jogos de outros gêneros como StarCraft, Portal 2 e Rise of Nations podem ajudar a melhorar a atenção, a percepção básica e a capacidade de fazer escolhas.
“É claro que se você passar dez horas jogando, isso vai te fazer mal. Mas pesquisas mostram que se você jogar uma hora de videogame todos os dias, é possível notar alguns ganhos cognitivos”, disse Seitz. “Esse games nos desafiam: é preciso responder a estímulos muito sutis que surgem no nosso campo de visão muito rapidamente. É preciso fazer várias coisas ao mesmo tempo — resumindo, esse jogos são uma malhação para certos sistemas cerebrais.”
“Ensinar cirurgiões especialistas em laparascopia a jogar videogame pode ajudá-los durante suas cirurgias.”
Essa malhação cerebral pode também ser vantajosa para aqueles profissionais que precisam desenvolver coordenação motora mais aguçada.
“Foi comprovado que, no caso de cirurgiões especialistas em laparoscopias (uma cirurgia minimamente invasiva), aqueles que jogam games são mais hábeis na sutura do que aqueles que passam por anos de treinamento tradicional. Resumindo, ensinar cirurgiões especialistas em laparascopia a jogar videogame pode ajudá-los nas cirurgias”, disse Seitz.
Especialistas em laparoscopia tem que olhar para uma tela enquanto completam uma tarefa, situação que Seitz compara a um jogo; em ambos os casos, diz, alguém olha para uma tela enquanto manipula um conjunto de controles.
No final, os pesquisadores defendem que os videogames são como comida: cada tipo de jogo tem um efeito diferente em nossos corpos e o resultado depende também da quantidade. Seitz afirma que todos, sejam eles pesquisadores, pais, gamers ou autoridades, precisam prestar atenção às “doses” adequadas para cada jogo.
“É preciso fazer com que os cientistas que criam essas recomendações conheçam os benefícios dos games e entendam como eles podem ser utilizados pela sociedade em vez de apenas concluir que, se o jogo tem alguma característica ofensiva, ele é automaticamente dispensável”, disse o pesquisador.
Tradução: Ananda Pieratti