O Ministério do Desenvolvimento Regional tem uma das tarefas mais complexas do governo Jair Bolsonaro: contribuir para a redução da desigualdade de infraestrutura no país, por meio de projetos de alcance local e regional, além de estimular políticas de urbanização, moradia, saneamento básicos e transportes. Reuniu duas pastas marcadas por alta rotatividade de ministros nos governos anteriores, a Integração Nacional e as Cidades.
Diante da complexidade da tarefa, a escolha de Bolsonaro deveria recair sobre um político experiente, com contatos em diversos Estados e pontes com vários partidos, certo? Bom, não na “nova era”: a escolha do presidente foi por um técnico jovem, sem vínculos partidários, cujo perfil no próprio site do ministério não passa de três parágrafos.
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É por lá que sabemos que Gustavo Canuto é paranaense de Paranavaí, formou-se engenheiro de computação na Unicamp e foi aprovado num concurso público para o Ministério do Planejamento, na carreira de especialista em políticas públicas e gestão governamental. Já vivendo em Brasília, cursou Direito numa universidade privada e, desde 2015, passou a ocupar postos de gestão por indicação: primeiro foi chefe de gabinete do Ministério da Integração Regiional, depois secretário-executivo e, por fim, nomeado por Bolsonaro para ocupar a nova pasta.
Até agora, Canuto pouco tem feito para se tornar conhecido. Não usa as redes sociais no padrão bolsonarista, preferindo divulgar suas ações apenas nos perfis oficiais da pasta, e vem trabalhando diretamente com governadores e prefeitos do Nordeste, justamente a região cujos líderes de esquerda Bolsonaro atacou já nos primeiros dias do governo. Desconhecido, porém aparentemente esperto, o ministro vem agindo na mesma forma que seu colega de Infraesturutura, Tarcísio Freitas, que adota uma postura técnica e de diálogo. Um dos raros casos de ministro, até agora, que sabe o que está fazendo.
É bom que saiba mesmo, pois sob as ordens de Canuto estão projetos de grande importância para o país, como a conclusão da transposição do Rio São Francisco, que está praticamente pronta depois de mais de uma década de obras, e que agora tem outro pepino a ser resolvido: quem vai arcar com os custos de manutenção do projeto, estimados na bagatela de R$ 600 milhões por ano. Canuto esteve no começo deste mês em Recife para discutir o time com o governador pernambucano, Paulo Câmara (PSB).
Obra gigantesca iniciada no governo Lula e parcialmente entregue por Temer, a transposição foi prometida por quase um século e idealizada pela primeira vez nos tempos do império. É considerada uma das alternativas fundamentais para combater a seca, um dos grandes males do Nordeste e tema fundamental nas preocupações do ministério – mas, para isso, precisa de manutenção adequada e de uma série de ações paralelas, como a preservação das nascentes. Uma das preocupações recentes é evitar que rejeitos de mineração que eram contidos pela barragem que cedeu em Brumadinho cheguem ao rio e possam prejudicar o abastecimento no Nordeste.
Mas não é só o Nordeste que está sob a alçada de trabalho de Gustavo Canuto: Norte e Centro-Oeste também contam com fundos de desenvolvimento que oferecem incentivos fiscais a empresas e produtores, com o objetivo de reduzir a desigualdade econômica entre essas regiões e o Sul e o Sudeste do país. E mesmo nas regiões mais desenvolvidas há cidades que ainda sofrem com falta de serviços fundamentais, como saneamento básico e moradia – a pasta assumiu, por exemplo, a gestão do Minha Casa Minha Vida. Tanto que a pasta conta com um gordo orçamento, estimado em pelo menos R$ 6 bilhões.
Não por acaso, ministros que ocuparam as pastas de Cidades e Integração nos últimos governos foram alvos de denúncias de desvios, casos de Mario Negromonte e Geddel Vieira Lima. A presença de um ministro até agora ileso de denúncias e associações com grupos políticos, nesse sentido, é uma notícia boa. Resta saber se seguira assim e se ele conseguirá fazer o trabalho andar.
Nome: Gustavo Canuto
Idade: 40
Ministério: Desenvolvimento Regional
Formação: Bacharel em Engenharia da Computação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); e em Direto pelo Uniceub (Brasília)
Partido: nenhum